[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Salzburg,

dias de fascínio


Como sempre acontece por esta altura, entre a última quinzena de Janeiro e primeira semana de Fevereiro, Salzburg é o meu poiso para assistir ao Mozartwoche, o mais importante dos festivais dedicados ao universo da música de Mozart. Durante estes dias, estou mergulhado num conjunto de dezenas de eventos, distribuídos por concertos sinfónicos e coral sinfónicos, música de câmara, ópera, música sacra, etc, que me mantêm no mais maravilhoso desassossego.

É um tempo em que a música acontece de manhã, à tarde e à noite, num tal quadro de solicitações que difícil é conjugar com as conferências, visionamento dos mais diferentes audiovisuais e suportes informáticos, lançamento de publicações e de edições discográficas, exposições de artes plásticas em inúmeras galerias e contacto com pessoas do maior interesse cultural que, além deste momento mozartiano tão forte, apenas tenho oportunidade de me relacionar mais uma ou duas vezes por ano.

É um privilégio enorme o facto de ser membro efectivo da Fundação Internacional do Mozarteum de Salzburg, onde tenho acedido a fontes documentais de indesmentível fascínio. Absolutamente excepcional é o caso do monumental acervo da Bibliotheca Mozarteana cuja directora, Prof. Geneviève Geffray, amiga pessoal de longa data, pontifica como autoridade de reconhecido gabarito a nível mundial e guardiã de tesouros inestimãveis.

Ando numa roda viva, é certo, mas tenho tempo para tudo o que me interessa, sem stress de qualquer ordem. Não dispenso os meus lugares de culto e, naturalmente, a Katholnigg, a mais célebre casa a vender discos nesta cidade austríaca que é Meca da música, onde conto com a especialíssima assistência da sua gerente, Astrid Rothauer, outra boa amiga a quem tanto devo e com quem tanto tenho aprendido.

A minha casa, em plena Linzer Gasse, é no Institut St. Sebastian, instalado num antigo convento do século dezassete. Quem conhece, sabe como é lugar central, sossegado e onde se pode conviver com músicos, melómanos, estudantes, gente de todos os cantos do mundo que, tal como eu, demandam este alojamento, sem qualquer hipótese de considerar outra alternativa. St. Sebastian é um vício que se entranhou.

Entre o Grande Auditório do Mozarteum ou na sua Wiener Saal, no Grosses Festspielhaus, na Haus für Mozart, na Catedral e noutras igrejas como a dos Franciscanos, St. Peter ou na da Universidade, na Grosse Aula, a música acontece com a melhor qualidade que é possível encontrar, assim concentrada, como só um grande festival permite. Como não sou rico, acreditem que renuncio a muita coisa, de facto não essencial, para poder frequentar este e outros festivais, como os de Bayreuth, Lucerna, Verona.

Imaginam a dificuldade que é regressar? Olhem, difícil não é perceber porquê...

2 comentários:

José Leite disse...

O regresso dos paraísos tem sempre o sabor a «ressaca»... e a lusitana é das piores...

Graça Sampaio disse...

Que sorte a sua poder ir tão amiúde à Austria! É tudo tão bonito, tão limpo, tão cultural, tão civilizado, tão completo.
eu também adoro viajar pela Europa. Agora o que eu não gosto mesmo é de ver os portugueses a diminuirem o seu país. Odeio ouvir que o regresso é triste porque inferior; como odeio ouvir dizer, pelos mesmos motivos, "até tenho vergonha de ser português"...
Não pretendo mostrar-me agressiva, mas costuma dizer-se que quem não está bem, muda-se...