[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Alvitres


Cada vez mais me vou rendendo à pertinência e oportunidade com que, em sintra, o Jornal Cidade Viva vem defendendo os interesses da terra. Este órgão da imprensa é uma voz independente e corajosa que, sob a direcção de Luís Galrão, bem merece todos os apoios e testemunhos de encorajamento de que é credor.

Com a devida vénia, passo a reproduzir o seguinte texto:

“13/1/2009Autarquia e empresários promovem alojamento turístico sintrense.
Casas de Sintra junta empresários da região para promover alojamento na vila.

Para garantir o sucesso da iniciativa, o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara, decidiu aliar-se ao Turismo de Lisboa, presidido por outro autarca, António Costa (Lisboa), e aproveitar as sinergias e conhecimentos da associação para promover o destino como parte integrante da região da capital.O protocolo entre as duas entidades foi assinado hoje, pela mão de Seara e Costa, e servirá como plataforma para Sintra usar as contrapartidas a que tem direito por parte das receitas do Casino do Estoril.
(…)
Na base do projecto, está ainda a construção de uma organização que junte todos os empresários do concelho, “com casas de turismo rural, pequenos solares, que só por si não têm massa crítica, para que tenham uma presença e venda consistente e lhes dê consistência”. As “Casas de Sintra”, como se poderá chamar o projecto”, poderá evoluir para “uma central de reservas on line, através de um site que vamos criar”. Para já, caberá ao município de Sintra fazer o levantamento de todas as camas que existem na vila disponíveis para integrar o projecto. (…)”

A propósito, apenas gostaria de acrescentar dois breves alvitres. Primeiramente, portanto, sugerir que o projecto contemple, não só as casas de turismo rural e pequenos solares, mas também uma pequena mas importante bolsa de alojamento do género B&B (Bed and Breakfast, ou seja, quarto e pequeno almoço) disponíveis em adequadas casas de habitação de residentes sintrenses, devidamente registadas e licenciadas para o efeito.

Em todos os destinos turísticos, incluindo os mais sofisticados, é um recurso frequente, permitindo alojar viajantes e turistas que, pelas mais diversas razões, que não só de ordem económica, preferem um mais próximo convívio com os habitantes.

Em segundo lugar, começaria por felicitar o Senhor Presidente da Câmara por se ter lembrado da utilização das contrapartidas a que Sintra tem direito por parte das receitas da zona de jogo. Embalado nesta estratégia para o financiamento do projecto em questão,
talvez seja a altura de, igualmente, usar verbas da mesma proveniência que – segundo me informou inequívoca fonte – estarão escandalosamente pendentes, há vários anos, para concretização de obras de recuperação no centro histórico. Tudo porque, vá lá saber-se a razão, não se formaliza a candidatura…

Para total apuramento da situação, até talvez conviesse divulgar a quanto ascenderão as verbas disponíveis e outras eventualmente cativas e se já se terá acontecido perder-se o direito de utilização de alguns desses montantes.


AT:

Em Portugal, em Sintra, tresanda a eleitoralismo barato por todo o lado. Ainda agora começou o ano e já se sufoca. Cá por mim, vou arejar. Como costuma acontecer neste período do ano, vou até à Áustria. Por isso, durante a minha permanência em Salzburg, até ao fim da primeira semana de Fevereiro, fica suspensa a publicação de mensagens no sintradoavesso. Fiquem-se por cá muito bem!

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O fantasma escocês


São tantos os problemas de transporte público na sede do concelho, no acesso a partir da periferia mais próxima ou, por outro lado, no destino a pontos turísticos do maior interesse - como é, por exemplo, total e escandalosamente desprovido, o caso de Monserrate - que não consigo entender o verdadeiro fenómeno que passarei a dar conta.

