[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009


Mas as árvores, Senhor?...

A exemplo do que, por vezes, tem acontecido, também hoje dou a voz a uma amiga do Linhó, nossa cúmplice destas páginas do sintradoavesso, cujo testemunho acerca de certas manobras à volta das árvores naquele local, bem merece a natural preocupação de todos. Eis, portanto, a transcrição da mensagem que me chegou de Florbela Veiga Frade:

"Eu vivo em Sintra (no Linhó) e, de há uns anos a esta parte, que me preocupo com o destino dado a várias árvores que têm sido abatidas em S. Pedro de Sintra e, mais recentemente, no Linhó. No primeiro caso, tílias com centenas de anos e, no segundo, um eucalipto e vários choupos. Só vi plantadas duas árvores novas no lugar de dezenas existentes em S. Pedro e temo que o mesmo se venha a passar no Linhó.

Já contactei os serviços municipalizados que me garantiram que o processo está longe de estar acabado no Linhó. No entanto, não me conseguiram dizer qual a calendarização, nem se iam plantar novas árvores. Deste modo, suspeito que o resultado será igual ao de S. Pedro: redução drástica de árvores, sem qualquer respeito pela natureza e pelos espaços verdes (cada vez mais raros).

Se posso compreender o abate de plátanos que, na Primavera, lançam para o ar milhares de sementes que são um perigo para a saúde pública, o mesmo não posso dizer para os choupos que o não fazem (só um dos géneros é que tem sementes) ou para o eucalipto com dezenas de anos, se não centenário. Também não compreendi que mal atingiu as tílias ou se elas próprias eram um perigo para a saúde pública.

Há formas de salvar as árvores desde que se queira. Hoje, no Linhó, no sítio de árvores verdejantes, existem tocos com cerca dum metro de altura (que provavelmente vão rebentar na Primavera se não os retirarem), jazem ramos cortados há cerca dum mês (a população foi retirando alguns, mas ainda resta uma grande massa) e os carros ocupam o espaço. O abandono é deprimente...

Também me preocupa que não se tenha feito uma prévia análise das árvores que lançam sementes, pois isso quer dizer que todas serão abatidas. Ora, o jardim junto ao chafariz do Linhó, que hoje ainda tem vários choupos com canteiros de flores, amanhã pode ficar sem nada. Nem se vislumbram alternativas. Relembro que as árvores existentes, na sua esmagadora maioria, foram plantadas pela população, algumas das quais pagas pelos moradores que fizeram uma recolha de fundos para isso.

A Câmara só se preocupa agora com o abate e a Junta garante esporadicamente a sua manutenção. Ninguém destas instituições soube dizer se há sequer plano de reflorestação dos espaços. O trabalho de abate tem sido feito de forma pouco lógica: de vez em quando aparece uma equipa com moto-serras e abatem umas quantas árvores, depois ficam semanas sem aparecer para voltarem com um ímpeto renovado de abate.

Por este andar tudo será infrutífero e será dinheiro muito mal gasto. As máquinas de apoio ao abate e todos os carros que, entretanto, se foram estacionando, no que anteriormente era uma zona relvada, estão a danificar o sistema de rega (outra despesa que pouco fruto deu pois não chegou a ser utilizado). E assim se gasta o dinheiro dos contribuintes e se piora a qualidade de vida das populações.

Florbela Veiga Frade, veigafrade@netcabo.pt"

.............................

Nota final:

Por favor, que não haja confusão com o desbaste em curso, da responsabilidade da PSML, nalgumas zonas da Serra de Sintra. Apesar de ter suscitado a preocupação e crítica de nossos amigos, trata-se de um trabalho que está bem entregue, cuja correcção e alcance, o decorrer dos meses e dos anos se encarregará de esclarecer.

Tenho fotografias caso esteja interessado nisso. Com os melhores cumprimentosFlorbela Veiga Frade

12 comentários:

Anónimo disse...

Devo saudar esta Senhora pelo facto de ter trazido este tema à opinião.

