segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
AVISO
Até ao fim da primeira semana de Fevereiro, estarei em Salzburg, razão pela qual, entretanto, o sintradoavesso permanecerá em silêncio. Por favor, não deixem de ir enviando comentários e notícias acerca do que for acontecendo em Sintra. Se não me derem essa ajuda, o meu regresso à base, depois de tantos dias em terras austríacas,
ainda será mais difícil.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
Que comentário!...
[Se querem que vos diga, há alturas em que acabo por não saber o que fazer para gerir este blogue, de tal modo que vos seja da maior utilidade. Então não é que acabo de receber para publicação outro comentário, desta vez do Fernando Castelo, ao qual também não posso deixar de conferir a adequada relevância?
Não há dúvida que um suporte de comunicação, com estas características, permite a troca e o enriquecimento dos intercomunicantes de modo assaz interessante pelo dinamismo que chega a ser galopante. Por vezes tenho pena de não autorizar a saída a público de comentários que, apesar de pertinentes, carecem de substância ou são falhos da deontologia que considero ser de bservar num blogue que, como este, não pretende confundir-se com esse lodo que emporcalha a blogosfera.
Assim sendo, depois desta reflexão, cujo pretensiosismo é directamente proporcional à consideração que tenho por todos quantos procuram estas páginas, então, aí vai outra transcrição.]
"Meu caro João Cachado,
Permita que coloque, aqui, uma questão prévia: Salvo opinião contrária dos interessados, é preciso que, por todo este concelho, se conheçam os nomes de quantos colaboraram nesta aprovação, porque se é certo que a Proposta é levada pelo Presidente da Autarquia, não podem deixar de ter responsabilidades sobre uma matéria que pode endividar os munícipes em mais uns anos, além dos que já sabemos. Isto de ficar em Acta é pouco...
Estes actos, curiosamente, têm um sinal contrário àquele que envolveu o mecenato ligado ao eléctrico e que sem ele as reparações necessárias não seriam feitas. Parece que faltava dinheiro.
Sabe-se que o dinheiro do Jogo (pelo menos que se veja) não tem sido aplicado na recuperação do Centro Histórico.
É estranha, pois, a galopante vontade em adquirir bens - a Câmara não é mecenas, não é verdade? - cujo estado, destino futuro e custos associados à sua recuperação são desconhecidos.
No caso do Complexo de Fitares, existem duas componentes: Edifícios e Equipamentos. Os edifícios certamente com manutenção a cargo dos proprietários e os equipamentos (face à renda paga) a cargo de quem? Na verdade parece que os equipamentos não estão operativos, com funcionamento a partir de 2001, isto é, elevada taxa de utilização que se reflecte em desvalorização por uso.
NA PROPOSTA QUE FOI APRESENTADA, NÃO CONSTA A SEPARAÇÃO ENTRE VALORES DE EDIFÍCIOS E DE EQUIPAMENTOS, PARA MELHOR SE PODER AFERIR DAS RESPECTIVAS VALORIZAÇÕES.
Será que a Câmara vai adquiri-los e depois substituí-los? Bem, o segredo até pode ser a alma do negócio. Mas por lá não há, ao que se julga saber, poços de petróleo ou algum Posto de Combustível que faça brotar milhões.
Façamos uma extrapolação:
Admitamos,para efeitos de estudo académico, que a renda paga ao longo destes anos possa ter sido com um valor médio mensal próximo dos 30.000 euros. Nesta perspectiva, em 9 anos, já foram pagos mais de 3milhões de euros. Talvez ainda se possam acrescentar custos extra (p.ex. seguros).
Depois, devemos saber das razões que motivaram o encerramento das instalações (há mais de um ano) e, em consequência, a suspensão das actividades que eram oferecidas aos utentes.
Há pois uma penumbra na relação custo/benefício que deve ficar muito limpa, melhor dizendo, ser completamente eliminada para que a confiança na vida autárquica se mantenha e se evitem referências a generalizações.
Fernando Castelo
14.01.10"
[Então, é ou não um excelente serviço como base para nossa reflexão?]
Que comentário!...