Aliás, estou certo de que apenas dou voz ao público e comum espanto que decorre da circulação de um transporte urbano, de uns vinte e tal lugares, que, sistematicamente vazio, faz o percurso da estação até à vila, com o intervalo de dez minutos. É o Express Villa [que provinciana cedência a estas designações!] adivinhando-se simpático e cómodo mas que a ninguém serve ou, provavelmente, só umas dezenas de pessoas nos fins de semana. Até já lhe chamam a carreira fantasma.

No mínimo, cabe perguntar que estratégia de transporte subjaz a um tal desperdício? Quem terá sido o iluminado responsável (?!) municipal que negociou este trajecto com o monopolista operador Scotturb que, vá lá saber-se porquê, parece ter força para impor o que lhe apetece e mais convém, ainda que, como no caso vertente, possa ser uma tremenda asneira?

Como é que a comunidade sintrense se permite desperdiçar cinco ou seis mil quilómetros por mês de transporte que, praticamente, ninguém serve quando, outro fosse o cuidado da gestão autárquica, poderia reverter em benefício da população? E já não refiro a conveniência dos forasteiros que demandam estas paragens convencidos de que isto é a mesma coisa do que Cascais...

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Periférico?
Não consta...


Amigos nossos que pretenderam aproveitar a oportunidade do período de consulta pública dos projectos de estacionamento, dirigiram-se ao Gabinete de Apoio ao Munícipe no sentido de obterem esclarecimentos que possibilitassem organizar a sua vida de tal modo que, o mais comodamente possível, se dirigissem aos locais e nos horários mais convenientes.

Infelizmente, como seria de esperar de um serviço que, na maior parte dos casos, não passa de sui generis caixa postal de depósito e distribuição, a funcionária do GAM que atendeu as pessoas em questão meteu as mãos pelos pés, como soe dizer-se, não conseguindo esclarecer o que era suposto e, aparentemente, tão simples.

Lá ficaram goradas as intenções de munícipes que, apesar de tanta manobra em sentido contrário, ainda insistem em participar na vida da comunidade. Entretanto, a partir das informações vindas a público, é perfeitamente possível perceber que não está previsto qualquer dos parques dissusores periféricos que, há tantos anos, reclamam os mais esclarecidos, como inequívoca e fundamental solução para tantos dos problemas que nos afectam.

Com mais esta douta omissão (!?), o executivo municipal continua a comprometer a possibilidade de melhoria da qualidade de vida nas três freguesias da sede do concelho. Ou alguém pensará que resolve o problema apenas com umas mitigadas bolsas de estacionamento, que mais não fazem do que requalificar umas coisas que para aí existem, mais ou menos provisórias, designadas como parques?

É fundamental continuar a estratégia de impedir o acesso de automóveis particulares aos centros nevrálgicos da urbe. Podem os comerciantes afirmar o contrário, no exercício de tentativas de assalto ao Vale da Raposa e outros apetecíveis lugares, como é o caso do próprio terreiro fronteiro ao Palácio Nacional... A tanto chegou o ridículo de quem reclama a qualidade de agente económico e que, com tais propostas, mais não faz do que manifestar uma exuberante ignorância.

Infelizmente, por outro lado, os sucessivos executivos municipais vão dando sobejas provas de falta de preparação da comum classe política de origem, não promovendo as medidas que, comprovadamente, resolvem as questões em aberto. Na realidade, estão bem uns para os outros...

E não vale a pena tentar tirar a água do capote pois, enquanto não soubermos devolver aos eleitos a justa retribuição pelo péssimo serviço que nos têm prestado, somos todos coniventes!




terça-feira, 13 de janeiro de 2009


Antena Dois,
grossa asneira

Durante dois ou três dias da passada semana, o director da Antena Dois, rádio clássica, ao microfone do programa Império dos Sentidos, várias vezes anunciou o evento de
11 de Janeiro no CCB durante o qual, Il Giardino Armónico, sob a direcção do seu maestro titular Giovanni Antonini interpretaria, entre outras peças, os concerti grossi números 1, 6, 7 e 12 do op. 6 de G.F. Händel.

