Mais poeira para os olhos?
Miguel Carretas, da CDU:
“Não estaremos a permitir um projecto de construção imobiliária a cavalo de um Projecto de Potencial Interesse Nacional (PIN) apoiado pela Câmara para que possa ser adquirido direito de construção? A Media Capital irá adquirir 50 hectares por um valor simbólico de 1000 euros, mas a área em questão é maior. Trata-se de um terreno de cerca de 200 hectares, 50 deles em reserva ecológica e agrícola, e é esse nesse espaço que se pretende instalar a Cidade do Cinema, um projecto PIN. O protocolo celebrado com a autarquia pressupõe uma candidatura aos projectos PIN e a elaboração de um Plano de Pormenor, condições sem as quais o projecto poderá não avançar. Quando este plano tiver de ser aprovado por esta assembleia, vamos assistir a uma chantagem política, porque quem votar contra será acusado de não querer desenvolvimento para Sintra”.
Fernando Seara, Presidente da Câmara Municipal de Sintra:
Nenhuma questão respeitante à Cidade do Cinema será desenvolvida sem vir à Câmara e à Assembleia Municipal. Não permitirei que em alguns casos seja aprovado o PIN e qualquer operação urbanística e noutros não seja, na margem norte ou na margem sul, no Algarve ou no Litoral Centro. Se cumprir as regras, será aprovado e os outros mecanismos terão que ser aprovados pela Assembleia Municipal”.
[última reunião da Assembleia Municipal de Sintra]
Hoje, dia 4 de Dezembro, não se fala noutra coisa. Uma das mais controversas situações é, naturalmente, a que se prende com a hipótese de concretizar um projecto com esta escala e características em área classificada como reserva ecológica nacional. É inconcebível a ligeireza com que uma autarquia, cujo executivo se reclama de prudente e lúcido, se permite avançar para uma polémica deste calibre.
Que o território deste concelho é dos mais apetecíveis a nível nacional e internacional, para a promoção de negociatas de alto nível, já nós sabemos há muito tempo. Se bem recordados estão, ainda no consulado de Edite Estrela, coisa parecida nos bateu à porta. A famiigerada Sintralândia, que foi dada como facto consumado, também chegou a ser protocolada e tudo o mais.
Dessa vez os signatários eram mais institucionais, ou seja, a Câmara Municipal de Sintra e o Ministério da Defesa já que os terrenos, também classificados, eram pertença da Força Aérea. O grande promotor era uma multinacional, a Cameron International, que ficou a ver navios porque, espantem-se, o Prof. Fernando Seara, muito discreta e eficazmente, acabou com qualquer hipótese de concretizar o negócio de um parque fantasia de duvidosos contornos.
Agora, o mesmo edil, não considera qualquer inconveniente em patrocinar a Cinelândia. Enfim, para quem não está disposto a admitir dualidade de critérios, é algo caricato... Igualmente, não deixa de ser curioso que, em ambas as circunstâncias, se tenha invocado o grande argumento dos postos de trabalho que se geram. Sabem que mais? Se, para gerar postos de trabalho, uma comunidade se dispõe a dar de barato valores tão especiais como os que estão em causa, então não passa de nítida forma de abastardamento, de claro aviltamento.
Se a Sintralândia foi ontem, hoje são o Pego e a Cinelândia. Por extensão de abrangência, também o hospital que não aparece, ou a universidade que se vê por um canudo. E ainda os desmandos na zona de Seteais, a desgraça do centro histórico - criminosamente a caír aos bocados quando, diz-se insistentemente, podia estar a ser beneficiado com verbas provenientes do jogo - o estacionamento que não se resolve nem se vislumbra...
Não acham mesmo que o crédito para este negócio já se esgotou? Não acham mesmo que, para este peditório... Não basta de poeira para os olhos?
6 comentários:
Caro Professor,
A atitude de “mandar poeira para os olhos” é irmã de outra que é o “chico-espertismo”. Na verdade é o que estes senhores são: uns chico-espertos que fazem da sua acção o enganar (ou tentativa de) as pessoas.
Mas são somente Chicos, porque se fossem Espertos aproveitavam as viagens que fazem ao estrangeiro para ver os jogos de futebol, quer da nossa Selecção, quer do clube que gostam (fazendo referência à história que contou nos comentários do artigo anterior, e atenção que eu também gosto de futebol mas de outras coisas também) e aproveitavam os conceitos de organização e estruturação dos sítios onde passam.
O Presidente da Câmara até esteve no último campeonato da Europa realizado na Áustria e na Suíça. Poderia ter passado por Lucerna e visto estacionamentos verticais que em nada chocam com o espírito do local, por sinal também classificado pela UNESCO. Ou poderia ir a Londres (penso que já lá esteve) assistir a um jogo de futebol a sério e ver como o antigo Mayor, Ken Livingstone, resolveu o problema das acessibilidades a 10 milhões de pessoas. Mas caso ache impossível adaptar conceitos de cidades à nossa Sintra, poderia ir aqui ao lado a Espanha, até aos Picos da Europa, ficar um fim-de-semana em Cangas de Onis e verificar a forma como aquela pequena vila está organizada para receber o turismo e para satisfazer os seus habitantes.