Como questão prévia, permitir-me-ia questionar sobre a capacidade dos autarcas da Freguesia e, até da Câmara, para estarem sensíveis ao que são árvores e o respeito que elas nos devem merecer, até pela sua necessária conservação.

Ainda há pouco tempo se falava por aí, aparentemente com emoção escondida, num blogue de cariz partidário e nalguns jornais, sobre a operação em curso na zona gerida pela PSML.

Vai a caminho de um ano que, em Chão de Meninos, pela calada da manhã, se cortaram várias árvores num terreno camarário e onde havia parque infantil, para dar lugar ao esticamento a Câmara pagou mais de 37.000 euros) de uma casota lá existente.

Na altura escrevi ao Presidente da Junta de S. Pedro para saber se foi ele que autorizou tais abates, o mesmo fazendo junto do Senhor Vereador do Ambiente, não sendo merecedor - ao menos por respeito e educação - de qualquer resposta.

Estes silêncios, esta falta de respeito, até falta de consideração, são coisas que nos fazem muitas vezes sofrer, ainda por cima pelo facto de se reflectirem nas atitudes dos executantes.

Como eu compreendo a tristeza desta Senhora do Linhó.

Rui Silva disse...

Caro João Cachado, deixe-me que lhe pergunte: há quanto tempo não entra na Tapada do Mouco? Há quanto tempo não entra na Tapada D. Fernando II? E nos Capuchos?

Peço-lhe que as visite, com urgência. E que depois se volte a pronunciar relativamente ao trabalho madeireiro da PSML nos referidos espaços.

Entretanto, enquanto a empresa se vai entretendo no negócio da madeira, o património está ao abandono, e continua a degradar-se a olhos vistos:

http://soscapuchos.blogspot.com/2009/02/mais-uma-razao-deste-sos.html

Anónimo disse...

Meu caro João Cachado,

Ao rectificar um texto, acabei por cometer um erro que alterou o sentido do texto.

Ora, no quarto parágrafo do meu texto anterior, deveria ter escrito:

"Vai a caminho de um ano que, em Chão de Meninos, pela calada da manhã, se cortaram várias árvores num terreno camarário e onde havia parque infantil, para dar lugar ao esticamento (a Câmara pagou mais de 37.000 euros) de uma casota lá existente."

Foi uma questão de colocar o custo entre parênteses, mas o sentido, esse, distorceu-se.

Grato pela atenção,

Fernando Castelo

Sintra do avesso disse...

Amigo Castelo,

E, para além de tudo o mais, isto não são florinhas da Volta do Duche. Fosse esse o caso e os altos dignitários sintrenses até atravessavam a rua para cumprimentar...

Aos «outros» que, realmente incomodam, não se dignam sequer responder.

Um abraço

João Cachado

Anónimo disse...

Para quê responderem, se não têm respostas para dar?Até as respostas obrigatórias a reclamações feitas no livro amarelo
e que são obrigatórias por Lei, nunca são dadas...para quê?Lei, é uma coisa que não se conhece por estas paragens.
Margarida

Anónimo disse...

Sou sintrense desde que nasci, há 45 anos e resido na Portela, freguesia de Santa Maria e São Miguel. Tenho família em São Pedro repartindo por isso o meu tempo por estas duas freguesias.

A propósito das últimas polémicas sobre a intervenção na serra de Sintra e pegando agora neste artigo, apetece-me dizer que desde sempre fomos habituados a ver em Sintra movimentos de defesa do “verde”. Apesar de ser uma causa preciosa, disso não há dúvida, temos que perceber que as árvores, como seres vivos que são, têm um período de vida útil. Também, porque grande parte dessas árvores que temos nas nossas ruas já estão “doentes” devido à idade, tornam-se ameaças à segurança pública nomeadamente em dias de temporal.

Lembro-me de uns dias de temporal passados há uns bons anos que destruíram várias árvores na principal avenida de São Pedro e que só por sorte não causaram vitimas humanas e que face a essa situação os membros da Protecção Civil chamados ao local queixavam-se dos entraves que eram vitimas por parte dos “ambientalistas” quando tentavam intervir no património verde.