Se, mais ou menos, o tivesse feito nos termos do destacado no parágrafo anterior, portanto, sem entrar em detalhes que não domina, demonstraria que conhece os limites da sua já pública e proverbial falta de conhecimento no campo musical – algo de inimaginável no prototípico ignorante… – não incorrendo na grossa asneira que passarei a dar conta.

Em diferentes ocasiões, anunciou o acontecimento e, seguidamente, num aposto ou continuado da matéria, afirmou que a designação do plural grossi se reportava ao facto de se tratar de grandes (!!!) concertos concebidos pelo genial compositor… [Ah, é verdade, o verbo ‘conceber’ é muito caro ao radialista director que o usa, a torto e a direito, como alternativa de compor.]

Certamente que muitos dos meus leitores, também ouvintes da RDP2, terão escutado esta pérola. Como estará gravada, deveria passar a fazer parte do infindável rol de asneiras com que o programa da manhã daquela antena tem enriquecido o anedotário cultural lusitano, desde que a actual direcção entrou em funções.

O palavroso, adjectivoso e retumbante director, audacioso qb, permite-se qualificar interpretações musicais e, inclusive, anunciar qual a sua preferida, presumindo, coitado, que alguém, devidamente habilitado, lhe dá crédito. É que, por manifesta e abundantemente provada falta de conhecimentos básicos, ele não pode entender as subtis distinções nem a razão que leva um musicólogo ou verdadeiro conhecedor a estabelecer o mérito ou demérito de determinada versão.

Básico…

Falta de conhecimentos básicos, escrevia eu. Pois é. Senão, atentemos no seguinte. A noção de concerto grosso é algo que qualquer jovem aprendiz de ciências musicais cedo adquire, algo que, por outro lado, também está ao alcance de qualquer melómano, mesmo curioso autodidacta. O grosso é apenas uma de mais duas – concerto policoral e concerto solista – portanto, três possibilidades de instrumentação e, consequentemente, três formas de execução concertante no período barroco.

No concerto grosso, um grupo de solistas (concertino, soli) opõe-se ao grosso dos instrumentos (concerto grosso, tutti, ripieno). A configuração típica do concertino compreende três partes instrumentais, distintas ou segundo a distribuição típica da trio sonata, com dois violinos (ou flautas ou oboés) e baixo contínuo (violoncelo, cravo). Tendo em consideração que os solistas são melhores instrumentistas, eles também guiam o tutti que se cala durante os episódios solistas.

O concerto grosso desenvolveu-se no Norte e centro da Itália a partir do derradeiro terço do século dezassete, com Stradella, Corelli ou Vivaldi. A sucessão e a estrutura dos andamentos correspondiam às da sonata de igreja ou da sonata de câmara que, a partir de Vivaldi, geralmente, tinha três andamentos, rápido-lento-rápido. *

Como se verifica, nada disto tem qualquer relação com o conceito de grandeza, tenha ele uma conotação de quantidade ou de qualidade, como pretendia o tal senhor, ainda que ninguém negue a excepcional, a grande qualidade de cada um dos concerti grossi de Händel.

Afinal, a verdade é que se o ignorante não abordasse domínios que desconhece, ninguém lhe apontaria o desconhecimento… Mas a tentação é muito forte. Aquela possibilidade de poder partilhar o espaço e o tempo dos que, por seu mérito e trabalho, acederam a plataformas superiores de informação cultural, é demasiado atractiva para deixar o ignorante no sossego donde jamais deveria sair para perturbar quem não deve.

Este indivíduo que, por exemplo e sintomaticamente, também diz númaros e perjurativo em vez de números e pejorativo, ocupa o lugar de direcção que, nos últimos anos, esteve a cargo de pessoas do alto gabarito cultural de João Paes ou João Pereira Bastos. Sinais dos tempos estes, em que postos de destaque, mesmo ao nível político, estão nas mãos de habilidosos manipuladores, ainda que no quadro de um regime democrático...