[Acabo de autorizar a publicação de um comentário, assinado por Miguel Geraldes, relativo ao meu artigo de hoje Sintra em compras polémicas. As palavras são tão certeiras e pertinentes, sucinta mas tão valiosa a informação veiculada que, de imediato, lhe dou o devido destaque, através da sua total transcrição.]
"Caro Senhor, mais uma vêz o encontro na 1ª linha deste combate que é o da defesa do património sintrense.
Louvável tem sido a sua acção e desde já os meus sinceros agradecimentos. E em jeito de agradecimento procuro aqui contribuir com mais alguma informação sobre esse enorme atentado, a aquisição por parte da autarquia da Quinta do Relógio.
Necessidade do espaço para a dinâmica cultural é como o Sr. muito bem referiu, é no minimo anedoctico. Palco para mais um fiasco como foi o colóquio das tendas filosofais destinado a umas quantas bestas que se dizem iluminadas? Mais outro fiasco como o da Ribafria? NÃO! NADA DISSO! Aquilo é um jeitasso a alguém!
Vejamos, a Quinta do Relógio está em obras há pelo menos 9 anos, por dentro o edifício está totalmente desvirtuado da sua forma original. Existem hoje 2 novos pisos abaixo do nivél do chão, pretendiam os actuais proprietários fazer uma garage. As obras estão ainda hoje muito longe do seu fim. Quem é que as vai terminar, a CMS? Claro! Por isso, património só na fachada!
Também será aqui util dizer que a Quinta do Relogio está para venda na consequência de um divórcio e que não há nada como ter a ajuda de amigos influentes em horas de necessidade. Contribuir para aliviar o problema do estacionamento no centro histórico? È de mentecapto!
O Problema do estacionamento só se resolve na períferia! Olhem para outros países europeus e para as soluções por lá tomadas. Se quem tem estas ideias de génio, até nem é de todo parvo, só podemos ter o entendimento destes fenómenos que tanto afectam a nossa Sintra, naquela prática que por cá ganhou raizes e que aqui já referi. O jeitasso das negociatas! É desesperante!
Miguel Geraldes
14/01/10 15:11"
[Não acham que ficamos a dever um grande favor a Miguel Geraldes?]
Na página 22 da sua edição de hoje e em pequena peça assinada por Luís Galrão, o Diário de Notícias dá conta da Surpresa com compra de quinta degradada* em que faz um excerto da minha opinião sobre a intenção da Câmara Municipal de Sintra de adquirir a Quinta do Relógio.
Naturalmente, porque se trata de uma notícia muito sucinta, não pôde entrar no detalhe do texto que tinha remetido àquele jornalista. Todavia, como este blogue não padece das limitações da comunicação social escrita, passo a partilhar convosco aquilo que, neste momento, me parece conveniente. Não é que, por acaso, até nem saiba mais. Todavia, para já, é o que se me oferece. Fica desde já a promessa de voltar à liça a propósito desta matéria, consoante formos sendo informados da evolução do negócio em perspectiva.
Tanto quanto estou informado, a Câmara municipal de Sintra apresentou uma proposta de aquisições que se me afigura como encadeada mistura de alhos com bugalhos, numa tentativa de subtrair ao nosso entendimento que reais razões subjazem à estratégia de, num mesmo documento, incluir a compra de equipamentos afins de diferentes sectores, num montante tão significativo que muito bem pressuporia a afectação de propostas individualizadas.
Se, actualmente, como se afirma, estará longe de esgotada a capacidade de endividamento da Câmara; se, como é previsível, durante este mandato, se impõe concretizar obras e proceder a aquisições extremamente pertinentes, inequivocamente necessárias à melhoria de qualidade de vida dos cidadãos munícipes, então cumpre não comprometer essa capacidade de endividamento com operações polémicas e, nalguns casos perfeitamente evitáveis, porque sendo tal capacidade finita, na actual circunstância das finanças locais e nacionais ainda com mais cautelas se deve actuar.
No que respeita à vertente afecta ao sector da Educação e Desporto (terreno e edifícios onde funciona a Escola Básica nº 1 do Cacém e Complexo Desportivo de Fitares, faria uma chamada de atenção para a necessidade de melhor circunstanciar as razões a montante desta tomada de posição, nomeadamente, através da apresentação de um detalhe dos custos havidos:
- desde o início do regime de aluguer até à actualidade;
- estado actual das instalações e informação de pormenor quanto a eventuais obras a concretizar, no curto e médio prazos, para que o erário municipal não seja, intempestivamente, confrontado com a necessidade de despesas de manutenção, restauro e reparação, ao fim e ao cabo, provavelmente previsíveis, mas ainda não quantificadas. Com que intenção isto se passa é que cumpriria esclarecer.
