[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O IIM da Correnteza

Foi tornado público que, em tempo oportuno, o Município de Sintra oficiou a Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo de que pretendia classificar, como imóvel de interesse municipal (IIM), o monumento aos combatentes da Grande Guerra, situado na Alameda dos Combatentes da Grande Guerra, na Freguesia de Santa Maria e São Miguel, Concelho de Sintra.

Mais tarde, em 5 de Janeiro de 2009, a referida DRCLVT oficiou a Câmara Municipal de Sintra informando que o monumento não apresenta valor cultural de âmbito nacional, nada opondo a que o processo siga os seus trâmites, a nível local, com o objectivo da sua classificação como IIM.

Nestes termos, tendo em consideração o disposto nos artigos 25º e seguintes da Lei noº 107/2001, de 8 de Setembro, e por força dos despachos do Senhor Vereador da Cultura e do Senhor Presidente da Câmara, respectivamente de 20 e 21 de Janeiro de 2009, o processo prossegue. Sim senhor, independentemente das características do monumento, nomeadamente, as de caris estético, os decisores políticos vão em frente. Sim senhor, assim, sim. Como se vê, grandes decisões…

Mas as coisas não acabam por aqui. Reparem que já foram acautelados todos os condicionamentos, despoletadas as restrições legalmente previstas e regularmente aplicáveis, não podendo o monumento ser objecto de qualquer alteração ou modificação. E mais, durante dez dias, decorreu um período em que os interessados tinham o ónus de carrear, para a instrução do procedimento, todos os factos susceptíveis de fundamentarem a sua pretensão e de conduzir a uma justa e rápida decisão.

Caramba! Isto é que tem sido um afã…

Entretanto, cumpre lembrar que o monumento fica no topo da referida alameda, ocupando o centro de uma pequena rotunda, nas imediações da Casa Mantero. Situa-se num privilegiado local da freguesia e de toda a sede do concelho, ou seja, o sítio que todos conhecemos pelo topónimo de Correnteza. Dali, daquela varanda, o panorama é soberbo [bom será que não olhem para baixo, pois o matagal, aparentemente tranquilo, é uma dor de cabeça…], a exposição ao Sol, tudo convida ao remanso, ao simples gozo.

A Correnteza, meus amigos, paralela à rua onde resido, já conheceu melhores dias. E não preciso de recuar quarenta anos, altura em que estava absolutamente impecável. Hoje em dia, no entanto, é lugar invariavelmente descuidado, sujo, engordurado ao ponto de se tornar perigoso circular. A calçada à portuguesa, lindíssima, com motivos ondulantes, está esburacada, aos altos e baixos.

De vez em quando, certo é que muito espassadamente, significando isto que, entre as intervenções podem decorrer anos, lá se faz um ou outro benefício. Mas, depois – eis a grande pecha que os decisores políticos não conseguem colmatar – não há manutenção regular. Passam os cantoneiros de limpeza, aplica-se o herbicida e mais nada. Durante meses, anos, o pavimento não é lavado. Em períodos de seca, não caindo um pingo de água, é uma lástima, uma autêntica vergonha.

Podia, devia ser lugar onde pais e avós descansassem, deixando os miúdos à vontade. Mas não, não convém. Tanta é a porcaria à solta que, realmente, qualquer pequena queda de uma criança pode dar lugar a um sério problema. Infelizmente, não é exagero. Assim sendo, como querem que receba a notícia da qualificação do monumento como IIM? Com todo aquele desleixo à volta, é de ficar muito feliz?

Como é de calcular, a Liga dos Combatentes de Sintra deverá ter feito o seu trabalho no sentido de desencadear todo este processo administrativo. Bom seria que, igualmente, insistisse na requalificação de toda a envolvente. Poderia, inclusive, lançar a ideia do voluntariado, abrangendo membros da Liga e cidadãos em geral que, articulando com os serviços autárquicos, pudessem dedicar algumas horas ao arranjo do ajardinamento local. É prática bem vulgar em latitudes mais civilizadas.


Bem gostaria de garantir que, tenha a sugestão pés para andar, eu estaria na primeira linha desses voluntários. Espero que o Presidente do Núcleo sintrense da Liga, o meu amigo Dr. Joaquim Cardoso Martins, tenha uma palavra a dizer.



6 comentários:

Anónimo disse...

Professor,

Preparava-me eu para deixar um comentário no seu artigo anterior e eis que me deparo com, talvez o melhor artigo por si exposto desde que visito o seu espaço. Mato assim dois coelhos.

Sobre o anterior, dizer apenas que o email da sua amiga traduz da melhor forma o pensamento de toda a gente, creio, quando lê a referida petição. Seria pois útil a ADPS rever o texto ou dar uma explicação adicional uma vez que, pelos vistos, muita gente já o leu e não o compreende.

Sobre a Correnteza, é talvez o caso que mais me custa falar, que mais mágoa me causa e que melhor representa o que é a mentalidade vigente em Sintra. Além da sujidade e da degradação que aponta falta acrescentar a prostituição masculina e o tráfico de droga à noite, embora hoje em dia de forma esporádica. E digo de forma esporádica Professor, porque eu estudei na antiga Escola dos Plátanos onde hoje funciona a Segurança Social e tanto eu como as pessoas da minha geração sabemos o que por ali se passava, porque víamos, quando fazíamos o caminho de regresso a casa em especial nos dias de Inverno.

