João Cachado - Sintra
Ruas, Seara & Cª
No texto antecedente, o Fernando Castelo pôs-nos ao corrente de uma iniciativa do maior alcance para o bem estar e melhoria da qualidade de vida dos munícipes e visitantes de Viseu, que bem atesta da capacidade do Presidente da Câmara Municipal daquela cidade, ao decidir instalar um estratégico funicular cujos benefícios já se confirmam e avaliam em diversos sectores.
Fernando Ruas, conhecido pela sua longevidade autárquica e pelo que tem feito no seu concelho, também tem os seus deslizes, bastando recordar aquela sessão em que sugeriu o famoso "corram-nos à pedrada" referindo-se aos Vigilantes da Natureza do Ministério do Ambiente.
Agora, no recente Congresso da Associação dos Municípios Portugueses, acabaria por mostrar pouca sensibilidade relativamente às questões ambientais, nomeadamente quanto à preservação de determinadas espécies animais. Deu a entender que quaisquer manobras de defesa de determinadas espécies animais, como pequenos roedores ou o lobo, não devem avançar se puserem em causa os interesses afins da preservação da espécie humana.
Dificilmente se poderá debitar maior disparate. Hoje em dia, graças a Deus, qualquer miúdo do primeiro ciclo do básico sabe que a ameaça de extinção de qualquer espécie animal ou vegetal põe em causa um equilíbrio global nos termos do qual o homem é apenas um elemento indissociável…
Enfim, o mínimo que poderia dizer-se é que se tratou de um incrível deslize, a manifestar uma falta de jeito que brada aos céus, numa altura em que não pode estar mais ao rubro a problemática do respeito pelo ambiente e todo o património com ele relacionado.
A colherada de Seara
Na reunião magna em apreço – ah! como resistir à presença da televisão… – o Presidente da Câmara Municipal de Sintra também interveio, certo é que sem grande destaque, chamando a atenção para o facto de a corrupção não ser um exclusivo dos municípios. Claro que não é, diremos nós que também o sabemos, bastando para o efeito abrir as páginas dos jornais e estar atento aos outros media.
Infelizmente, tanto os exemplos que vão surgindo um pouco por todo o país como os referidos à boca pequena, têm emporcalhado o poder local, num imenso lodaçal, em consequência dum imparável vórtice corruptivo, avultando os loteamentos à trouxe-mouxe, uma gestão do território que é uma chaga insuportável.
De qualquer modo, ainda não constituem argumentos que bastem à mórbida avidez dos grandes promotores turísticos e imobiliários, que vão contando com a compreensão dos autarcas para a concretização de negociatas, mais PIN menos PIN, que comprometem a qualidade de vida no presente e no futuro.
Na realidade, o Dr. Fernando Seara podia não ter focado as suas palavras na desajeitada tentativa de branqueamento de tão nocivas actuações de autarcas que, implícita ou explicitamente, têm facilitado o alastramento pelo território nacional dessa horrorosa mancha. Ultimamente, de facto, o nosso Presidente ou não acerta ou desacerta mesmo, nas atitudes públicas de que vamos tendo conhecimento. Como poderão verificar nos próximos parágrafos.
(continua)
4 comentários:
Entre Ruas e Seara venha o diabo e escolha.
Aleixo
As câmaras municipais não têm o exclusivo mas têm contribuído com grande percewntagem da corrupção nacional. Como se vê pelo caso «face oculta» um presumível corrupto foi vereador numa câmara "bem conhecida"... e estava a fazer pela vida numa grande empresa pública...
Rogério C.
Mas o mais extraordinário é o facto do seara até saber das ovelhas ranhosas que tem no rebanho e nada fazer. São os irmãos, as afilhadas, as esposas dos amigalhaços epor aí adiante. E depois, assim como é que se consegue justiça, igualdade de oportunidades e por aí adiante.É que este homem até tinha potencial para ser um bom autarca, mas não ouve...
M. Geraldes
Meu caro João Cachado,
Só o facto de ter abordado este tema merece felicitações.
Confesso que, quanto a mim, Fernando Seara não precisava de ter caminhado neste sentido, onde deixa aquela imagem da galinha que, ao espojar-se, espalha os grãos de areia em todos os sentidos, ficando sem algum debaixo dela.
Como a sociedade portuguesa ainda não chegou ao ponto de se permitirem campeonatos de corrupção, as tácticas ainda são incipientes.
Todos sabemos que há corrupção - ele melhor do que nós - e o combate não se faz deixando a idéia de que outros também fazem e ninguém fala deles.
O que os cidadãos querem é saber que medidas os responsáveis (ele incluído) desenvolvem para apurar até ao fim as situações que emergem e, quiçá, lhe são colocadas.
O "chapéu de chuva" que as instituições são tão pródigas em criar sempre que há uns fumos, é uma das vantagens conferidas aos presumíveis prevaricadores.
Por outro lado, a exigível maior transparência dos procedimentos em matéria complexa, não é compatível com a cada vez mais limitada divulgação pública.
Grandes processos como os da Cinelândia, Pegos, Mecenatos dos milhões, ou mais pequenos mas controversos, não só devem poder ser conhecidos como as respostas às autoridades fiscalizadoras não podem dilatar-se de tal forma que mais pareça deixar andar até tudo estar consumado.
Portanto, em vez de se apontarem outros, como seria bem mais importante anunciar medidas rigorosas de combate à mesma, nomeadamente criando - junto do seu próprio Gabinete - um reduzido grupo de especialistas que atendessem os reclamantes e investigassem a matéria exposta.
======
Nota
O estimado leitor Abílio Mendes, a propósito do texto do dia 4, coloca uma questão que merece um esclarecimento. No texto, Fernando Ruas foi referido - justamente - pelas medidas que tomou em defesa do património histórico e opção de um novo transporte com reflexos em menos poluição, desenvolvimento turístico e mais vida para o comércio local o que não é pouco.
Por cá, temos queijadas e galos de...Barcelos.
Sobre o montanhês, cuidadosamente, não me pronunciei.
Enviar um comentário