Portanto, muito cuidado terá de se registar quanto à necessidade de perceber tudo quanto é prévio, no passado recente, exigindo que a EDUCA demonstre e circunstancie, o mais detalhadamente possível, a transparência da proposta, evidenciando como, em nome dos munícipes, tudo foi e continuará sendo feito no sentido de não restarem quaisquer dúvidas sobre a inevitabilidade da aquisição.
Aliás, neste contexto, julgo que deveriam ser, não só auscultados mas, inclusive, também envolvidos nesta fase de pré-decisão, os representantes da comunidade educativa em questão, na respectiva Assembleia de Escola. Os pais e encarregados de educação, os agentes económicos locais, a Junta de Freguesia, a paróquia, etc, têm uma palavra a dizer e, diria mesmo que, se ainda o não tiver sido feito, deveria ser aproveitada a oportunidade para marcar a diferença e ser pedagógico relativamente a situações análogas.
Quinta do Relógio
Quanto à aquisição da Quinta do Relógio, julgo que será de manifestar as maiores, as mais evidentes reservas. Desde logo, e, num pequeno parêntesis, chamaria a atenção para o facto de, no preâmbulo, se fazer referência a um desenho da autoria de Clémentine Brélaz, que nada tem a ver com a Quinta na actualidade – já que se reporta a um recanto da propriedade e edifício inidentificável devido a alterações de monta – naturalmente, sem qualquer relação com a estrutura principal, de pendor romântico, com motivos afins de ambiente arabizante.
Fecho o parêntesis e continuo. Tenha-se em consideração que o edifício principal carece de obras, cujo montante não tenho a menor possibilidade de quantificar, que sempre será extremamente significativo. Portanto, aos quase sete milhões da aquisição, não sei quanto mais haveria a considerar para a sofisticada operação de restauro, a concretizar em campanha sempre demorada. Desconheço a disponibilidade financeira dos actuais proprietários que, na realidade, se têm limitado a prolongar uma situação de estaleiro preventivo de maior degradação e decadência.
Por outro lado, nada se adianta - em relação a uma aquisição tão significativa para o erário municipal - quanto às iniciativas que a Câmara preveria ali concretizar no futuro. Há uma vaguíssima alusão à possibilidade de articulação com a Quinta da Regaleira e nada mais. É pouco, meu Deus, manifestamente pouco, para quem se apresta a gastar seis milhões e oitocentos mil euros na aquisição, para quem desconhece ou, pelo menos, não informa quanto será obrigado a gastar em obras e ainda tem de pagar não sei quantos mais milhões por um serviço de dívida que se prevê a quinze anos.
Anedoticamente, quase poderíamos ser levados a pensar que a Câmara espera, isso sim, aproveitar o espaço envolvente e disponível para parque de estacionamento, aliás, no contexto do que anunciou tencionar fazer, no interior da própria Quinta da Regaleira, para acolher cerca de trinta viaturas. Sempre ficava com espaço para mais umas dezenas...
Volto à informação, constante da própria proposta, nos termos da qual não está esgotada a capacidade de endividamento da autarquia. Pois, muito bem. Por se revelarem tão frágeis e destituídas de senso de gestão as razões que conduziriam à aquisição em apreço – no âmbito de um programa cultural que, inequivocamente, determinasse tão avultado investimento – então, em minha opinião, importaria privilegiar outra frente de actuação.
Dever-se-ia, isso sim, procurar investir tais verbas na tentativa de resolução de problemas que, tão causticamente, têm minado a qualidade de vida dos munícipes e dos forasteiros que procuram e têm direito a um usufruto escorreito, normal, actualizado, civicamente inatacável dos bens culturais de Sintra, usufruto esse altamente comprometido, por exemplo, devido à inexistência dos parques dissuasores de estacionamento nos pontos estratégicos das três freguesias da sede do concelho.