PS:

Para proveito mais completo, queiram os meus leitores consultar o texto aqui publicado em 6 de Agosto de 2008. Mantenho a pertinência de todas as minhas opiniões, observações, conselhos e sugestões implícitas ou explícitas. Não acham que também tenho direito a uma certa presunção? E, ao ritmo do curioso ditado,
tomo a minha água benta, convidando para me acompanharem na pública denúncia do despautério em causa.


Com outros bigodes, o Prof. Doutor Mário Vieira de Carvalho também o fez, há umas semanas atrás, em artigo de opinião no jornal Público. Por favor, amigos leitores, pronunciem-se. Não somos assim tão ricos que nos permitamos consentir que a ignorância e a incultura ganhem posições à clara, esclarecida e discreta atitude do gozo e partilha de valores estéticos, intelectuais e culturais que a Antena Dois e suas antecessoras, com outras denominações, cultivaram ao longo de décadas, mesmo em épocas do mais negro obscurantismo.


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*Michels, Ulrich, dtv-Atlas Musik - Band I, Deutscher Taschenbuch Verlag & CO.KG, München, 2001


terça-feira, 6 de janeiro de 2009



Corrupção & desleixo

Muita, na realidade, deve ser a corrupção que por aí vai. A última história, de pública notoriedade, soubemo-la no passado sábado, através do semanário Expresso. Tendo sido reformados por motivos de saúde, dois ex-gestores da Caixa Geral de Depósitos estão fresquinhos que nem alface a trabalhar na concorrência...

Outro é o caso da Gebalis, empresa da Câmara Municipal de Lisboa, com três ex-gestores já constituídos arguidos, por suspeita de crime de peculato de gestão danosa, entre Março de 2006 e Outubro de 2007. Directamente, terão lesado os cofres públicos com despesas sumptuárias, no valor de 200.000 euros que, afinal, serão uma gota de água num oceano de contratos ruinosos com empresas de outsorcing, para além de disporem de um quadro de funcionários altamente remunerados que nada faziam.

Pois é. Em rigor, no entanto, não passam de ínfimas partículas da horrorosa mancha de óleo que, transversalmente, vai alastrando na sociedade portuguesa. A encher muito mais o olho, estão os casos de pessoas tidas como extremamente competentes e verdadeiros paradigmas de gestão privada – casos dos ex-administradores do BCP, do BPN e do BPP – que, de um momento para o outro, se transformam em sujeitos de duvidoso crédito, sob a alçada das polícias.

O problema fundamental, no entanto, é que tais casos, de maior ou menor visibilidade, apenas revelam a ponta do iceberg da insidiosa e perversa cultura de desleixo que os enquadra. E, não menos perverso, é o facto de tal moldura ser a referência fundamental de uma situação muitíssimo mais alargada, que justifica o quotidiano lodaçal de pequenos mas significativos e incontáveis delitos de corrupção.

Será uma sui generis corrupção, já que não se trata de mera desonestidade. Naturalmente, refiro-me às baixas fraudulentas, às horas roubadas à normal produção de trabalho, prática comum a tantos funcionários dos sectores público e privado; às tarefas mal executadas, sem a mínima qualidade; à falta de controlo por parte dos dirigentes nomeados graças ao cartãozinho; à tolerância das autoridades que acaba por gerar malentendidos, injustiças e acidentes, enfim, um infindável rol.

A própria forma como a comunidade se endivida e malbarata os escassos recursos disponíveis, esconderá sofisticadas formas de corrupção já que, por exemplo, a decisão política que subjaz ao despacho favorável das grandes obras públicas, favorece a possibilidade de financiar os partidos políticos, para além de propiciar riquezas tão rápidas quanto espaventosas.