Sabe Professor, aquele episódio que assistiu na Assembleia Municipal a mim não me estranha nada. Há uns 2 anos uma pessoa minha amiga teve uma reunião com o Presidente da Câmara e a páginas tantas, quando esse meu amigo lembrou a importância de um certo imóvel ser preservado no contexto do património em que se insere, obteve a seguinte reacção de “chico-esperto”: “Pois, é tudo património. O que vale é que nesta terra é tudo património.”. Resultado? Hoje o imóvel está ao abandono, sendo mais um a cair aos pedaços.
Enfim, o “chico-espertismo” pode ser considerado feitio. Se a isso adicionarmos défice cultural e de bom gosto, então temos o que assistimos diariamente. Mas esses défices como sabemos é um mal do nosso País. E acredite: Não estou a fazer-me de “chico-esperto”
Cumprimentos,
Ricardo.
Não gostaria de recorrer ao dicotomismo, mas não vislumbro outra forma de manifestar as minhas opiniões sobre o que se passa em Sintra.
Começaria pela importância que Sintra tem enquanto autarquia e como local histórico de valor muito relevante, pois não embarco naquelas belas palavras de ser um "local único". É único como são únicos quase todos os locais que, por esse mundo fora, nos é dado conhecer.
Como autarquia, envolvendo mais de meio milhão de pessoas residentes (só falta um Grupo de Trabalho para apurar, com rigor, o número de ilegais e clandestinos que para cá vieram por incentivos demagógicos e populistas) não pode ser gerida por assomos ou preservação de imagem.
Estranhamente, num concelho com tanto motivo de investigação e matéria para noticiar, a grande parte dos órgãos de informação parece que passam de lado, ou melhor, deixam a idéia de que alguém ou alguma central os pretende coordenar no que deve ou não ser dito.
Repare-se que o ridículo das sucessivas alusões a clubismos, quanto a mim pouco próprias quando deixam de ter graça, não é divulgado, tal como tanta e tanta coisa. Daí termos Hospitais que nunca são, ciclovias que já eram, piscinas a rodos a que se alternam as pseudo-dificuldades por falta de dinheiro.
Uma das maiores provas de como se criam ilusões é aquele vergonhoso estado das casas pombalinas, ali mesmo na encosta da Volta do Duche. Pintaram-se uns panos que terão sido bem pagos, para esconder a sucessiva degradação das casas que são propriedade da própria Câmara. Ainda falaram num museu...
E como as coisas poderiam ter sido diferentes, se a opinião de munícipes desinteressados em benefícios pessoais tivessem sido tomadas em conta.
Por hoje, com um familiar que anda há três dias em bolandas entre hospitais (ele também acreditou que um Hospital ia ser construído em Sintra, ali perto do Ramalhão...) acabarei aqui esta breve opinião.
Mas o tema não acabará. É preciso abordar-se o tema dos dinheiros do Jogo que a Câmara deve aplicar no Centro Histórico e ir-se mais longe sobre quanto foi destinado a Sintra, quanto foi recebido e onde aplicado. Ou porque não foi aplicado.
Por certo irão permitir que retome a minha anterior intervenção, ainda relacionada com o dicotomismo.
Será que a moral pública é oponível à moral do público? Isto é, não terão os cidadãos o direito a lutar pela consolidação da moral dos políticos, obrigando-os ao cumprimento das regras básicas da transparência e ao cumprimento - rigoroso - das suas promessa e expectativas que criam, em período de eleições, junto dos seus eleitores.
E não consta, em qualquer lei ou diploma, que um qualquer autarca pelo facto de ser eleito se torne dono do território, sendo quase desprestigiantes quaisquer manifestações verbais em que surja o "eu" a mandar aqui, ou até alusões à comida dada a crianças escolares, com o infeliz tempero de figurabilidade a clubismo.
Assim sendo, entre o respeito que queiramos dar sem regateio e a defesa de padrões moralmente enquadráveis numa sociedade limpa, os cidadãos não poderão optar pela omissão tendo em conta os resultados preversos de tal atitude.
Imaginarão quantos me lêem como gostaria de aqui escrever precisamente o contrário, felicitar de braços bem abertos quem nada precisa de mim. Esta é outra contradição a que a moral pública nos obriga.
Deixem-me contar uma versão diferente da Sintrolandia, que escutei a um amigo espanhol ao que parece a cidade de Barcelona pagava para retirarem os equipamentos existentes e alguem segundo a versão que escutei vendeu o projecto dois em um, ao Herculano Pombo,numa parceria CMS -Cameron o projecto só deu com os burrinhos na agua, porque as fotografias aereas tinham sido retocadas e na realidade existiam demasiadas casas no local escolhido e os decisores tinham sido todos ludibriados por "artistas". Verdade ? Mentira ?
Caro Belchior,
Esta é boa e perfeitamente possível. Esta rapaziada do anterior executivo também era muito dada a negociatas...
No dia 7 do corrente, publiquei mais um texto sobre o mesmo assunto. Então, o que pensa o Belchior deste assunto da Cinelândia?
Cumprimentos do
João Cachado
Caro Belchior,
Esta é boa e perfeitamente possível. Esta rapaziada do anterior executivo também era muito dada a negociatas...
No dia 7 do corrente, publiquei mais um texto sobre o mesmo assunto. Então, o que pensa o Belchior deste assunto da Cinelândia?
Cumprimentos do
João Cachado
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