Esta, sim, é uma obra absolutamente inadiável. Assim como, por exemplo, a resolução dos gritantes problemas de recuperação de edifícios em pleno centro histórico, edifícios que, mesmo na vigência do actual dispositivo legal, já poderiam ter sido objecto de intervenção, assim houvesse vontade política nesse sentido, já que, aparentemente, não teriam faltado verbas provenientes da vizinha zona de jogo. E, na mesma crítica zona do centro histórico, ainda a concretização das obras de saneamento básico, cuja falta é um escândalo inominável e, espero que devidamente avaliável pela delegação de peritos da UNESCO que, nesta semana, permanece em Sintra.
O que não falta são obras onde aplicar tantos milhões que, tão benemeritamente se pretende despender com a aquisição da Quinta do Relógio. Esta propriedade, ao contrário do que acontecia na altura em que o executivo de Edite Estrela decidiu adquirir a Quinta da Regaleira, não pressupõe intervenção idêntica.
Julgo que será de deixar funcionar o mercado no sentido de que uma entidade, à altura do empreendimento, se posicione adequadamente e, por parte da autarquia, sempre com o cuidado de que os propósitos dos futuros proprietários não colidam com os interesses da comunidade.
Aliás, muito estranha se me afigura esta pressa aquisitiva quando, por exemplo, a Câmara Municipal de Sintra tem demonstrado tanta ineficácia na gestão de outro bem patrimonial de inestimável recorte cultural e tão importante como a Quinta de Ribafria. Acontece que, nitidamente, não tem unhas para aquela guitarra... Parece impossível que, não satisfeito com as provas de prático abandono deste património, o executivo autárquico venha agora tentar comprar a Quinta do Relógio, sem um inequívoco programa que sustente e viabilize tal intenção.
Enfim, por aqui me fico, sabendo já que, com os votos favoráveis da Coligação Mais Sintra, acolitada pela providencial abstenção da CDU, foi aberta a porta para a hipotética viabilização do negócio. Espero bem que os senhores vereadores da oposição afectos ao Partido Socialista, se bem que vencidos no seu voto contra, não se fiquem por aqui. Há imenso trabalho pela frente no sentido de demonstrar que as aquisições em questão, nomeadamente a da Quinta do Relógio, são altamente polémicas e dificilmente defensáveis como de insofismável interesse para enquadramento no património municipal.
* título do artigo
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Hoje gostaria de partilhar convosco o texto que, ontem, terça-feira, dia 12, serviu de base à minha intervenção em Monserrate, durante a reunião para a qual fui convidado pela administração da Parques de Sintra Monte da Lua. Tratava-se de apresentar um testemunho relativo a questões de interesse para o relatório dos peritos da Unesco, em visita de avaliação durante esta semana. Eis o texto.
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Primeiramente, gostaria de agradecer a oportunidade deste encontro com a delegação de peritos da UNESCO durante a sua visita de avaliação. Nunca será demais assinalar ser esta a primeira vez em que, finalmente, é possível uma tal reunião com cidadãos de Sintra. Ao sublinhar tal circunstância, ainda lembraria não ter sido a Câmara Municipal de Sintra a convidar-nos para aqui virmos mas, isso sim, a administração da Parques de Sintra Monte da Lua.
Na realidade, tal convite não é, de modo algum, irrelevante. Tenha-se em consideração que, durante um longo período, anterior à tomada de posse da actual administração, parecia haver, digamos, uma estratégia avessa à comunicação, no sentido mesmo de evitar a participação dos cidadãos nos programas cujos detalhes, características e consequências só mais tarde, sempre só a posteriori, seriam conhecidos.
Tal atitude prova e demonstra à saciedade como a nossa opinião, de facto, não era desejada. Felizmente, as coisas mudaram radicalmente. Hoje em dia, nada impede que reunamos deste modo, se bem que a nossa opinião acabe por ser determinante para a elaboração do vosso relatório. De qualquer modo, esta situação também terá de ser entendida no positivo contexto de atitudes prévias e análogas, envolvendo os cidadãos locais nos programas da PSML.
Entremos na matéria. No que respeita aos trabalhos de restauro e recuperação em curso em certos edifícios classificados, é com a maior satisfação que afirmo não me ser possível apontar seja o que for como crítica negativa. Tanto o Palácio de Monserrate como o Chalé da Condessa, sofisticados casos de estudo, realmente evidenciam uma actividade absolutamente paradigmática, demonstrando a correcção de procedimentos neste domínio, de acordo com o que se encontra internacionalmente estabelecido.
