[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 20 de junho de 2008

Seteais, última hora

Resolvi interromper a publicação, ontem iniciada, do texto subordinado ao título Seteais, estratégias de comunicação, no sentido de vos dar conta de um facto relacionado com as obras em curso em Seteais ocorrido esta manhã.

Primeiramente, no entanto, preciso é que contextualize a notícia. Como já tenho escrito, só quando não estou em Sintra é que não passo diariamente por Seteais. Daí que ninguém estranhe a circunstância de me aperceber quotidianamente do que é possível concluir a partir dos movimentos distinguíveis.

Já há algumas semanas que o antigo tanque, visível a partir da estrada que bordeja um dos limites da propriedade, está sendo objecto de grande intervenção. Tanto quanto me é possível saber, apenas por directas perguntas aos operários que ali trabalham, aquilo que era tosca construção está a transformar-se num grande depósito de água.

Para o efeito, na realidade, tenho assistido ao movimento que poderão imaginar. Hoje, por exemplo, estava a concretizar-se mais uma – julgo que a segunda – significativa trasfega de betão, com três betoneiras aguardando a vez. De facto, como hão-de calcular, tentei saber que autorização e pareceres do IGESPAR, que, como já estão ao corrente, faz o acompanhamento técnico da recuperação do palácio, estarão a montante desta específica obra.

Queria saber, andava em investigações e não pretendia escrever fosse o que fosse sem ter certezas. Contudo, ainda na ignorância, resolvi que hoje tinha de partilhar esta preocupação convosco porque a tal operação de fornecimento de betão deu origem a um acidente, infelizmente com um ferido cujo estado não estou em condições de poder informar.

Conhecem aquele veículo verde, tractor com um ou dois atrelados, que costuma fazer o circuito entre a sede do concelho e Monserrate? Hoje de manhã, cerca das dez horas, ao passar pelo local, no sentido Seteais-Monserrate, mesmo na curva à quota alta sobre o tanque, obrigado a tomar a faixa esquerda, porque a direita estava ocupada com a trasfegadora de betão, sentindo dificuldade em continuar o percurso, já que o tejadilho do atrelado batia no tronco de uma árvore, o seu condutor saiu do lugar, provavelmente para estudar melhor a manobra mas, parece, com o veículo mal travado que, descaindo, o empurrou contra o muro.

Tanto quanto me apercebi, terá havido falha de segurança. Reparem que, em lugar tão difícil, vencendo assinalável desnível, a manobra de várias betoneiras é uma operação crítica e sofisticada. Mas há uma empresa à qual compete concretizar as obrigações decorrentes de situações que tais. Desconheço se tudo se terá processado de acordo com as regras. Desconheço, por exemplo, se era necessário que a autoridade policial estivesse presente para dirigir o trânsito tão alterado. Fica no ar, portanto, a questão de apurar se terão sido mobilizados todos os meios materiais e humanos adequados.

Quando eu próprio passei, apenas verifiquei que o homem estava estendido no pavimento e havia alguém que lhe aplicava um pacho com qualquer produto. O que não consegui, foi aperceber-me se algum elemento da tal empresa de segurança, envolvida com o Grupo Espírito Santo na recuperação do Palácio, estaria presente antes do acidente e, se afirmativo, terá feito o que lhe competia para que o motorista não tivesse incorrido em manobra que lhe podia ter sido fatal.


Conclusão

Tudo isto se passa à volta de uma obra que, minimamente, é algo controversa. Sei que a própria Parques de Sintra Monte da Lua já terá manifestado preocupação com a natureza e características destes trabalhos em curso, com toneladas de betão à mistura, executados num bem patrimonial que lhe passará a estar totalmente afecto a partir de Agosto próximo.

Afinal, infelizmente, a controvérsia não se limita ao encerramento dos portões. Sempre quero ver que explicações nos poderão ser facultadas. Vamos lá a ver se, quem de direito, passa a encarar o caso de Seteais não como uma teima de um grupo de munícipes fundamentalistas mas como uma questão séria, altamente significativa e simbólica e não um qualquer fait divers

2 comentários:

Unknown disse...

Pois meu caro João Cachado...pois.

Veja bem que, nas minhas fabulações, pensei que ainda iriam construir uma piscina no jardim de Seteais, provavelmente com protecção adequada para que o público não veja os esbeltos corpos que por lá andem.

Enfim, tudo isto não passa da minha imaginação e o IGESPAR está atento pela certa.

Deixando o imaginário, não posso deixar de admitir que, a curto prazo, os nossos autarcas não deixarão de mostrar a sua firmeza ao lado do público e das populações, seguindo o exemplo de muitos outros que - em tentativas quase semelhantes a esta - até levaram ao toque a rebate dos sinos de Sintra.

No fundo, está a ser vedado o acesso a um bem património do Estado.

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,

Hoje fiz como o meu amigo e fui de caminho a Seteais. Queria ver o tal tanque e fiquei apalermado. Nunca pensei que fosse uma coisa daquele tamanho. Mas é uma construção totalmente contrária à natureza do lugar onde antes só havia um tanque semelhante ao de tantas quintas.

Mas quem autorizou uma tal obra? Escreveu o meu amigo que o IPAR está envolvido na recuperação. Custa a aceitar que desse licença para uma aberração daquelas. A empresa Monte da Lua não tem a ver com o assunto? Infelizmente tudo é possível nesta terra de ignorantes.

Só espero que a Câmara de Sintra e o IPAR se expliquem. Por favor não pare com a sua luta e denúncias. Um abraço e saudações amigas,

H. Pontes (Banzão)