A propósito do projecto para Monte Santos
Centro histórico: tratar do lixo
(continuação)
Há dezenas de anos que o Netto ruína agravada cada dia que passa. De vez em quando vamos tendo notícia de que determinada entidade estaria interessada num negócio cujos contornos se ignora. Sabe-se, isso sim, tratar-se de um edifício que goza da mais privilegiada implantação, certo é que com alguns problemas por resolver no sentido de se tornar em mais uma moderna unidade hoteleira que Sintra não pode dispensar.
Vale a pena uma pessoa acercar-se e tentar perceber o que ali ainda está. Se, a partir da frontaria, subir a rampa a caminho das instalações ocupadas pela GNR, chegará a um elevado patamar onde, assomando ao muro, entenderá os limites do edifício, que terreno disponível ainda existe e o importante desnível que vence aquela triste e desprezada construção.
Voltando ao ponto inicial e fazendo o percurso inverso, em sentido descendente, à medida que vai dando fugaz espreitadela aos tectos de um salão onde ainda são visíveis interessantes estuques, adquire uma melhor noção das proporções, nomeadamente daquele inesperado volume de cinco andares, debruçados sobre a pacata Rua Conselheiro Segurado.
Imagino o desafio que possa constituir para bons arquitectos. Todavia, há coisas que não consigo imaginar. Por exemplo, que letargia terá perdurado ou, vá lá, que iniciativas terá desenvolvido a edilidade sintrense, ao longo de tantos anos, no sentido de cativar o interesse de promotores turísticos e hoteleiros para este espaço. Que estudo, que diagnóstico de situação, que projectos, que incentivos, que contrapartidas terão estado em jogo?
Monte Santos
Com particular acuidade se colocam estas e muitas outras interrogações, numa altura em que o actual executivo autárquico indicia preocupante afinidade com o projecto de construção do hotel e umas dezenas de moradias em Monte Santos. E é o próprio Presidente da Câmara que, preocupado com a falta de alojamento em Sintra, dá a entender a inevitabilidade de aquele reduto e quedo santuário da freguesia de Santa Maria e São Miguel se render à natural cupidez dos promotores de tão fácil empreendimento…
Porque ceder a um tal projecto? Porque aceitar a perturbação e o desassossego num ambiente de encanto que pode continuar intocável? A propósito, aposto que muitos leitores não conhecem o lugar. Aconselho o passeio. Subam, aproximem-se do notável miradouro, beneficiem da calma, da placidez e fascínio do lugar que o meu saudoso amigo Pinto Vasques tanto tinha no coração.
(continua)
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