[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Seteais,
espaço nosso de cada dia


(conclusão)

Estou em crer que, se a PSML encarasse esta mesma ou congénere hipótese de trabalho, daria um sinal evidente de que o terreiro de Seteais é um espaço da comunidade, de pleno acesso à beleza, à informação e à cultura, local onde cumpre garantir a possibilidade de uma leitura clara, abrangente, global e dinâmica, em articulação com a sua envolvente paisagística, ou seja, do património que tanto nos move e nos comove.

Finalmente, importa ter presente que a concessão de Seteais nem tudo concede… Aliás, não podia fazê-lo. Seteais, herança nossa, propriedade virtual, joga com a própria dignidade de cada um, enquanto herdeiro de tal bem, e com um conjunto de valores perenes, imateriais, não transaccionáveis. Claro que, ao contrário do que recentemente tem acontecido, com estas coisas, convém não brincar…

PS:

No local onde existiu um ingénuo tanque, continua e deve estar a acabar a inqualificável obra de construção, em betão, de um depósito de água que, há uns meses, tanto preocupou o Conselho de Administração da PSML, ao prever o incómodo que enfrentaria quando a concessão de Seteais fosse protocolada.

Agora, uma vez que tal já aconteceu, estamos todos na expectativa de saber o que temos direito. Para já, tanto quanto é possível prever, a partir dos actuais indícios, está em curso uma operação de cosmética, coroando o despautério com um espelho de água. Até já vos tinha dado conta disto que, diariamente, confirmo quando por ali passo.

4 comentários:

Anónimo disse...

Caro Senhor João Cachado, sou daquelas pessoas que não acreditam em bruxedos, mas sim que alguém deles se aproveita.
Se não fosse o meu amigo a falar de Seteais, teimosamente e de forma tão dedicada, quase que o assunto morria, assim tão suavemente como um passarinho que dá o último pio.

Não sei porquê recupero aquela interessante cerimónia da reposição da Cruz na Cruz Alta, nas desilusões que poderá ter criado em quem possa ter ido até lá de peito feito, isto é, de discurso quase feito, sem que o auditório chegasse a apreciá-lo.

São coisas da vida e, julgando eu que nada se passa por acaso, uns dias depois acabava aquele interessante transporte turístico que me levou duas ou três vezes a Monserrate, onde recordei outros tempos de namoro e de felicidade. Julgava até que era para durar aquela feliz opção.

De caminho,sentado na "carruagem", voltava a ver aquela ofensa pública que foi o fechar do portão de Seteais aos visitantes e, ao dar a curva, as obras (famigeradas) que quase destruiram o antigo e histórico tanque.

Acabado o transporte, muitas centenas de pessoas deixaram de poder ver os crimes, as ofensas ao que é de todos nós e os responsáveis ficam protegidos das críticas.

O Senhor compreenderá melhor as razões dos silêncios e a quem servem estas situações bem caladas.

Estranho é que, um amigo comum, me tenha recordado que havia aqui por Sintra qualquer coisa como uma associação que defendia o património. Mas como é possível que, até agora, nada tenha transpirado da sua actuação sobre esta matéria?

Acredite que é minha convicção que tudo está ligado, daí o meu apreço pela sua luta e, estou certo, do Professor Lamas, pelas voltas que andará agora a dar no sentido de evitar todas estas coisas que nos desagradam.

Tivessemos nós alguém a gerir a nossa terra com verdadeiro amor e tudo seria diferente.

Com respeito,

Diogo Palha

Anónimo disse...

Não deixa de constituir uma certa perversidade que amanhã - 1 de Outubro - se reúna no Centro Olga Cadaval a Aliança das Paisagens Culturais, Património da Humanidade, onde participará a Unesco, a tal que até ao momento ainda não respondeu (até por uma questão de educação administrativa) a quem lhes escreveu sobre o Tanque de Seteais.

E o Presidente de tal Aliança quem será? Que chapéu empolgado terá no momento do seu discurso? Olhará para o lado a ver se lá está algum daqueles que lhe tem manifestado o repúdio pelo que se está a passar? Corará? Fingirá que não sabe? Gesticulará caso anuncie a criação de uma qualquer comissão para estudos estratégicos para os próximos 20 anos da Aliança? Cá por mim, ainda irão visitar Seteais, ser recebidos pelo grupo hoteleiro e passar ao pé do tanque, enquanto algumas flautas tocam no outro lado.

Sintra do avesso disse...

Caro Diogo Palha,

Pois é, tudo está tão intrinsecamente ligado que só pode ser «cruzada» a leitura que fazemos das coisas que vão ocorrendo, nesta desprotegida Sintra.

Do geométrico lugar de tal «cruzeiro», apenas distingo a sucessão dos negativos episódios, confirmando como, infelizmente, a única coisa significativamente motora e permanente é a feira de vaidades que gera a glória vã e efémera, conduzindo a nenhures...

Não, meu caro Diogo Palha, não é negativismo militante. Longe disso, longe de mim! Sabe quem me conhece, como é, precisamente o contrário, aquilo que me caracteriza e determina, ou seja, um optimismo que me leva a lutar e a não deixar caír os braços.

Permita-me que salte do sintrense quadro de referência para o mais alargado domínio do país. E não posso deixar de me espantar, isso sim, perante o exemplo de uma grande maioria de decisores da res publica que, através dos seus óculos cor de rosa, se afirmam confiantes, optimistas e lúcidos para, a contrario sensu, embarcarem nos conhecidos quadros vivos de pouca higiene e decência cívica a que nos habituaram...

Sofremos as consequências da entrega do poder a uma medíocre classe dos políticos, no quadro de um perverso jogo democrático. Sem controlo cívico, essa gente empobrece-nos, esquece os perenes valores da dignidade, a troco de uns pratos de lentilhas, dando os piores exemplos às crianças e jovens das cidades e do país que (des)governam.

Quase a finalizar, compreenderá a razão porque roubo e invoco as palavras do último parágrafo do seu comentário:

"(...) Tivéssemos nós alguém a gerir a nossa terra com verdadeiro amor e tudo seria diferente."

Não tenha dúvida, Diogo Palha, não tenha dúvida. Mas, concordará comigo, o «verdadeiro amor», pouco será se não pressupuser a competência, a autoridade, a dignidade, o descomprometimento.
Por outras palavras, se o «verdadeiro amor» não for o serviço do outro, então nada é.

Um abraço do

João Cachado

Sintra do avesso disse...

Meu caro Fernando Castelo,

Na verdade, que ironia! É assim que se afirmam e confirmam as designadas «tretas»...

Perdoará o meu amigo que, tendo eu acabado de redigir e publicar o comentário de resposta a Diogo Palha, o remeta para as palavras que ali subscrevi.

Deixe-me saudá-lo cordialmente, por ter voltado a estas páginas que, não duvide, muito devem à pertinência das suas frequentes intervenções.

Por tudo lhe fico muito obrigado.

Um abraço grande do

João Cachado