Sintra,
pérolas a porcos?
Muito recentemente, o actual executivo camarário inventou uma marca comercial que designou como Sintra, capital do romantismo, com o intuito de cativar, para estadas mais prolongadas, os turistas que por aqui passam como cão por vinha vindimada.
Mais uma vez, aplicou o estafado truque de invocar a inegável beleza e o pendor romântico do lugar cantado por ilustres visitantes – que até qualquer analfabeto já está farto de ouvir citar – e, para começar a vender o produto «com a dignidade do costume», armou ao pingarelho na Regaleira, numa festa de duvidoso gosto. Claro que é uma estratégia que cai imediatamente pela base.
Infelizmente, na actual circunstância, e, em especial nas três freguesias da sede do concelho, Sintra continua terra descuidada, onde está instalado uma perverso conceito de tolerância que tudo mina, atafulhada de automóveis que não deveriam entrar, desprovida de eficazes dispositivos de estacionamento, sem transportes adequados aos diferentes destinos turísticos e de outra índole, um lugar onde não existe um programa de reabilitação urbana nem qualquer política cultural.
Neste contexto, promover a tal Sintra, capital do romantismo, é vender gato por lebre. E assim sempre continuará, enquanto não houver a nobreza de dignificar o lugar, aplicando todas as consabidas medidas que a restituirão ao patamar de beleza, de serenidade, estendendo-lhe o tapete de acesso ao fulcro de um certo tipo de compósito revivalismo europeu, onde tão pertinente é a componente romântica, com direito a lugar de destaque.
No entanto, tão ambicioso propósito não está ao alcance de autarcas que já tiveram oportunidade de provar a dimensão do seu engenho, enfim, da sua capacidade. São óptimos a inventar slóganes mas péssimos a concretizar atitudes que contrariem a cultura de desleixo que, essa sim, tão bem cultivam ou permitem que se cultive adrede.
Finalmente, muito bom seria que os eleitos locais, actuais e futuros, ao invocarem os aristocratas viajantes ingleses que passaram por Sintra no princípio e meados do século dezanove, não esquecessem que alguns desses nobres, por exemplo, William Bekford e Lord Southey, manifestaram uma flagrante antipatia pela população local, chegando o último destes a escrever que “(…) Cintra is too good a place for the Portuguese; it is only fit for us Goths, for Germans or English (...)”.*
O que não escreveriam eles se por aqui se aventurassem já em pleno terceiro milénio…
* vd. texto aqui publicado em 08.11.08
5 comentários:
Dr. cachado,
O Presidente da Câmara escreveu um artigo publicado no DN de 12 de Agosto em que refere este Southey. Pelos vistos desconhece que o tal lorde tinha uma rica impressão dos portugueses. E tinha razão porque nós sempre fomos uns trapalhões, uns mixordeiros. Mas o Dr Cachado descobre-lhes a careca a todos... Como dizia já o meu avô "o saber não ocupa lugar" e o Dr Cachado não há dúvida que sabe. Parabens pelo seu texto de hoje. Força neles, não lhe doa as mãos.
Um abraço
Artur Sá
Amigo Dr. Cachado,
Na verdade é preciso considerar que o caso da sede do concelho (Santa Maria, São Pedro e São Martinho) é muito diferente do resto. Nesta zona é que está o tal romantismo de Sintra e tudo o que faz a propaganda de Sintra e isso devia obrigar a uma administração diferente das outras freguesias. Sei que o Dr João Cachado é partidário desta solução, mas infelizmente ninguém agarra a ideia. Sou freguês de Santa Maria, cada um dos meus filhos vive com a sua família em São Martinho e São Pedro. Vivemos todos na joia do concelho mas esta zona é mais mal tratada do que qualquer freguesia urbana do betão. Não pode ser. Isto é especial e está tão despresado qué é escandaloso.
Cumprimentos,
Nuno Salvador
Venham depressa as eleições e a mudança necessária que os que lá estão já se viu no que deram. Pior do que está não pode por isso há que mudar.
Rui Lagarto
Então mas em recente entrevista ao DN, o Presidente da Câmara não disse que nas Juntas de Freguesia, a experiência autárquica é irrelevante?O pior é que após 4 anos de suposta experiência,a competência também continua a ser irrelevante.A única vantagem de se gerir uma Junta no Centro Histórico, é poder receber o pagamento de uma renda por parte da CMS,para almejar, ceder terrenos para construir um teleférico;como tal ainda não se produziu, planeou-se um parque de autocaravanas;como houve aí uns «chatos» a falar disso,também não se concretizou;que aborrecido!A única salvação, foi ter uma maioriazita que aprovou o pagamento de uma renda, para guardar numa garagem um autocarro que apanha sol na rua.700 a 700...
Margarida
BASTA DESTAS POLÍTICAS!!!
Meu caro João Cachado,
Este meu texto está desenquadrado da matéria em discussão e tão bem colocada no seu artigo.
Ao ler as notícias de hoje, acabei de ter a confirmação de que este concelho de Sintra está à mercê de decisões políticas de razoável mau gosto, como é o caso da aparente imposição de um futebolista profissional para gerir o futuro de uma freguesia.
Não está em causa o atleta ou a pessoa, está em causa o notório alheamento do promotor de tal candidatura perante as exigência que devem ser feitas a um autarca e ao cumprimento das suas funções.
Então um futebolista profissional, com um contrato por quatro anos celebrado em 2008, sujeito às condições especiais de atletas de alta competição, com estágios, treinos, jogos, manutenção física e outros actos com a actividade relacionados, alguma vez pode garantir o que quer que seja aos fregueses?
Aliás, o próprio clube, com o qual o atleta tem contrato, deveria manifestar-se pela alteração da estabilidade psicológica que, certamente, irá afectuar o rendimento do candidato.
O Poder Local e a vida autárquica para serem levados a sério obrigam ao maior respeito pelos eleitores e pelas populações.
Bem, não dá para perceber o que estará por detrás, mas que ficam preocupações, lá isso ficam.
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