Igualmente, no que se refere à gestão do património florestal, está em desenvolvimento uma campanha que compreende o indispensável desbaste e erradicação de espécies infestantes. É preciso ter em consideração que, em determinados locais, não houve qualquer espécie de intervenção durante décadas. Há alguns meses, algumas vozes bem intencionadas, declararam que a Monte da Lua estava a cometer um crime horroroso.
Naturalmente, tal não era verdade e, contestando-o, técnicos devidamente habilitados, que não apenas dos quadros da Monte da Lua – eu próprio visitei determinadas áreas, na companhia de um silvicultor austríaco que ficou com a melhor das impressões a partir das evidências – repuseram a verdade, esclarecendo como tais trabalhos eram essenciais para a saúde e segurança das espécies em presença. Todavia aquela ignorante opinião não deixou de fazer o seu caminho.
Estacionamento, problemas de trânsito e outras questões específicas
O estacionamento de automóveis é uma das mais preocupantes questões ainda não resolvidas em Sintra, porém, indubitavelmente relacionada com a problemática da preservação do património neste território. Na realidade, ainda não foi generalizadamente assumido, quer pelos cidadãos quer pelas entidades, que o próprio modo como se acede a um monumento, já é uma importante etapa do complexo acto cultural que, no seu todo, a visita constitui.
Assim sendo, ninguém à volta desta mesa poderá negar o desconforto de aceitar de boamente que, principalmente nos fins de semana e feriados, imensos condutores sejam autorizados e até mesmo incitados a estacionar as suas viaturas praticamente ao pé do Palácio da Pena. É uma vergonha. A propósito, igualmente impensável que a Câmara Municipal de Sintra se prepare para instalar um parque de estacionamento para trinta automóveis – sabem os senhores peritos onde? – pois muito bem, intramuros, na Quinta da Regaleira. Não fiquem perplexos. Em Sintra, tudo é possível.
Analogamente vergonhoso o trânsito de automóveis particulares, em ambos os sentidos, para cima e para baixo, na Rampa da Pena, a partir do centro histórico, em direcção ao Castelo dos Mouros e ao Palácio da Pena. De facto a Serra de Sintra está totalmente devassada, sem qualquer política que condicione o acesso dos automóveis particulares aos pontos mais altos. Consequentemente, todos os previsíveis perigos podem realmente acontecer. E, naturalmente, os nocivos efeitos no ambiente são directamente proporcionais à situação em presença.
Não é fácil entender porquê, depois de tantos anos, a Câmara Municipal de Sintra ainda não conseguiu resolver o problema, principalmente através da estratégica instalação de parques periféricos, nas três principais e há muito identificadas entradas de Sintra, nas freguesias de Santa Maria, São Pedro e São Martinho. Como acontece em tantos lugares congéneres, o pagamento do estacionamento em tais parques, estaria incluído no preço dos bilhetes, de toda a espécie de transportes públicos incluindo funiculares e veículos de tracção animal que, a partir desses locais, em estreita articulação, se dirigiriam aos inúmeros destinos.
Mas há outras questões pertinentes que permanecem sem resposta. Como poderemos nós concordar com a inexistência de um civilizado regime de cargas e descargas de mercadorias em toda a Sintra e, em particular, no centro histórico? Como poderemos nós pactuar com uma evidente falta de higiene pública, quer no centro histórico quer noutras ruas e estradas?
Ainda gostaria de chamar a vossa atenção para outra situação bastante desagradável. Não há parque de campismo em Sintra já que, também neste domínio, de há muitos anos a esta parte, a Câmara Municipal não tem sido capaz de resolver o problema. E, nestas circunstâncias, imaginem que, especialmente no Verão, seja possível que os passageiros de quinze ou mais autocaravanas acampem no Rio do Porto, um pequeno parque de estacionamento urbano, a cerca de cem metros dos Paços do Concelho, num inqualificável abuso tolerado por todas as autoridades, sob a desculpa de que não há alternativa…
Problemas de Seteais
Agora a vossa atenção para aquilo que não tenho qualquer problema em considerar como premeditados atentados contra o Património. Não estão longe. No vosso caminho, de Sintra para Monserrate, terão oportunidade de parar em Seteais. Por favor, parem mesmo. É que, mesmo em frente ao Palácio de Seteais, dentro de uma quinta do outro lado da estrada, Quinta do Vale dos Anjos, está a ser construída uma mansão de mil e quatrocentos metros quadrados.
