Monserrate,
castigo do sucesso?
(Parte II)
Na primeira parte do artigo publicado no passado dia 20 de Novembro, se bem se lembram, ficou no ar aquela dúvida relativa às razões que justificariam o facto de Monserrate ter deixado de contar com transporte público turístico. Ora bem, como era previsível, não houve quem tenha saído à liça para esclarecer a nossa perplexidade. Enfim, pelo menos, até ao momento…
Assim sendo, poderá vingar a hipótese da invejazita de alguém, particularmente incomodado com o sucesso da equipa do Prof. Lamas. Daria imensa vontade de rir, não fosse o caso de resultar em disparatada vingança que cria inegáveis prejuízos. Aliás, como ninguém lucra com tão baixa estratégia, estaremos perante mais um caso da tão afamada e rematada estupidez local.
Adiante. Em Monserrate, continuarei a partilhar convosco mais algumas notas sobre a campanha de restauro em curso no edifício. Depois de tanto abandono, foi sustida a criminosa degradação de que José Alfredo dava conta através das palavras que dele citei. Justo é lembrar que, mal Serra Lopes, de péssima memória,* deixou a administração da Monte da Lua, logo se iniciou a regeneração que, agora, já não pode parar.
Singular biblioteca
Da biblioteca, falou a Arq. Luísa Cortesão, com o pormenor e interesse que a recuperação da sala lhe merece, através da intervenção em curso, absolutamente modelar, que compreende todas as vertentes em presença, dos estuques, à pintura, ao papel de parede, ao mobiliário, estruturas de madeira e cantaria. Por manifesta falta de espaço para entrar em fascinantes pormenores, apenas concedo à minha interlocutora uma breve explicitação.
“Por exemplo, esta sala (biblioteca) apresentava um friso de papel de parede tipo flock paper (papel de veludo) que, em virtude do avançado estado de degradação, não é susceptível de conservação. Assim, vai ser substituído por uma cópia fiel que respeita a fabricação tradicional. Mas vamos conservar uma amostra do original para exposição museológica.
Por outro lado, o papel decorativo, em imitação de madeira, que revestia o tecto, estava de tal modo degradado que não houve alternativa. Tem de ser substituído. No entanto, o novo papel será executado com técnicas e materiais absolutamente semelhantes ao original. E, na altura de reaplicar, será deixada uma janela com o papel preexistente”.
Por estes pequenos detalhes, desde logo se percebe estarmos em presença de uma verdadeira responsável, não daqueles que costumo grafar a itálico ou com aspas… Podemos confiar no modo como ali se pratica a recuperação do património, portanto, no respeito pela verdade dos indícios que se encontram, na permanente necessidade de os preservar para o futuro, já que cada peça é suposto contar a história da passagem do tempo e de como o tempo por ela passou.
(continua)
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* A propósito, quando teremos o privilégio de conhecer o resultado das sindicâncias várias, das devassas do Ministério Público à gestão do biólogo que, durante anos sucessivos, têm impedido o Senhor Presidente da Câmara de responder aos meus sistemáticos pedidos de esclarecimento? Ou alguém pensa que a coisa está esquecida?
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