Em Sintra, neste domínio, como será de esperar, não devemos estar nada mal fornecidos. O que poderemos imaginar perante casos de edifícios degradados, propriedade de conhecidos prevaricadores, que se arrastam sem uma posição firme dos decisores? Casos de corrupção? Nepotismo? Difícil é provar, não é? Provavelmente, no já aludido financiamento dos partidos, se encontraria matéria interessante.

Em princípio de ano, contudo, não entrarei por essa via de acesso ao duro e cru mundo das negociatas de vulto. Estou numa branda, ficar-me-ei pela anedota. Mas anedota real, sintrense, note-se bem. Conta-se rapidamente. Duas senhoras nomeadas para lugares de destaque em Gestão e Direcção, certamente dentro da política de agilizar [perverso conceito este...] procedimentos, são conhecidas pelas longas ausências, de tal forma flagrantes, que a uma delas até já chamam nossa senhora de Fátima, em face das suas raríssimas aparições

Caso de corrupção? Promiscuidade? Alguma coisa deve estar a suceder, se não como entender o compromisso que a entidade à qual estão ligadas terá assumido (político ou de outra ordem), para dar ou ter dado cobertura a um tal procedimento, que pressupõe o pagamento, com dinheiros públicos, de significativos ordenados?

Dos exemplos citados (e mais alguns ficam em carteira) alguém se convence da não existência de interesses cruzados ou que o quadro da traficância e da corrupção se encontra afastado? Pelo menos, é a tal cultura de desleixo que torna inviável o presente e o futuro de toda a comunidade.

sábado, 3 de janeiro de 2009



Em filmagens...

Queiram fazer o favor de considerar a peça seguinte que, tendo sido publicada no Cidade Viva, passo a transcrever, com a devida vénia.



«30/12/2008

NBP decide até Fevereiro local da Cidade da Imagem. Escolhida Sintra como um dos possíveis locais para acolher a Cidade da Imagem, a NBP está a analisar outras soluções.

As próximas semanas serão dedicadas a visitar terrenos em Alcochete e Vila Franca de Xira. Dentro de 15 dias, os responsáveis da NBP esperam ter já visitado outras duas hipóteses que surgiram naqueles dois concelhos, um a Norte de Lisboa e outro na Margem Sul, onde desemboca a Ponte Vasco da Gama.

Apesar de ter anunciado, há pouco mais de um mês, um protocolo de intenções estabelecido com a Câmara de Sintra, para que a Cidade da Imagem - que concentrará num só espaço toda a produção televisiva do grupo Media Capital, em Portugal - se localize em Almargem do Bispo, a empresa garante que ainda nada está decidido.

"O investimento é muito grande, por isso não vamos falar que temos a certeza que é neste ou naquele concelho. O que há em Sintra é um protocolo de intenções que nos permite ir adiantando todo o necessário de candidatar o dossiê a PIN (Projecto de Potencial Interesse Nacional), até porque parte dessa área tem condicionantes [reservas ecológica e agrícola]", disse, ao JN, Bernardo Bairrão, administrador da NBP, que em Janeiro se passará a chamar Plural Entertainment.

O grande investimento daquela infra-estrutura (50 milhões de euros) leva a NBP a equacionar novas localizações: "Alcochete, porque percebemos que nunca há congestionamento na Ponte Vasco da Gama, e Vila Franca de Xira, porque ali que temos a maioria das nossas instalações", disse.

Em cima da mesa estiveram várias hipóteses, circunscritas a poucos concelhos a Norte de Lisboa, tendo em conta alguns dos critérios decisivos: uma área com cerca de 40 hectares, em que o terreno não fosse extremamente plano para não impedir a realização do corte de planos televisivos, que não estivesse a mais de 30 quilómetros de Lisboa e uma boa rede de acessos.

O processo de escolha iniciou-se em Outubro de 2007. Segundo Bernardo Bairrão, a primeira Câmara a ser contactada pela empresa, com vista a se encontrar uma área compatível com a dimensão do projecto, foi a de Vila Franca de Xira, tendo em conta que é naquele concelho que se localiza não só a sede da, ainda, NBP, como parte dos oito estúdios de produção e construção de cenários.

