do Sintrense
De facto, ele há sintrenses de tudo capazes. Há, inclusive, aqueles que, como eu e muitos outros ingénuos, se convenceram de que habitam um lugar civilizado da União Europeia. Porém, em Sintra, basta comparar algumas situações do viver quotidiano – que, apesar de sempre nos desconcertarem, jamais deixam de surpreender – com o que vamos vendo e ou vivendo noutros locais, para concluir que o aludido convencimento corresponderá, quanto muito, a alguma ficção consequente de noite mal dormida…
Vamos a factos. Quem pretender confrontar-se com a gratificante experiência que me foi dado viver, só terá de deslocar-se manhã cedo, qualquer terça ou sexta-feira, ao recinto fronteiro ao estádio do Sintrense. O que passo a contar-vos foi presenciado, em directo e a cores, à mistura com os odores que imaginarão, num local que, à falta de oficial designação, nem sei que nome atribuir. Enfim, Mercado Abastecedor de Frutas e Legumes Frescos do Sintrense. Talvez…
Imaginem a cena. Às oito e meia da manhã, [no meu caso, em dia de temperaturas altíssimas, com o Sol já abrasando], está o parque cheio de camionetas de carga, com as mercadorias expostas no pavimento ou em cima de umas caixas, sem quaisquer condições. Negociam os interessados, comerciantes retalhistas, donos de restaurantes, etc, que ali se deslocam em viaturas que acabam por «estacionar» igualmente a eito. Alguns daqueles carros – vi eu! – atravessam o recinto, e, quando param, permanecem com o motor a trabalhar e a empestar o ambiente com os gases dos escapes, enquanto que, na ausência do mínimo sinal de higiene, as mosquitas já iam fazendo o trabalhinho da ordem.
Atenção, meus senhores, ali transacciona-se produtos alimentares. Por muito estranho que vos pareça, à vista, não há autoridade sanitária, municipal, de segurança pública ou de qualquer natureza. Ali é o reino da informalidade, da porcaria mais ordinária, da autêntica clandestinidade, a funcionar como em qualquer país de terceiro mundo. Não é em casos que tais que a ASAE costuma e deve actuar?
Não me perguntem como mas, armado de ingénua curiosidade, lá acabei por indagar se não era habitual aparecer por ali algum fiscal da Câmara. Responderam-me pela negativa, acrescentando a pessoa com quem falei, tratar-se aquela de uma facilidade que o Sintrense concedia, que nada tinha a ver com a Câmara Municipal de Sintra e que se quisesse falar com alguém responsável, talvez só com o Sintrense…
Pelos vistos, não bastava que, nas imediações do Mercado Municipal da Estefânea, se continuasse a fazer o mesmo tipo de transacções, com as camionetas «estacionadas» ali à volta, impedindo a boa circulação de pessoas e outros veículos, perante a passividade das autoridades e, naturalmente, sem que a autarquia tome qualquer providência civilizada. Não, como sempre acontece, o despautério alastrou como mancha de óleo.
Voltando ao assunto principal, lá fiquei esclarecido. Ou seja, para todos os efeitos, o clube da Portela está envolvido no negócio. Provavelmente, seria interessante saber quais as contrapartidas... Com que estatuto terá o Sintrense concedido a tal facilidade a que aludiu o meu interlocutor da ocasião? Que entidade e, com que autoridade bastante para o efeito, estará a montante de tão estranha situação?
Com que argumentos justificarão os autarcas de Sintra a existência, às escâncaras, desta nojeira? Como já tenho ouvido e lido de tudo, nada me surpreenderia se afirmassem que, em face da situação social do concelho, com tanta refeição a acudir às criancinhas das escolas e respectivas famílias, não sobram recursos para remediar esta situação… Sei lá, tudo é possível. Em Sintra? Tudo é possível.
Pois se até foi possível afirmar tão emotivas razões, perante o próprio Presidente da República! A propósito, tê-lo-ão feito na presunção de que, com tais argumentos, tapam os olhos e os ouvidos dos munícipes que, por outro lado, incrédulos, estão na iminência da concretização de um projecto de endividamento de muitos milhões de euros, para aquisição da Quinta do Relógio? E tudo isto, enquanto permanecem por resolver gravíssimos problemas, como a questão do caótico estacionamento público na sede do concelho?
Diante de tanta razão de queixa, já que ninguém nos acode, pois que nos valha São Pedro! Ah, como ele esqueceu esta terra que o invoca como patrono!... De qualquer modo, fica o assunto à consideração bem terrena da ASAE...