Várias entidades, tais como o IGESPAR, Câmara Municipal de Sintra, ou o Parque Natural de Sintra-Cascais estiveram envolvidas e deram o seu favorável parecer à construção da casa. Verificarão que enormes quantidades de terreno foram removidas e amontoadas ao lado. Verificarão que, implantada num nível superior ao Palácio de Seteais, a fachada da casa tem onze metros de altura!
Eu próprio e outros cidadãos de Sintra escrevemos para a UNESCO em Paris, anexando fotos de satélite e outras atestando o ritmo a que cresce o edifício. Infelizmente, não recebemos resposta, nem para este caso nem relativamente a outra queixa sobre um tanque, parte integrante da Quinta de Seteais, destruído pelo concessionário do hotel, o grupo Espírito Santo, um dos mais influentes bancos portugueses. Pois, no local onde tal destruição se processou, nasceu uma arrecadação de maquinaria.
O Ministério da Cultura, através do IGESPAR, patrocinou, deu cobertura a um tal escândalo e, apesar das minhas denúncias na imprensa, apesar da minha ida à reunião pública mensal do executivo municipal, a Câmara de Sintra não foi capaz de impedir o que aconteceu.
Só para vos dar uma ideia de como as coisas correram, tenham em consideração que recebi do IGESPAR, que acima apelidei de patrocinador da destruição, assinado por um arquitecto, seu funcionário altamente colocado, um e.mail em que me esclarecia: “(…) A construção em curso será coberta por uma laje impermeabilizada, a qual servirá de fundo a um espelho de água criando no final da obra a ilusão de um tanque cheio (…)”.
Se bem entendem, sugeria o Senhor Arquitecto que não havia razão para preocupação porque o IGESPAR havia determinado tal solução. Ao fim e ao cabo, uma ilusão como solução. Surpreendidos? Pois não devem. Qualquer atentado é possível já que, em determinadas circunstâncias, se decide pura e simplesmente ignorar o que está estabelecido a nível nacional e internacional.
Como reparo final, facilmente compreenderão ser importante que a UNESCO responda, em tempo útil, às queixas dos cidadãos.
[Fim da minha intervenção]
Nunca será demais sublinhar o alcance desta possibilidade que a Parques de Sintra Monte da Lua protagonizou, no sentido de dar voz a algumas pessoas que, em Sintra, se preocupam com a defesa do património em geral e com a classificação da Paisagem Cultural da Humanidade em particular.
Estiveram presentes Dinah de Azevedo Gomes e Emma Gilbert, em representação da Associação dos Amigos de Monserrate, Maria José Rau, pela Associação dos Proprietários de Quintas da Serra de Sintra, Adriana Jones da ADPS, Fernando Morais Gomes, pela Alagamares, João Rodil e eu. Através de participações, em geral muito pertinentes, julgo que todos fornecemos elementos de informação indispensável para o relatório dos peritos que aqui estão em missão de avaliação.
Para além do que foi dito e ficou registado, à volta da mesa de trabalho, ainda houve oportunidade para frutuosa troca de impressões, durante o almoço que a PSML gentilmente ofereceu, e que acabaria por se revelar um momento igualmente muito importante para continuar a esclarecer os peritos da UNESCO acerca de outros assuntos de interesse para o seu trabalho sobre o que se passa em Sintra.
quarta-feira, 6 de janeiro de 2010
Sócrates + Seara =
desânimo
No princípio de um ano que se avizinha ainda mais difícil do que o anterior, não têm os sintrenses quaisquer razões para se sentirem particularmente animados. E assim é, tanto no que se refere a Sintra, propriamente dita, como ao todo nacional. Não será abusivo afirmar que, em ambos os casos, a razão mais pertinente para a prevalência de tal estado de espírito se prende com questões de liderança.