Loures também não ficou de lado, até porque é em Bucelas (Loures) que se encontra outro pólo de produção. Seguiram-se Azambuja, Cartaxo, Alenquer, Cascais, Sintra, Oeiras e Amadora, "todos com condicionantes", frisou.

À última fase chegaram, Sintra e Cascais, cujo terreno situava-se junto ao Autódromo do Estoril. "Não há muitos concelhos que disponibilizem 40 hectares facilmente. Deste conjunto visitado, o Cartaxo tinha o terreno mais interessante que alguma vez vimos. O melhor e que serviria para aplicar o projecto, mas ficava a 50 quilómetros de Lisboa. Com muita pena", admite o gestor. Fonte: NUNO MIGUEL ROPIO - JN»


Se tiverem em consideração o texto que escrevi e publiquei no Sintradoavesso, no passado dia 4 de Dezembro, subordinado ao mesmo assunto, sob o título Mais poeira para os olhos, não poderão deixar de concluir como já então eu estava cheio de razão. Portanto, cada vez mais segura é a minha convicção de que esta coisa da Cinelândia não passa de manobra de diversão do Presidente Seara.

Com tanto trabalho a realizar, em especial nas freguesias da sede do concelho, com flagrantes e gritantes necessidades a satisfazer no próprio centro histórico - dando-se ao luxo de não utilizar verbas disponíveis provenientes da zona de jogo - o chefe do executivo local decidiu privilegiar a estratégia das filmagens.

Creio que conhecem a expressão. Quando alguém, quando um grupo de pessoas deixa de encarar e viver a realidade, devolvendo à comunidade uma imagem que não corresponde à verdade da sua vida individual e colectiva, diz-se que passou a andar em filmagens... Perante o desafio real e concreto de realizar obra que perdure, o Presidente Seara decidiu ceder à tentação de brincar à Cinelândia que, ou muito me engano ou tem tantas hipóteses de ver a luz do dia como a famigerada Sintralândia...

Edite Estrela também teve direito à sua brincadeira. No tempo dela, o jogo que estava cheio de cantos de sereia [não se lembram dos 5.000 postos de trabalho?...] chamava-se Sintralândia. Era um parque fantasia cujos mentores também ameaçaram, tão veladamente quanto necessário, que iam para Cascais se Sintra decidisse a estupidez de não agarrar tamanha oportunidade.

Toda esta gente, do PS e do PSD, ao fim e ao cabo da mesma, da mesmíssima medíocre classe política, pensa que temos memória curta. O que nós temos é o rabo muito, muito pelado. Anos e anos de aldrabices, de truques baixos, de manobras dilatórias, de manobras de diversão. Estamos fartos de ver adiar a resolução das coisas concretas, enquanto julgam que nos entretêm com palhaçadas de fantasias e de filmagens.

Todavia, até neste nosso desgraçado país que, num conjunto de vinte e sete, é o terceiro mais corrupto, já começa a ser muito difícil invalidar quarenta ou cinquenta hectares de terrenos incluídos na Reserva Ecológica Nacional, para aí construir uma aberração como a Cinelândia. Mas, a poucos meses de eleições, tal qual como no tempo da anterior Presidente, acenar aos papalvos com uma hipótese como esta, não deixa de colher algum efeito. Quanto mais não seja, enquanto o pau vai e vem, folgam as costas...

O Cidade Viva está a fazer o que lhe compete, dando voz e espaço noticioso ao assunto da Cinelândia, conforme vão evoluindo os acontecimentos. Esperemos que toda a imprensa regional de Sintra, ao contrário do que até agora aconteceu, siga o exemplo, não cedendo à pueril tentação de, acriticamente, embandeirar em arco, incapaz de distinguir a árvore da floresta.