[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Museu de Portimão [1]


Provavelmente não saberiam que, no passado mês de Abril, em Estrasburgo, foi atribuída a distinção de Museu Europeu do Ano ao Museu de Portimão, inaugurado há pouco mais de dois anos. Se aceitarem a minha sugestão de ali se deslocarem numa próxima oportunidade, hão-de verificar como tal prémio não podia ter sido mais justo.

Não tenho a menor dúvida em afirmar que aquele é um dispositivo cultural extremamente interessante, onde o diálogo entre informação e aprendizagem é tão propício que suscita aos visitantes todas as reacções de agrado desencadeadas pelas mais sofisticadas e actuais técnicas de disponibilização de espécies museológicas.

Nada foi deixado ao acaso. Ali tudo obedece à lógica de partilha de um saber acumulado, não só ao longo de gerações mais recentes, no âmbito da indústria conserveira, mas também inerente a um passado tão remoto como o que remonta à ocupação humana daquele território meridional e litoral, em tempos pré-históricos e, muito mais tarde, pelos povos mediterrânicos, em especial, romanos e árabes, que deixaram vestígios absolutamente indeléveis.

Informação institucional

O Museu e respectivos anexos constituem uma proposta cultural irrecusável que nenhum cidadão português, com pretensões ao conhecimento do país, poderá dispensar. É uma grande lição de Cultura, que corresponde ao significativo investimento de cerca de dez milhões de Euros. Dá gosto verificar como o fruto dos impostos por todos nós liquidados pode resultar num manifesto de tão evidente regozijo.

Nos próprios termos da informação institucional, as origens do Museu de Portimão reportam-se a 1983, altura em que a Câmara Municipal de Portimão, aprovou um projecto museológico visando a investigação, recolha, documentação e divulgação do património local, com especial destaque para o arqueológico, industrial, náutico e subaquático.


Em 1996, o edifício da antiga Fábrica de Conservas Feu Hermanos, foi adquirido pelo Município de Portimão, tendo em vista a sua adaptação ao futuro Museu. Três anos mais tarde, foi elaborado o Programa Museológico e lançado o concurso para o Projecto de Arquitectura, seguindo-se o processo de construção e reabilitação do edifício, o apetrechamento técnico e museográfico das novas instalações, cuja inauguração e abertura ao público, ocorreu a 17 de Maio de 2008.


Estruturado como Museu de Sociedade, de Identidade e de Território, integrado na Rede Portuguesa de Museus, pretende reforçar a divulgação e valorização do património, interpretar a evolução histórica, territorial e social da comunidade e um parceiro nas estratégias de desenvolvimento local.

O espólio do Museu é constituído por património industrial e etnográfico, designadamente o de indústria conserveira, construção naval, pesca, estiva, litografia, fundição, latoaria, fumeiros, transportes, entre outros. Quanto aos testemunhos arqueológicos do Município, este agrega materiais provenientes de várias estações arqueológicas terrestres e subaquáticas.

Por estes dias, quem pretender beneficiar da imprescindível visita, primeiramente, há-de deparar com a exposição permanente subordinada à tríade temática PortimãoTerritório e Identidade, que está estruturada em 3 percursos: 1-Origem e destino de uma comunidade; 2-A vida industrial e o desafio do mar; 3- Do fundo das águas. Além desta, ainda Portimão nos Alvores do Século XX e, muito afim do período de comemoração do centenário da República, Manuel Teixeira Gomes entre dois séculos e dois regimes.

O adjectivo apropriado é imperdível. A lógica daquele circuito expositivo é de tal modo evidente que outra não se afiguraria concretizável em função dos objectivos pretendidos ao nível da fácil e eficaz aquisição de conhecimentos por parte do destinatário visitante. Trata-se de uma daquelas situações perfeitamente paradigmáticas em que a exposição é um autêntico lugar de formação.


…e informação [muito…] pessoal

Como pretendo que nada falte aos meus leitores, passo a facultar-lhes, ainda a propósito dos antecedentes do Museu de Portimão, uma informação tão pessoal que só eu mesmo poderia veicular. É coisa que, relacionada com este assunto, tem a ver com interesses da minha família em actividades de comércio internacional e nas indústrias das pescas e conserveira.

(continua)

3 comentários:

M. J. S. disse...

Caro João,

O meu primeiro contacto consigo vem do tempo em que o João era adjunto de uma senhora Secretária de Estado no Ministério da Educação, em 1978 ou 79, quando o Ministro era o Engº Valente de Oliveira, por altura de uma inauguração.
Depois, nos anos 80 e 90 o João foi meu formador em vários seminários sobre técnicas de animação de Leitura, era já eu professora efectiva aqui na cidade.
No entanto, como portimonense de gema, quando me lembro de si, o que penso logo é na sua ligação à «La Rose» que foi a marca de conservas de peixe mais famosa do mundo.
Também me recordo de falar sobre a ideia do seu pai fazer ali um museu no tempo em que o Gracias era presidente da Câmara. O Museu acabou por se fazer e é uma verdadeira jóia.
Estava muito longe de encontrar hoje no google referência a este blogue que desconhecia completamente. Devido a uma consulta sobre o museuem, vim a descobrir em boa hora prometendo passar a frequentar. Como professora de português (aposentada mas de boa saúde e muito activa) é uma satisfação verificar a qualidade dos seus textos. Parabéns. Como continua com o assunto, fico na expectativa. Atenção que também enviei outra mensagem para o seu e-mail.
Com muita saudade,
M. J. Santos

R. Lopes disse...

Caro Colega,
Li no seu perfil que é professor, daí o tratamento por colega. Nós sabemos que o museu é muito bom mas dá sempre muito prazer ler avaliações como a sua. Tal como MJS, eu também não conhecia este blogue. Fiquei esmagado com tantos textos de grande interesse sobre Sintra, fugindo ao corriqueiro e apontando as falhas.
Não o conheço pessoalmente mas vai gostar de saber que vou utilizar alguma coisa de sua autoria em aulas que estou a preparar sobre "romantismo e lugares românticos". A tal campanha «Sintra, capital do romantismo» veio mesmo a propósito para chamar a atenção dos meus alunos acerca de algo que não tinha projectado no meu plano das várias aulas sobre a matéria, ou seja, o oportunismo dos exploradores dos filões românticos...
Muito obrigado, R. Lopes

Anónimo disse...

O João Cachado escreve sobre o Museu de Portimão e nunca se referiu aos museus de Sintra mais recentes (História Natural, Ciência Viva) que não lhe ficam atrás. Nunca disse mal mas também nunca disse bem e o seu silêncio faz muito ruído.