[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 27 de junho de 2008

RDP dois,
sinais dos tempos...

Há uns dias, uma boa amiga partilhava comigo o desgosto que, actualmente, muitos antigos e fiéis ouvintes da RDP 2 manifestam em relação à evidente falta de qualidade de alguns programas da designada rádio clássica. E, conhecendo-me tão bem como, aliás, se deve depreender dos escritos que costumo propor-vos, perguntava-me porque não escrevia eu acerca do assunto.

Como, de facto, a aludida falta de qualidade foi algo que logo se começou a notar – ainda no tempo do Acordar a dois, precisamente desde a altura em que se aposentou João Pereira Bastos, o anterior director da Antena Dois – o lapso de tempo é já tão longo que lembrei a essa minha amiga que, na realidade não podia ter deixado de expressar a minha opinião. E fi-lo, relativamente cedo, mal me apercebi da impreparação de quem substituiu aquele notável profissional e colaborador do canal cultural da rádio pública.

Várias horas de programação, três no começo da manhã e mais duas (depois reduzidas a uma) ao fim da tarde, passaram a estar cheias de imprecisões, de falta de rigor, fartas nas adjectivações em que são férteis todos os ignorantes que conhecemos. Foi um verdadeiro choque. E, para que não houvesse quaisquer dúvidas, imediatamente nos apercebemos de que não era coisa esporádica. A asneira instalava-se, nem mais nem menos, através da própria chefia…

Estávamos habituados a sintonizar uma estação onde sempre se cultivou o equilíbrio, uma certa elegância e sofisticação, a partilha de uma informação cultural actualizada, disponibilizada por colaboradores da mais alta craveira, dirigidos por pessoas do calibre de um Engº João Paes, por exemplo, com quem todos aprendemos ao longo de dezenas de anos de emissões. Pessoalmente, tenho dívidas enormes à RDP, à anterior EN, ao programa dois, desde criança, desde que me conheço.

É uma casa com um património de grande dignidade, à qual muitos de nós devem uma significativa parte da sua formação cultural e gozo da grande Arte, uma casa que, de um momento para o outro – sinais dos tempos… – ficou nas mãos de uma direcção ocupada por gente sem qualquer passado cultural, sem qualquer mérito, destituída de quaisquer créditos para o ouvinte tipo da Antena dois.

Primeiramente, recorri ao telefone. Estava habituado a essa prática. Durante anos, sempre foi por aquele meio que, por exemplo, contactei com a Judith Lima, ou Jorge Rodrigues, muito estimáveis pessoas e excelentes profissionais (que, entretanto, sintomaticamente, abandonaram a estação…) com quem trocava impressões, fazendo sugestões, dando o ânimo de que careciam, sempre que me apercebia de que algo não estava a correr tão bem como mereciam.

Mas, infelizmente, diferentes passaram a ser as razões que me levaram a procurar o contacto, em especial, relativamente ao referido período da manhã com o programa Império dos Sentidos e ao da tarde, Linha do horizonte, que substituira o Ritornello. Frequentes foram as vezes que marquei aquele conhecido número de telefone, para chamar a atenção e corrigir certos detalhes, sempre que me apercebia que, com a maior desfaçatez, com a maior ligeireza, o próprio subdirector incorria em menores ou maiores erros, em apreciações valorativas da maior vacuidade, sem qualquer substância.

(continuação)

2 comentários:

Anónimo disse...

Cada vez mais estou convencido que este país entro numa decadência acelarada e irrversível.Como maestro e pessoa ligada às artes desde sempre tenho assistido ao embrutecimento colectivo deste povo. Ainda há pessoas com alguma coisa na cabeça, mas essas não têm (nem querem) ter o poder. A democracia é óptima se a maioria fôr culta e esclarecida. Como a nossa maioria é bruta e analfabeta, o resultado está à vista. Os programas ditos "intelectuais" passam às duas da manhã na televisão, no horário nobre só há telenovelas brasileiras, e a unica rádio que nós podíamos ouvir a RDP2 degradou-se acelaradamente sem qualquer explicação.Todos os programas interessantes e de referencia desapareceram.Os musicos devem fazer musica e os politicos politica.Não se pode dirigir uma estação deste tipo politicamente. Tem de ter profissionais qualificados, que vão para lá por mérito e conhecimento e não porque são do partido, ou outras coisas que muito bem conhecemos.Que país triste, cada vez mais inculto e analfabeto.

Anónimo disse...

Pobre João Chacado tudo o atormenta.
Que tal ir pintar o prédio onde mora que bem precisa de uma pintura para melhorar o aspecto?.
JD.