[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Sintra,
de olhos bem abertos

Os leitores destas páginas que não dispensam o JL, certamente se lembram de uma rubrica que, em tempos mais recentes, costuma ocupar a coluna mais à esquerda da antepenúltima página, subordinada ao título Os lugares de, onde, quinzenalmente, certos escritores, jornalistas, actores, chefes cozinheiros, músicos, etc, mais ou menos conhecidos, se limitam a indicar os pessoais lugares de eleição.

Fica-se a saber, por exemplo, quais são os seus restaurantes, cafés, cidades, monumentos, museus, teatros, cinemas, livrarias, praias e outros sítios que, de algum modo, por um lado, ajudam a entender quem assim opina e, por outro, poderão constituir lembretes de lugares a visitar, revisitar ou, tão somente lembrar, coincidir na escolha.

Aquelas pessoas também se pronunciam quanto a um passeio em especial. No número 1010 de 17-30 de Junho, o jornalista e escritor Domingos Amaral indica "(...) pela Serra de Sintra, um local belíssimo e com muita riqueza de horizontes e de locais a visitar" e, no número 1013 de 29 de Julho-13 de Agosto, o chefe de cozinha Henrique Sá Pessoa também vai no mesmo sentido quando, muito mais telegraficamente, refere "Sintra".

Este é apenas um exemplo, de uma entre outras publicações que, com idênticos figurino e propósito, solicitam este tipo de participação. Pois, tão frequentemente quanto se adivinha - até porque Sintra é um desafio de beleza perante o qual não há quem não se renda - esta terra é apontada e, sem qualquer sombra de dúvida, não há a menor razão para pôr em causa tão sábia selecção.

O que eu coloco em dúvida é a circunstância de, invariavelmente, tais pessoas fazerem os comentários mais encomiásticos a Sintra, ao centro histórico de Sintra, à Vila de Sintra, a São Pedro de Sintra, à serra, aos caminhos românticos, etc, etc, como se não vissem, observassem e reparassem nas mesmas ofensas que, no desgraçado quotidiano eu vejo, observo, reparo e, constantemente, denuncio.

A demonstrar que, efectivamente, não sou caso único, aí está a transcrição do comentário ao Para meditar, hoje publicado pelo nosso amigo Fernando Castelo, coincidindo neste preciso registo:

"(...)
Por vezes pergunto-me se vivemos na mesma Sintra, a que corresponde às frases bonitas da época em que por cá passaram Lord Byron e outros, pois não há referências a caravanismos no Parque Histórico, a contentores de lixo junto à paragem onde os visitantes aguardam transporte.

Terão Strauss ou Garrett convivido com aquela casa de queijadas, junto à CP, que ostenta ferros ferrujentos e cobertura ondulada de plástico? Ou pelas casas tão sujas com pátios horríveis como se podem ver do alto da rua Miguel Bombarda? Andersen passeou por debaixo da Rua dos Arcos?

Esses visitantes ilustres, que fizeram frases tão bonitas que agora se lhes agarram como lapas às citações, chegavam ao Ramalhão - A ENTRADA NOBRE DE SINTRA - e encontravam uma estrutura tubular com um pano, a anunciar a "Festa da Espuma"?

Talvez fosse bom primeiro lavar-se a cara disto tudo, aplicar os dinheiros na melhoria da qualidade de vida, desenvolver hotéis em vez de motéis (estes sim, têm sido aprovados), limpeza adequada. Depois publicitar o turismo. (...)"

Enfim, em tempo de campanha eleitoral, bom será que as várias candidaturas lavem os olhos, limpem as ramelas e nos devolvam Sintra tal como está, na realidade, propondo as mudanças que se impõem. Naturalmente, uma delas há-de ir no sentido de que se passe a andar muito mais a pé. É verdade e simples pois, caso contrário, continuando o peão a passear-se de automóvel onde não pode nem deve, não vê nem um décimo das misérias que por aí vão, coisa que só interessa aos conhecidos defensores do statu quo.





2 comentários:

Lívio Marques disse...

De facto as pessoas atiram ao ar a sugestão de Sintra porque não têm hipóteses de errar pois é sempre bonita. Mas se viessem cá e andassem como nós pelos sítios se calhar envergonhavam-se. Era óptimo porque ajudavam a tirar a máscara desta câmara que vai deixar Sintra pior do que encontrou há oito anos.

Lívio Marques

Anónimo disse...

Então mas afinal, o que querem não é percorrer a tal Sintra Romântica que esta Câmara quer vender, aquela que fingem nem ver?Levantai-vos oh sintrenses,lançai o vosso grito de revolta do alto de Santa Eufémia,com cuidado para não serem atropelados pelos veículos que atravessam o santuário, num total desrespeito pelo carácter sacro do local;Vós que tudo tendes aceitado, desde o violento ataque aos azulejos da Fonte da Sabuga,às caravanas no centro da vila, aos edifícios «embrulhados»em promessas de intervenções que nunca chegaram,aos parques de estacionamento, a criar na Regaleira, para que os senhores barrigudos que assinam protocolos, não tenham de cansar suas pernas preguiçosas, para lá chegar.Sintra, ergue-te rapido e clama justiça, antes que fiques votada ao mais profundo esquecimento, por estes «infieis» que te governam mas não te conhecem e que de ti apenas se aproveitam...antes que sejas só ruínas.Ergue-te, Sintra e renasce, Fénix do Monte da Lua, antes que até a Lua te volte as costas.
Margarida