[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 22 de junho de 2010


Sintra,
alguns pendentes (2)

Como, por falta de meios apropriados, não fiz qualquer diligência subsequente à benfiquista decisão do Dr. Colaço, desconheço a evolução do caso. Actualmente, nem sequer sei se continua a haver processo judicial. Julgo, isso sim, haver matéria bastante para que a comunicação social desempenhe o papel que lhe compete, quanto à satisfação do direito da população à informação, em especial a de índole algo incómoda, tanto para a autarquia como para a Estradas de Portugal.

Assuntos como este, são de tal modo desafiadores da cidadania que, na realidade, muito mal se compreende que a comunidade não participe na denúncia que se impõe. Dificilmente se entende um tal alheamento no que respeita à evolução da tragédia que se abateu sobre duas cidadãs que, num país pretensamente civilizado, terão sido vítimas de um homicídio por negligência.


Numa altura em que o campeonato mundial de futebol absorve todas as atenções, com o nacional patrioteirismo tão exacerbado – à mistura com todos os clubismos, incluindo o tal benfiquismo – e tudo isto numa terra em que são cultivados valores tão seminais, soa quase a sacrilégio abordar tais assuntos. Todavia, muito pouco impressionado com a façanha do sete a zero, sobre uma equipa desorientada e completamente desfeita, eu ouso insistir…


E, se insisto, é no sentido de que alguma entidade, pública ou privada, apareça a esclarecer o que, para conveniência de alguns bem conhecidos intervenientes, permanece oculto. Infelizmente, no entanto, não se resume a este caso de Belas a nossa preocupação.

De facto, mais recentemente, fomos desassossegados com mais duas mortes, desta feita de duas crianças, alunas de uma escola do Cacém, vítimas de afogamento numa lagoa que não devia existir naquele lugar deste nosso concelho. Sintra é um lugar onde a autoridade democrática se exerce com extrema dificuldade, confiada a um executivo camarário cujo responsável máximo – quase fugindo às câmaras da televisão que, habitualmente, tanto preza – logo veio afirmar que o dono do terreno tinha sido avisado de que deveria esgotar a água acumulada.

Permitam que transcreva parte do texto aqui publicado em 26 de Abril deste ano:

“(…) Quem se atrasou a cumprir a determinação da autarquia? Será lícito (e justo?...)considerar que a responsabilidade da Câmara Municipal de Sintra terminou com o aviso dirigido ao proprietário do terreno? Ou, mais razoável e racionalmente, não será de entender como criminoso relaxo, a atitude dos serviços camarários, que não terão controlado o prazo de execução imediata da referida determinação? E, ainda outra coisa, aquele fatídico terreno, transformado em criminosa lagoa, não deveria ter sido oportuna e correctamente vedado?

Por favor, haja quem se digne assumir as responsabilidades decorrentes deste tristíssimo caso. Morreram duas crianças que mereciam andar por aí, no gozo do seu direito à vida. Trata-se de mais um atentado à segurança das pessoas. É para esse efeito que nós, contribuintes sintrenses, pomos à disposição da comunidade, os meios necessários para que se exerça a autoridade democrática de que, inequivocamente, a autarquia está investida.

Inequivocamente, meus senhores, inequivocamente!... Por isso, ou somos corajosamente consequentes ou, como há tanto tempo acontece, não passamos de uma cambada de bandalhos.”

Claro que não retiro uma vírgula. Apenas espero que não tarde o resultado das investigações em curso. Estamos fartos de pendentes e de que a culpa morra solteira…

João Cachado


(continua)

4 comentários:

Anónimo disse...

"Julgo, isso sim, haver matéria bastante para que a comunicação social desempenhe o papel que lhe compete, quanto à satisfação do direito da população à informação, em especial a de índole algo incómoda, tanto para a autarquia como para a Estradas de Portugal." Copiei esta parte do seu texto para alertar que noto muita a falta da comunicação social nestes casos pendentes que abordou. Sinto que numa altura em que nos obrigam a apertar tanto o cinto os portugueses não querem saber como é gasto ou para que serve o dinheiro dos seus impostos...
Do modo como está a justiça e os meios de comunicação não sei onde vamos parar...

Pedro Soares disse...

A quem é que pode dar jeito que não se saiba rapidamente a verdade sobre as responsabilidades prováveis nestes dois casos trágicos? Adivinha-se...
Pedro Soares

Manuela Sousa disse...

Os jornais não fazem o seu trabalho de casa. Se não largassem os assuntos como estes denunciados, de certeza que o Seara tinha mais respeito pela população. Isto não é futebol.
Manuela Sousa

Sofia Carinhas disse...

Quando se fala de imprensa, deve-se pensar nos jornais regionais em especial. O Jornal de Sintra jaz morto e arrefece, o Jornal Regional está cheio de compromissos e só o Correio de Sintra ainda é uma esperança.Por favor não larguem os assuntos como estes.Usem uma espécie de despertador: - de mês a mês voltem aos casos e não os deixem morrer como a Câmara deixa morrer as pessoas.
Sofia Carinhas