1. Vejamos como assim se me afigura. Ao nível do poder central, impor-se-ia que o chefe do governo se apresentasse aos cidadãos como inequivocamente mobilizador de todas as vontades, principalmente de todas quantas, apesar da enorme qualidade do contributo que poderiam fornecer, têm permanecido afastadas, residualmente expectantes, mas ainda não desistentes.
Todavia, tão fragilizado pelos mediáticos casos que o envolvem pessoalmente, desde a licenciatura que se afirma ter sido conseguida com certos expedientes, aos incríveis projectos das moradias do concelho da Covilhã, ao aterro da Cova da Beira, ao Freeport, às conversas interceptadas através de tão polémicas escutas – e estes últimos três casos ainda incomodamente pendentes – não se imagina como poderá o Primeiro Ministro mobilizar seja quem for.
Continuemos ainda neste âmbito nacional. Revela-se manifestamente incompreensível que, numa situação de dívida pública e de défice já incomportáveis – perigosamente semelhantes e tão próximos de países como Irlanda, Grécia e Espanha que, com estes já integra o grupo dos PIGS* – este mesmo líder insista na estratégia de um investimento público que, nas actuais circunstâncias, atinge foros de incompreensível teimosia.
Trata-se, não do investimento público geralmente designado de proximidade, mas das altamente polémicas infra-estruturas aeroportuárias, rodoviárias e ferroviárias de alta velocidade, que ainda mais comprometerão a qualidade de vida de gerações futuras, sujeitas que ficarão à obrigação de um serviço da dívida verdadeiramente ruinoso, como tem sido copiosamente demonstrado.
Convém-me agora, neste ponto do meu texto tão eivado de desânimo, iniciar e manter um parêntesis, tão longo quanto for necessário, para lembrar que, igualmente controversa, pelo menos tanto quanto a dos casos aludidos no terceiro parágrafo, fora a actuação do Ministro do Ambiente do governo de António Guterres, precisamente em relação a Sintra, num seu despacho sobre a empresa de capitais públicos Parques de Sintra Monte da Lua, dando azo a que o Engº António Abreu o denunciasse em carta inequívoca, publicada no Jornal de Sintra em 24 de Dezembro de 2004**.
Apesar das minhas múltiplas insistências, sempre me louvando dos dados vindos a público através do testemunho de António Abreu que, na condição de administrador da PSML, certamente, terá tido acesso directo aos documentos que lhe permitiram ser tão directo e certeiro na denúncia, nunca as acusações foram contestadas. Várias vezes, inclusive em reunião pública da Câmara Municipal de Sintra, solicitei ao Senhor Presidente que esclarecesse em relação ao resultado das investigações levadas a efeito, nomeadamente quanto às designadas irregularidades de gestão do biólogo Serra Lopes, sempre obtendo como justificação para resposta negativa, o facto de se encontrarem sob o regime de segredo de justiça.
2. Até hoje, nenhuma explicação. E fecho o parêntesis, não deixando de solicitar a vossa compreensão para o agravamento do sentimento de desânimo com que iniciei esta prosa. Porém, cumpre ainda aludir ao nível do poder local, se bem que, como acabam de verificar, ele já tenha estado bem presente nas linhas precedentes.
É evidente que, sendo conhecido o meu público apoio à candidatura de Ana Gomes – que, volto a sublinhar, nada teve a ver com apoio ao partido do qual é destacada militante – o mais recente e grande motivo de desânimo se relaciona com a perda das eleições. Não tenho a menor dúvida de que tivessem-na elegido os cidadãos e Sintra já teria saído deste marasmo patológico a que, perigosamente, está condenada por mais este mandato.
Não deixando de ser o melhor dos regimes, a democracia pode ser afectada por conhecidas perversidades, que os mais lúcidos sabem apontar, por exemplo, descobrindo a careca aos manipuladores dos meios de comunicação social escrita e audiovisual. Financeiramente fragilizados, servidos por medíocres escribas, com flagrantes falhas de preparação profissional, mas alcandorados à condição de jornalistas, os media sujeitam-se a um certo tipo de manobras, evidentes nas últimas eleições locais, e que, entre outros, também vitimaram Ana Gomes.
