[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Desleixados e ignorantes

Como verificarão, não venho abordar qualquer questão fracturante e, muito menos, alguma daquelas que, nas últimas semanas, o partido do governo tem ventilado freneticamente, com o firme e declarado propósito de distrair o povo dos problemas realmente prementes e inadiáveis. No entanto, trata-se de algo que rasga o tecido social, que o divide entre aqueles que sabem e os que desconhecem as regras do bom domínio da expressão falada e escrita.

Ora bem, não é só na comunicação social que se escreve mal e fala pior.
Porém, tanto nos nossos jornais, como na rádio e televisão, é preocupante a frequência dos atentados à correcção do Português, nos mais diferentes aspectos da morfologia e da sintaxe. De facto, numa área em que a escorreita expressão é imprescindível ao bom entendimento, prevalece a tão perniciosa cultura de desleixo que, aliás, afecta a grande maioria dos cidadãos em todos os campos de actividade.

Portanto, nada de acusações generalizadas. Por exemplo, nas escolas, acontecem episódios, que não passariam de meras caricaturas, não se desse o caso de os docentes, tanto ou mais do que os jornalistas, fazerem parte de uma classe profissional com especiais responsabilidades no âmbito da comunicação.

Deixai que vos conte uma cena, em que eu próprio intervim, numa determinada escola de ensino superior. Uma aluna acabava, precisamente, de conjugar incorrectamente o pretérito perfeito do verbo intervir, dizendo interviu. Pois, quando a emendei, acrescentando que seria conveniente ter presente tratar-se de um composto de vir, devendo dizer interveio, uma colega professora que presenciara o nosso diálogo, perguntou-me, muito espantada, se eu tinha a certeza porque lhe soava muito feio

Também os políticos, tanto ao nível do poder central como local, fornecem um verdadeiro manancial de asneiras nas entrevistas que concedem aos diversos canais televisivos. Sabem-no alguns bons mestres que, devidamente gravadas, tais conversas servem, às mil maravilhas, para exercícios muito sugestivos de caça ao erro nas aulas de Português.

Finalizemos no mundo da política local. Quem não se lembra das calinadas do ex-Presidente, Comendador Galucho, autênticas pérolas que, ainda hoje, deverão permanecer nos arquivos dos despachos camarários? Então e não é que, actualmente, temos um senhor Vereador, licenciado e tudo, que ignora a conjugação pronominal do verbo pôr? Coitado, diz pusi-o, arriscando a directa entrada no anedotário sintrense, algo que o cartãozinho não impede…

Como e onde terão ido recrutar jornalistas, professores e políticos tão patuscos?



Nota: Publicado, no Jornal de Sintra, na 6ª Coluna da edição de hoje.

2 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro João Cachado,

Sinto, com sinceridade, o seu desgosto perante estes pontapés na língua Pátria, a qual - quem sabe se por influência de geminações - se vai degradando em cada dia.

Há tempos, uma senhora conhecida, garantia-me que as epístolas eram as mulheres dos apóstolos.

Tudo uma questão de cultura, na qual a educação cívica, muitas vezes no dia-a-dia, se reflecte.

Como pode ter cultura um membro de uma Junta de Freguesia que vai de boné e assim permanece enquanto dura uma sessão pública? É um caso de se tirar o chapéu...

Mas a última, depois daquele famoso emplastro que surgia por detrás de entrevistados na TV, foi a daquele autarca que, para justificar a candidatura, acabou por dizer que tinha sido por influência do "nandinho". Tal e qual, meu caro, sem a mínima sensibilidade para o respeito público da personalidade envolvida.

Fico na tenebrosa expectativa de um dia, em pleno programa televisivo, surgir o "emplastro" por detrás dos entrevistados, garantindo mais uns minutos de tempo eleitoral.

Depois, é só escutarmos as suas palavras em bom português.

Anónimo disse...

Sr. João Cachado,

Como é do conhecimento de todos os leitores do seu blog, o Sr. Cachado tem "alguma" predilecção por escrever sobre os feitos dos seus vizinhos da SintraQuorum, E.M.. Não se percebe que após os vertiginosos acontecimentos das últimas semanas, o Sr. Cachado - que é uma pessoa extremamente atenta - não dedique um post, mesmo que pequeno (como é seu apanágio) à gestão financeira dessa empresa municipal, que, afinal, lhe é tão cara.
Continuação de boas investigações.