[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 20 de agosto de 2009



De medalha em medalha...


Não me recordo se já foi durante este último ou se ainda no seu primeiro mandato, que o Presidente da Câmara Municipal de Sintra surpreendeu a generalidade dos munícipes com a atribuição de medalhas do concelho a uma série de pessoas, figuras mais ou menos mediáticas, da canção popular, da televisão, etc, cujo mérito ou demérito e enquadramentos artísticos me passam completamente ao lado.

Quanto muito, relativamente a tais pessoas, ter-me-ia interessado, isso sim, entender que empenho a favor de Sintra terá sido o seu para que o Município os tivesse distinguido de modo tão singular. Receoso de que, por parte dos artistas em questão, alguma obra de benemerência, por exemplo, tivesse escapado à minha atenção, ainda inquiri - numa razoável amostragem - junto de amigos que, normalmente, estão muito mais ao corrente acerca do que se passa nos bastidores da cena municipal. Em vão. Não sabiam.

Neste contexto, apenas me restava concluir que, em prol de Sintra, terão cometido a suprema ousadia de… residir no concelho. Tão somente isto. Enfim, naturalmente, terá pesado o pertinente factor da sua efémera popularidade já que, por via da televisão, entram tais figuras também em casa dos permissivos cidadãos sintrenses, inclusive nas daqueles que, como eu, nem sempre se dão ao incómodo de mudar de canal.

A surpresa, até uma certa perplexidade, relativamente à condecoração teriam razão de ser? Ora bem, em período pré-eleitoral das autárquicas, quem impedirá o eleitor de pensar que o corropio de medalhas e espectáculos cobertos pelo erário público, em determinadas alturas, podem ter um valor facial facilmente associável ao momento da cobrança, ou seja, o seu aproveitamento em campanha eleitoral?

Limitamo-nos a falar de política e, nesse sentido, já não há quem não entenda a estratégia. Mas, santo Deus, este já não foi chão que deu todas as uvas? Em pleno terceiro milénio, depois de dezenas de anos de campanhas eleitorais, durante as quais se vendeu todo o género de produtos, uns mais outros menos ordinários, ainda estamos neste pé, de caça ao voto através de figuras sem valor acrescentado ao desenvolvimento local, conhecidas porque aparecem no pequeno ecrã?

Se querem a minha opinião, recuso-me aceitar que o eleitor médio do meu concelho se deixe apanhar por manhas e artimanhas que tais. E parece que não estarei mal acompanhado já que, pelo menos por enquanto, a maioria das candidaturas tem recusado o recurso a tais intermediários.



6 comentários:

J. A. Morais disse...

Caro João Cachado,
Estava a pensar intervir quanto ao seu post de ontem quando apareceu este há minutos. Como vai na mesma linha não me desvio muito do que pretendia escrever. A verdade é que esta é uma forma de fazer política que fez escola e continua a produzir efeito enquanto o votante for quem os nossos políticos conhecem muito bem. Desconfio que o Cachado não conhece os eleitores tão bem como o Presidente dr. Fernando Seara. Ele sabe que os tais medalhados e o futebolista caçam votos e pouco se ralam se os eleitores são mais ou menos grunhos e analfabetos. Não sei fazer sociologia barata nem mais cara mas este tipo de políticos sabem o terreno que pisam. Gostava que não fosse assim mas a realidade é esta João Cachado e portanto não se iluda.Um abraço
José Adriano

António Pedro Neves disse...

Marco Caneira, Rui Veloso e Joaquim Almeida já estão no rol. Um dos próximos dias é a Ana Bola que também recebeu a medalha de ouro. Como a CDU de Sintra é comandada pelo Engº Baptista Alves que é coronel e militar de Abril, homem de esquerda, agora o Dr. Fernando Seara foi buscar mais à direita o coronel Sousa e Castro do Conselho da Revolução para provedor dos munícipes. As manobras que são tão às claras que até uma criança espertinha entende.
A terminar deixo os meus parabéns pelo texto que dá gosto ler.
Pedro Neves

Artur Sá disse...

Amigo Dr. Cachado,

Em primeiro lugar, também os meus parabéns. O texto está muito bem escrito e cheio de ironia. Se as medalhas só sãp prémio por morarem em Sintra eu também quero uma. Um abraço
Artur Sá

Anónimo disse...

Caros amigos, nesse caso, todos os sintrenses merecem medalhas por viverem no concelho governado por esta câmara,há oito anos!Eu também quero uma.E que tal lançarmos uma petição online, reclamando a entrega de medalhas a todos?Pode ser que ainda sobrem «umas migalhas» do último empréstimo de quase 10 milhões.
Margarida

Carlos Esteves Gonçalves disse...

Não há dúvida que se trata de medalhas. Em relação à história contada parece-me mais um caso de moeda de troca, do género «toma lá dá cá»...
C. E. Gonçalves

Fernando Castelo disse...

Caro João Cachado,

O amigo Artur Sá (não levará a mal que assim o trate, pois aprecio as suas frequentes intervenções) abordou aqui a questão da "independência", opinião em que divirjo, pelas razões que irei apresentar.

Ao estarmos desobrigados perante quaisquer forças ou partidos políticos somos cidadãos, temos a faculdade de apoiar quem quisermos, quando, segundo as circunstâncias e aquilo que no horizonte nos possa indicar um melhor caminho colectivo.

A "independência" é uma coisa complicada, porque ninguém é independente.

De cada vez em que, por razões da vida colectiva, se tente fomentar a "independência" está a dar-se um tiro no pé, pois os inimigos aproveitam essas nossas cautelas para lançar todo o xadrês, enchendo-nos os olhos com a Raínha, os saltos do Cavalo, as linhas do Bispo e alguns Peões que rastejam perante um Rei que se julgue forte mas seja um fraco.

Muitas vezes, ao pretendermos ser "independentes", tornamo-nos isso sim "dependentes" daquilo que outros desejam fazer, tantas vezes contra nós.

Regressando à matéria em apreciação política, talvez seja útil apreciarmos a edição do Domingo 16 de Agosto de 2009 do 24 HORAS "O JORNAL DAS ESTRELAS".Assim:

Praticamente toda a primeira página é dedicada ao candidato à junta de Freguesia de Almargem do Bispo, não com um traje naturalmente usado, mas devidamente equipado com a camisola do clube que representa. Na parte superior, sobre a direita (zona alvo da publicidade) uma foto do presidente de câmara que o convidou. Avalie-se o conceito de "independência", sabendo-se que em Almargem do Bispo estavam inscritos 6899 eleitores (14º lugar em 20 freguesias!!!). Como seria se fosse candidato em Algueirão-Mem Martins.

Já que falei na edição do 24 HORAS, sugiro uma leitura bem disposta às páginas 32 e 33 da mesma edição. É uma peça que ficará para a história. Da dependência? da Independência? Essa a riqueza da nossa apreciação.

Um abraço,

Fernando Castelo