Luminárias 2009
Na passada sexta-feira, dia 20, houve apagão no bairro da Estefânea, na freguesia de Santa Maria. Naturalmente, a exemplo do que tem acontecido nos anos anteriores, sabe-se que tais cortes, causadores de tanto prejuízo em determinado tipo de electrodomésticos e em equipamento informático, apenas acontecem quando entra em fase de operacionalidade a instalação das iluminações da época natalícia, a cargo da empresa à qual a Câmara Municipal de Sintra tem adjudicado tal obra.
Há três anos que, devido a ocorrências análogas, venho reclamando junto da autarquia. Em 2008, o Chefe do gabinete do Senhor Presidente da Câmara teve a amabilidade de me responder que, futuramente, teria em conta a lamentável experiência de factos inequivocamente atribuíveis nos termos do parágrafo anterior. Como se demonstra pelo sucedido na semana passada, o propósito anunciado foi ultrapassado pelas circunstâncias.
Naturalmente, este não passa de apenas mais um episódio a confirmar o lamentável estado de coisas decorrente da cultura do desleixo tão enraizada entre nós e, em especial, nas três freguesias da sede do concelho. Ninguém duvida de que, neste território restrito onde se situa o mais prestigiado e significativo património natural e edificado de Sintra, a jóia da coroa, infeliz e paradoxalmente, é uma das zonas mais desprezados do concelho.
No entanto, as luminárias nesta altura montadas, adquirem um particular significado. Se quiserem, analisemo-lo em três vertentes. Em primeiro lugar, porque o barulho das luzes contribui para a atenuação dos efeitos mais evidentes do descuido que, tão flagrantemente, atinge estas zonas. Por analogia, logo ocorre o anedótico exemplo da dona de casa badalhoca que atira para debaixo do tapete o lixo do qual não consegue libertar-se.
Por outro lado, no que concerne ao investimento em causa, dificilmente se admite que, em tempo de tanta restrição, a Câmara se permita despender, para efeito de efémera decoração urbana, significativas verbas com as quais poderia acudir a sectores tão carenciados como o social, que o Senhor Presidente da Câmara constantemente reclama, na medida em que tem de matar a fome a tanta criancinh. A dedicação total a isto também obriga...
Ninguém duvida de que, com muitíssimo menos dinheiro, é possível apresentar discretas iluminações que não deixariam de sublinhar o especial carácter do tempo de Natal cristão. Também por esta via, a Câmara Municipal de Sintra poderia fazer uma certa pedagogia junto dos cidadãos, demonstrando como, ao privilegiar uma certa contenção, que deverá acontecer em todas as áreas de intervenção, é possível dignificar a administração que compete exercer por mandato popular.
Finalmente, há a considerar o factor estético. Infelizmente, em Sintra, ainda há quem aprecie este tipo de decorações, à laia de arraial minhoto, com que o centro de Sintra é sobrecarregado nesta altura do ano. Enfim, é um sintoma do gosto prevalecente numa significativa percentagem de cidadãos que ainda levará muito tempo a alterar. De facto, trata-se de uma proposta extremamente agressiva que, afinal, somos obrigados a suportar em acumulação com as nefastas consequências destes incidentes.
NB: A propósito, ler neste blogue os textos publicados em 29.11.07, 22.11.08 e 23.11.08.
5 comentários:
Li este texto e também os que faz referência. Só não digo que é uma perda de tempo porque este blogue é muito lido e por acreditar que estas chamadas de atenção tocam certas pessoas. Mas os responsáveis como são gente inculta vão continuar a fazer como até agora.
Rosário Lopes
Os comerciantes de Sintra também têm muita culpa desta situação. As iluminações na Heliodoro Salgado não trazem mais vendas à zona se eles não se modernizam. São gente pouco evoluída e sem formação com lojas ultrapassadas a terem que concorrer com as grandes superfícies. Vem o Dr Seara e pelo Natal para lhes calar a boca encandeia o pessoal.
Ângelo
Faria aqui uma pequena correcção ao comentário do Sr. Angelo, o Dr. Seara não nos encandeia só no Natal, há 8 anos consecutivos que o faz e pelo andar das coisas, o vai continuar a fazer. Não acredito que com as trocas e baldrocas de vereadores e pelouros a situação melhore, isto porque o cancro encontra-se imediatamente abaixo dos anteriormente referidos, nas chefias de departamentos, divisão, nas empresas municipais, lembro aqui o caso do administrador da Regaleira que continua a gerir aquele lugar a seu "belo proveito" e dos seus "outsourcings" e que imaculadamente mantém o seu lugar. Talvez o Dr. Seara ignore o que se passa debaixo do seu nariz, talvez ache que não é bem assim e no entretanto o crime compensa.
Isabel Gouveia
Senhor Dr. João Cachado,
Antes de mais as minhas felicitações por este seu espaço onde se sabem coisas de Sintra que os jornais diários não reproduzem sabe-se se lá porquê.
Nem sempre o acompanho mas este deu-me especial interesse e esta tarde fui ver as tais iluminações das 330 mil luzes como diz o espaço net da Câmara.
Confesso que não sei bem como fizeram a contagem das luzes se foi por amostragem ou alguma equipa especializada em contar pirilampos (realmente não são lâmpadas mas coisinha pequeninas).
Uma coisa me saltou à vista mesmo junto ao portão do parque da Liberdade e foi um pilarete ou não sei como dizer melhor,que fala em Boas Festas com o emblema da Câmara Municipal de Sintra em baixo e o logotipo de uma empresa em cima. Nestas coisas o que está por cima é que tem o poder e aquele pequeno mamarracho não deixa entender se é algum patrocínio comercial ou que raio de coisa quer dizer.
Deixo esta minha dúvida agradecendo a alguém mais conhecedor que possa ajudar esta minha dúvida,porque peloo menos de mau gosto aquilo está cheio.
Muito obrigada pela sua atenção,
Beatriz Solovessa Telles
Caro Sr. João Cachado, gostaria aqui de felicita-lo pelo blog e por estar sempre alerta denunciando as aberrações que temos neste concelho. Achei muita piada a este seu texto sobre as iluminações de natal e gostaria de dizer duas coisas que me parecem importantes. Primeiro acho muito razoavel que este ano não tenham iluminado Sintra cedo demais ao contrário dos anos anteriores, haja um sentido de economia. Depois gostaria de apontar uma falha grave com que deparei o fim de semana passado durante um passeio que fiz com umas amigas minhas no domingo à tarde na Quinta da Regaleira, melhor dizendo à saida daquele lugar. Encontrar-mos uma porta para sair foi um acto de desespero, nem sinalização nem tampouco alguém por lá se encontrava dando apoio, depois quando descobrimos a tal saida tivémos, talvez passando por um teste iniciático, de baixar as nossas cabeças para conseguirmos sair porque atravessa a saida de uma ponta á outra, á altura da cabeça de um adulto um cabo electrico da iiluminação de natal, com uma união de extremidades exactamente onde se saí. Isto é de bradar aos céus, tanto desleixo quer da parte da empresa que fez a instalações quer da directoria da Quinta da Regaleira. Agradeço que publique esta minha queixa porque por lá não encontrei alguém para o fazer.
Deolinda Marques
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