Até final do ano passado funcionou na Correnteza um Bar que revitalizou de alguma forma aquela zona. Durante esse tempo, foi apontado por QUASE todos que a zona estava melhor, que já não se viam as “situações deprimentes”. Obviamente que não iria durar muito em Sintra. Não vou entrar em detalhes porque a situação é de tal maneira caricata que contada pouca gente acredita. Resumindo a história, tudo começou porque um vizinho se queixou várias vezes que lhe incomodava o facto de ter muita gente junta na rua perto da sua casa. Daí a um rol de situações levantadas foi um passo. Chegaram a passar-se situações completamente surreais porque acima de tudo o problema do vizinho não era a falta de sossego. Um grupo de cidadãos no qual eu me incluí, mostrou vontade em melhorar mais ainda a Correnteza e quando conseguida uma reunião quer com o vereador responsável, quer com o comandante da GNR, o Professor não imagina a mentalidade vigente. É um autêntico K.O. sem entrar em combate.

Resultado: o Bar fechou, os estrangeiros (incluo uns artistas que participavam num dos espectáculos do Festival de Sintra numa noite no Olga Cadaval) que hoje voltam a procurá-lo ficam incrédulos quando sabem da história mesmo de forma muito resumida, a prostituição masculina e tráfico de droga voltaram, a GNR está contente, a “Câmara” está contente, o vizinho está contente….

Todos estão contentes menos as pessoas de Sintra.

Ricardo Duarte

Anónimo disse...

Meu caro João Cachado,

Por vezes já me custa dar opiniões, porque se mentirmos não virá grande mal ao mundo e os dirigentes ficam contentes e são fraternos. Se falarmos verdade, somos desconsiderados e mal interpretados.

Estamos um pouco como Mouzinho de Albuquerque quando dizia "mal com os homens por amor de El-Rei e mal com El-Rei por amor dos homens...".

Anda o Senhor Presidente da Câmara muito entusiasmado (pelo menos dá a entender isso) com a marca "Sintra - Capital do Romantismo", e não aproveita para passear no local de vez em quando. Que chatice, passa por lá de carro e nem chega a apreciar a sujidade que lá existe.

Quanto a uma coisa qualquer que anda na NET e que parece ser uma subscrição de imagem, tal como o Senhor Ricardo Duarte também não a entendi. Da mesma forma não entendi a posição da mesma entidade proponente sobre o que se tem passado em Seteais, em Vale dos Anjos, corte de árvores em Chão de Meninos, Casas Pombalinas em derrocada mesmo por debaixo da Volta do Duche e até sobre a aplicação do dinheiro do Fundo de Turismo na recuperação de casas na Zona Histórica.

Tudo se vai passando sem Glória.

Anónimo disse...

Acredito na simplicidade com que a DRCLVT oficiou a CMS dizendo que, o monumento não apresenta valor cultural de âmbito nacional.

No entanto seria de bom tom, apresentar outro tipo de justificação, para não nos obrigar a perguntar, porque está ali e o que representa afinal, aquele monumento e todos aqueles nomes ali inscritos?

Porque morreram então todos aqueles militares, ou quem os mandou liquidar na flor da idade? Esta era afinal uma guerra que não lhes pertencia, que certamente também não pediram para participar.

Deixam-nos com a ideia, que foram obrigados a partir para a guerra colonial para salvar Sintra e, sendo assim o monumento só poder ser considerado como Imóvel de Interesse Municipal (IIM).

Aproveitava ainda, para dar uma dica sobre aquela varanda, "onde o bom será que não olhem para baixo", mas digo eu "olhar para cima também não será boa ideia.

Porque esta área se encontra infestada de pombos, logo, nunca se sabe o que pode acontecer, basta observar os parapeitos dos muros e o chão, para ver a imundice e sentir alguma repugnância destes ratos de asas.

Sintra nunca teve como tradição, pombos a sujar os seus monumentos.

Anónimo disse...

Meu amigo,

Por favor rectifique a minha anotação: É Afonso de Albuquerque e não Mouzinho.. Desculpe.

FCastelo

Anónimo disse...

Muito oportuno este artigo e ainda mais o comentário do Senhor Ricardo. De facto, tudo o que refere é verídico e faz parte da nossa memória. Um sobrinho meu também estudou nos Plátanos (quantos jovens deste País têm/tiveram o privilégio de estudar numa quinta????). Quanto ao Bar de que fala eu era frequentadora do espaço à tarde (e que bem se estava) bem como o meu filho que se juntava com os colegas para estudar ou para conviver mais à noite.

Sem entrar nos detalhes e no ridiculo das situações, resta-me ser mais uma pessoa a lamentar as tais "mentalidades vigentes" que acho ou de uma forma geral achamos, não serem tão inocentes quanto isso...

Parabéns ao autor e ao comentador,

Filomena Sousa

Sintra do avesso disse...

Caro Fernando Castelo,

Primeiramente, vamos à rectificação
ao seu comentário das 18.20 do dia 26 de Fevº:

Onde se lê Mouzinho de Albuquerque deverá ler-se Afonso de Albuquerque.

Agradeço-lhe este cuidado. Já todos tínhamos percebido o lapso e até já o releváramos.

E, certamente, aproveitámos a referência para meditar no exemplo de tantos portugueses, cuja memória veneramos, que se viram nas mesmas circunstâncias, na mesma nobilíssima perplexidade.

Vamos esperar que, nestes nossos tão conturbados tempos, pouco propícios à afirmação da dignidade, haja por aí quem continue a colocar-se nesta sublime dificuldade.

Abraço do

João Cachado