Também há 2 ou 3 semanas atrás essa mesma rua ficou quase intransitável depois de uma noite de mau tempo. A exemplo disso a Rua D.João de Castro em Sintra viveu a mesma situação. E quem não se lembra do tronco que caiu do nada numa tarde de verão em plena serra de Sintra vitimando mortalmente um membro duma família que fazia um piquenique?

Não conheço a situação do Linhó como também não consigo identificar os sítios de São Pedro onde foram abatidas árvores com centenas de anos. Penso é que devemos todos ter o bom senso de analisar as situações. Seres verdes com vida e vitalidade são úteis e recomendam-se. Outra coisa é seres verdes caducos que podem pôr em causa a segurança das pessoas. Também na nossa serra são necessárias acautelar as situações de fogos florestais.

Não há uma política para isso? Bom, isso é outra história. Mas há alguma política boa para alguma coisa? Penso que de forma geral os nossos espaços verdes estão bem conservados quando comparados com 5 ou 6 anos atrás, em especial nas freguesias de Santa Maria e São Pedro.

É pois necessário que as pessoas que defendem causas revejam as suas acções sob pena de caírem em desconsideração. Exemplo recente disso uma petição de uma Associação que anda a circular mas que ninguém percebe o que reclama nem a que se destina. Depois a desconsideração leva a ausência de resposta a pedidos de esclarecimento. A certas situações eu também não responderia……

Aproveito estar a escrever neste artigo para deixar um pequeno repara a um outro sobre a Biomassa. Será útil à defesa de causas recuperar assuntos com quase 2 anos e que já estão encerrados? Não há nada de mais importante que se passe na nossa terra actualmente merecedor de discussão?

Saudando a existência deste espaço, espero que esta minha intervenção tenha sido adequada à razão de ser do mesmo.

Apresento pois os meus
cumprimentos ao autor,

Filomena Sousa

Sintra do avesso disse...

Filomena Sousa,

Primeiramente, a dar-lhe as boas-vindas ao sintradoavesso já que me parece ser a primeira vez que entra neste espaço.

E, a vários títulos, o seu contributo é precioso porquanto toca em assuntos diversos mas todos afins da preocupação que nos une em defesa do ambiente natural, particularmente das árvores nossas irmãs.

Julgo ter entendido a sua posição bem realista, sem ponta de lamechice nem estéreis fundamentalismos de pacotilha. Uma coisa é a sadia e esclarecida preocupação com a árvore na sua totalidade, com a árvore e a sua circunstância, outra a parvoíce bem disseminada aí por Sintra e arredores, da preocupação com as «arvorezinhas» ou, como também por vezes costumo escrever, o desvelo com as «florinhas da Volta do Duche»...

É, aliás, neste último contexto da palermice lamecha, que se enquadra a petição a que alude, cujos objectivos ninguém entende, a menos que não passe de manobra de afirmação de presença de uma associação há muito esvaziada de conteúdo e de militantes.

Quanto à biomassa, cara Filomena Oliveira, considerei oportuno ter trazido o assunto à consideração de todos, através do sempre actual e pertinente artigo do Fernando Castelo, na medida em que é um caso paradigmático de uma estratégia camarária que é preciso denunciar e pôr a claro.

Repare que, de vez em quando, mesmo sem qualquer objectivo de concretizar seja o que for, a Câmara anuncia determinado projecto que, tão somente, serve para entreter. Por exemplo, os casos da construção de um hotel em Monte Santos, do hospital, da Universidade ou, mais recentemente, a Cinelândia (que, tal como a famigerada Sintralândia de Edite Estrela, é coisa condenada à partida). No entanto, anuncia-se milhares de postos de trabalho, e, no caso da biomassa, uma especial atenção aos problemas do aproveitamento de subprodutos florestais afins da produção de energia, demonstrando como estão atentos os autarcas que, afinal, outra coisa não pretendem que «encher o o olho» dos papalvos... Tal não significa que, de qualquer modo, os cidadãos não se pronunciem e organizem com o propósito de contrariar a remota possibilidade de concretização daqueles projectos que, à partida, se revelarem inequivocamente perniciosos.