Efectivamente, tendo Ana Gomes perdido as eleições, afinal, quem mais perdeu não foi a candidata mas todos os sintrenses porque não podem contar com capacidade de mobilização de uma grande líder, com o desassombro, com a sua coragem de chamar as coisas pelos nomes, com a sua natureza avessa ao politicamente correcto. Tenho muita pena que assim tenha acontecido porque, mais quatro anos, é muito tempo e vai ser tempo perdido, subtraído àquilo que já deveria estar a acontecer, como estratégia de remediação do que, durante tanto tempo, ainda não foi feito.
Portanto, se a nível nacional o quadro é negro, em Sintra não está mais desanuviado. Claro que é o desânimo. Mas estou longe de apelar a que se deixe cair os braços, a que se desista. Claro que não é o estado de espírito mais propício ao envolvimento nas tarefas que urge concretizar. Infelizmente, entre nós, a designada classe política é de nível muito baixo, correspondendo aos preocupantemente baixos níveis de literacia da população em geral. Casos como os de Oliveira Martins ou Ana Gomes são raríssimos. Abundam, isso sim, os líderes medíocres, habilidosos, oportunistas. São tantos que podíamos exportar, mas para nenhures, que não queremos o mal de ninguém…
* Sigla resultante da junção das iniciais de Portugal, Ireland, Greece, e Spain = PIGS. Certamente não precisam da tradução…
** Ler texto publicado neste blogue, em 17.10.07, «Irregularidades» de Serra Lopes
no rol do esquecimento?
Vale a pena aceder ao texto completo da carta de António Abreu. Na impossibilidade da sua transcrição integral, citarei, ipsis verbis, o seguinte parágrafo, limitando-me a destacar determinadas frases:
“(…) O ambiente para que esses factos tenham ocorrido não é alheio a quem criou a empresa, o então ministro José Sócrates e o seu secretário de Estado Rui Silva Pereira, tenha autorizado, na ausência de qualquer documento escrito, que fossem gastos na abertura dos parques, em que a empresa passou a cobrar entradas, até 435.000 contos, o que foi feito sem adjudicações. Tal como deram indicação para que uma das intervenções fosse feita com determinadas características num determinado prazo o que conduziu os responsáveis da empresa a que ela fosse feita por uma outra empresa que era a única que cumpria essas condições… (…)”
domingo, 3 de janeiro de 2010
A década
Não, podem descansar que não venho fazer síntese alguma da década. Mas, afinal, de que década é que se fala, quando, hoje mesmo, alguém se refere à década que terminou? Pois, nem mais nem menos, só pode estar a falar da década que começou no último ano do século vinte, ou seja, ainda no ano 2000. Por exclusão de partes, e, para bom entendedor, tal significa que ainda ninguém pode dizer que terminou a primeira década deste século vinte e um…
Portanto, permitam-me esta chamada de atenção. Para o efeito, tenho de recuar ao ano 2000 lembrando que este não foi o primeiro do século vinte e um mas, isso sim, o último do século vinte. O primeiro ano da primeira década do século vinte e um foi, na realidade, o de 2001. Assim sendo, o último ano da primeira década do século vinte e um será o de 2010, pelo que, não agora, no final de 2009, mas só no dia 31 de Dezembro de 2010, terminará a tal década.
Tão comum, esta confusão decorre do facto de estarmos a referir datas redondas, como são as dos anos 1000 (ainda século nono) e 2000 (ainda século dezanove). De igual modo, por exemplo, também a do ano 100 (ainda século primeiro) não marcou o início do século segundo, coisa que só se verificou no primeiro dia do mês de Janeiro do ano 101.
É por isso que, de facto, também as celebrações da última mudança de milénio deveriam ter ocorrido no instante subsequente à décima segunda badalada do dia 31 de Dezembro do ano 2000 e não do ano 1999, como aconteceu por todo o planeta, apesar da chamada de atenção de alguns maluquinhos do calendário que, como este vosso amigo, gostam de manter os pontos nos ii.
[Esta chamada de atenção foi suscitada por uma troca de mails entre o signatário e Fernando Morais Gomes, Presidente da Alagamares. Permitam que, aproveitando a oportunidade, a todos vos considere remetentes de um grande abraço de Novo Ano àquele nosso comum amigo, desejando que continue o excelente trabalho na condução dos trabalhos da associação.]