[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 4 de setembro de 2009


Incoerência


Volto a Sintra, capital do Romantismo, campanha do município que teria o mínimo de plausibilidade, não fora a incoerente atitude da própria Câmara Municipal, precisamente nalguns dos sintrenses locais de mais evidente conotação romântica, ao demitir-se da defesa do património, e passando até a ofendê-lo.

Durante dois mandatos, férteis foram os casos de demissão e de omissão da edilidade. Aliás, no domínio da defesa do património, não fosse a correcta actuação da actual direcção da Parques de Sintra Monte da Lua, Sintra ainda ficaria pior no retrato. Mas deixai que, de imediato, passe à revisão da matéria já que, em véspera de eleições locais, não convém esquecer certos casos paradigmáticos, bastando não sair da zona de Seteais.

Primeiramente, o terreiro fronteiro ao palácio que, com o beneplácito do Igespar, foi intempestivamente encerrado pelo hoteleiro, invocando pretensas razões de segurança. Durante um ano, como não soube opor-se ao desacato, a Câmara foi conivente no impedimento de acesso a um espaço de manifesto pendor romântico e, há mais de duzentos anos, de usufruto público. Sem o empenho que seria de esperar, o executivo municipal prejudicou milhares de visitantes, especialmente de inúmeros estudantes e professores de todo o país.

Em segundo lugar, por obra e graça do (Ricardo) Espírito Santo – ou seja, por ordem do banqueiro e concessionário de Seteais … – com o aval do inenarrável Igespar e inequívoca cobertura da Câmara, foi destruído o edílico tanque, parte do dispositivo de lazer da quinta, prontamente transformado numa lamentável casa de máquinas.

Finalmente, o caso da Quinta do Vale dos Anjos. É do outro lado da estrada, frente ao palácio. A uma cota mais alta, está em construção a residência de mil e trezentos metros quadrados de Miguel Pais do Amaral. Claro que, entre outras entidades, também foi autorizada pela Câmara Municipal de Sintra. Provavelmente, no âmbito de Sintra, capital da incoerência, a permanente campanha do nosso desassossego…
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*Publicado na 6ª Coluna edição de 04.09.09 do Jornal de Sintra




4 comentários:

Maria Alda disse...

Tudo se passou há cerca de um ano e parece que já está esquecido. Não fico surpreendida porque em grande parte das casas, os homens estão preocupados com a bola e as mulheres com as novelas. Seteais é de certeza a última coisa que lhes ocupa a cabeça. Os políticos sabem disso, por isso fazem o que fazem.
Maria Alda

Ruth Silves disse...

O poder económico (Ricardo Espírito Santo), o poder político -Governo-Ministério da Cultura e Câmara Municipal de Sintra - constituem um triângulo que se aliou para tramar o património de Suintra em Seteais. Parece impossível mas contra factos...
Ruth Silves

Fernando Castelo disse...

Meu caro João Cachado,

Cá de longe, mais uma vez, consegui ter uma oportunidade para fazer um ligeiro comentário.

Para podermoa avaliar se este concelho está entregua a gente empenhada, dedicada a causas, que tenha a defesa patrimonial de Sintra num patamar quase de estrelato, que vibre de orgulho pera obra realizada, bastará que se avaliem as "embrulhadas de Sintra" (aquelas casas que na Volta do Duche ajudaram a que fossemos também embrulhados quando acreditamos que iriam ser recuparadas e Leonel Moura recebeu uma relevante quantia para apresentar a obra artística.

PENSO, ATÉ, QUE O AUTOR TERIA O DIREITO DE ACCIONAR JUDICIALMENTE OS MANDANTES DOS PAINÉIS, PELOS DANOS CAUSADOS AOS MESMOS E À EVENTUAL IMAGEM DO ARTISTA. Queiram ou não, aquelas pinturas foram arte que se destruiu em conjunto com as edificações.

Fossem dois ou três canteiros com flores a murchar ali pela Volta do Duche e até se poderia beijar as mãos a quem reclamasse.

Entregues como temos estado, o orgulho sintrense, volta não volta invocado, dá passos significativos para um desenlace terrível que, a uns quantos desiludidos, se antevê no horizonte.

Na realidade, Sintra está cada vez mais única.

Durante estes dias tenho insistido em visitas a Centros Históricos, com calma, pelas ruas entregues às pessoas.

Como é possível que outros Centros Históricos, com milhares de visitantes diários, que com crise ou sem ela encham os seus restaurantes e as suas lojas, os seus locais de lazer, não tenham seguido o exemplo de Sintra e antes enchessem os espaços com automóveis e servindo para auto-caravanismo?

Não admira, pois, que tivesse oportunidade de contar algumas das virtudes sintrenses no domínio do Património Histórico e destas aventuras que se passam com o Vale dos Anjos, Seteais (O Penedo da Saudade também nos foi usurpado), lixo junto à Igreja em plena paragem para turistas, etc., o que causou natural gáudio aos ouvintes.

Tive ocasião, até, de perguntar se alguma vez um candidato foi publicamente anunciado com a camisola de um clube vestida. Riram-se de inveja, pela certa.

E ficaram espantadíssimos como uma Camara Municipal de seu nome Elizabeth estava disposta a geminar-se com Sintra, talvez pelo Património Histórico e Cultural que as unirá.

É urgente inverter a história de Sintra, antes que seja demasiado tarde.

UM abraço de Brugge.

Anónimo disse...

Caro Dr. Cachado,
Não sei se estamos a viver o fim dum ciclo de desgoverno em Sintra que teve como consequência tantas ofensas ao património. Há muita fotografia que não deixa mentir nem exagerar. No dia que se fizer a história deste período não vai faltar material para ilustrar várias exposições...
Luís Lopes