Conto, todos contamos, com a sua continuada presença e precioso contributo por estas bandas.

João Cachado

Sintra do avesso disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Professor,

Intervenho desta vez para mostrar total agrado pelo comentário feito pela Sra. Filomena Sousa da Portela. De facto tudo o que a Senhora refere é importante e verídico, até os casos concretos expostos eu pude testemunhar.

Definitivamente, o caminho da defesa de causas em Sintra, passa por intervenções realistas e oportunas com vista à credibilização das mesmas e das pessoas que as apresentam. As acusações gratuitas ou as lamechices que Professor aponta em nada favorecem as causas e as pessoas.

Oxalá mais gente se "junte ao clube".

Ricardo Duarte

Sintra do avesso disse...

Meu Caro Ricardo,

Muito gosto que tenha voltado a esta lide do sintradoavesso. A propósito da sua intervenção que, na sequência da de Filomena Oliveira, se relaciona com a pertinência e alcance de certas lutas em defesa do património de Sintra, considerei oportuno publicar amanhã um mail que hoje recebi, impondo-me a necessidade de esclarecer que nada tenho a ver com a Associação de Defesa do Património de Sintra que pôs a circular a tal petição.

Mas, como acabo de informar, só amanhã sairá. Esteja atento porque é capaz de conter matéria esclarecedora.

Um abraço do

João Cachado

Anónimo disse...

Senhor Professor,

Em primeiro lugar fico agradecida por considerar o meu comentário precioso. Participo esporádicamente em blogs ou fóruns de opinião sobre assuntos que acho interessantes e desta vez resolvi intervir no seu.

E fico agradecida porque como já tenho alguma "experiência" nos blogs e fóruns, por vezes acontece a nossa posição não ficar clara ou ser mal interpretada, pelo facto de ser lida e não ouvida.

Depois de reler o meu texto quando publicado pelo Senhor, fiquei com essa sensação, de poder causar algum mal-entendido.

Felizmente não e tal como o Senhor, houve até outro leitor que bem entendeu a mensagem.

Fico feliz por isso e espero voltar a intervir no seu espaço.

Obrigado,

Filomena Sousa.

Anónimo disse...

Eu também compreendo e muito me entristece o facto destas arvores estarem a ser cortada deste modo, mas vejamos o facto delas estarem de facto muito envelhecidas - e não me compete dar-lhes o destino qualquer que ele seja - apenas se tem de fazer algo quando elas já não aguentam os anos de vida e que com as intempéries invernais não se sustentem tão bem quanto o desejariamos.

Apenas irei relatar um breve episódio da minha vida quando por São Pedro passava a caminho de casa, numa noite invernal depois de umas valentes chuvadas, instalando-se um vendaval arrepiante, pois ali passava eu de carro e com grande susto o meu ao ter ouvido um trovão sem ter visto qualquer sinal de relampago, ao que abrandei, e por sorte tenho a dizer, não ter abrandado mais ainda, pois em vez de levar com a copa deste robusto plátano secular, lhe tinha visto o belíssimo tronco em cima, e hoje não teria oportunidade de relatar a sorte que tive.

Os Bombeiros de São Pedro são testemunhas do susto que levei, pois mal cheguei para explicar o sucedido, nem conseguia explicar nada de tanta gaguês que me ocorreu.

Sei que na manhã seguinte, passei para ver a Gigante que teve a ousadia de me afrontar, e digo-vos que era digno de se ver o seu tamanho jurássico, e mais ainda ver do que me livrei.

Por esta razão, penso que se deve dar um destino prudente às árvores jurássicas de Sintra, não concordo com o seu abate, mas sinto que são perigosas para a via pública, afinal a cidade é para as pessoas, e não nos podemos sentir ameaçados pela natureza, mais ainda do que as formas que por ela somos ameaçados, mas ponderação e bom senso seriam de louvar.

Plantemos árvores sim, mas não nos esqueçamos que convivemos com a natureza, não a queremos destrui, mas também não podemos deixar que seja ela a destruir-nos a nós.

Daniela.