[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 22 de março de 2011



A crise e a verdade

Não deixa de ser espantoso como a medíocre classe política portuguesa, devidamente acolitada por toda uma comunicação social deficientemente habilitada, insistem na ideia de que estamos a caminho de uma estúpida e evitável crise política que em nada beneficia e, muito pelo contrário, ainda piora o estado da nação.


Como é possível persistir na promoção de tal ideia, como se Portugal já não estivesse mergulhado numa tremenda crise política, como se Portugal não estivesse em declarada bancarrota, vivendo há não sei quanto tempo do auxílio externo o qual, em tempos mais recentes, se tem traduzido na sistemática compra de dívida pelo Banco Central Europeu...


Não percebo como, de uma vez por todas, não se assume que, em grande medida, a salvação do país passa pela adopção de uma estratégia afim da economia de guerra, nos termos da qual não há possibilidade de incurso no mínimo desperdício. Por outro lado, estou convencido de que a montante de todo este imbróglio, há uma questão de verdade oculta, que se impõe agarrar inequivocamente, verdade que ainda nos há-de surpreender com o conhecimento de horrorosos buracos orçamentais que, através de habilidades de toda a natureza e feitio, têm sido subtraídos ao controlo dos cidadãos.

Estou em crer que muita da atitude de recusa formal em solicitar a ajuda externa mais consentânea com a situação das finanças nacionais se relaciona, precisamente, com a necessidade de ocultar a geral incompetência e, inclusive, algumas barbaridades de gestão, declaradamente criminosa, que conduziram à situação em que se encontra o país.


A mentira também tem um limite. Geralmente apáticos, habituados a tanta iniquidade, os cidadãos só se mobilizarão para os ainda mais dolorosos desafios que têm de enfrentar e superar se, finalmente, olhos nos olhos e sem subterfúgios, entenderem quem estiver disposto a dizer toda a verdade, doa a quem doer. E, por favor, entendam bem que não estou sequer a insinuar tratar-se do chefe do partido da oposição.

Sofrer pela verdade

A verdade, a decência e a ética, que são indissociáveis da vida política, determinam que não mais se adie o que é imperioso seja feito de imediato, ou seja, devolver ao povo a palavra determinante que lhe assiste no sentido de decidir o modo como pretende ver assegurado o governo da República, com que protagonistas e com que objectivos.

A grande maioria dos portugueses, que não milita em partidos mas está atenta à gestão da coisa pública e anseia pela possibilidade de contribuir para uma vida cívica de qualidade - numa polis despoluída de politiqueiros de terceira categoria - só pode congratular-se com a hipótese de poder denunciar e, pelo menos, de ver denunciadada alguma da porcaria infecta que aflige o país, através de uma campanha eleitoral que constitua uma verdadeira barrela.

Vale a pena! Tudo pela verdade, tendo como absolutamente certa a necessidade de passar pela tal crise política que, tão paternalista e pressurosamente, há quem tanto insista em evitar… Vai doer? E de que maneira! Economia de guerra não contempla eufemismos. Não se recordam do sangue, suor e lágrimas do discurso do Churchil? Pois vai ser assim e não por pouco tempo. O melhor é prepararem-se mesmo muito a sério.






9 comentários:

R. dos Santos disse...

Caro Dr. Cachado,
Desta vez estou frontalmente contra e perplexa com a sua opinião. Penso que os portugueses ainda podem ser poupados à crise que o Dr Cachado acha que já estamos a viver. Leia o artigo de hoje do DN do Dr. Mário Soares.
R. dos Santos

Anónimo disse...

Por mim, concordo com o João Cachado. É hora de saber o que ainda estão a esconder e agora é que os parceiros do Euro vão perceber que governo tem tido Portugal.

Adelaide Castro disse...

A verdade neste caso tem um preço elevadíssimo. Mas também creio que vale a pena.
Adelaide Castro

Anónimo disse...

Verdade!!
Estou farto de ter um governo de chicos espertos.
Verdade!!
Vale a pena passar por uma crise mas saber com o que conto.
Verdade!!
Venha a crise! Pim!

Pedro Soares disse...

Quando se chega à desgraça em que estamos as eleições são a saída. Mais nada. O povo que decida.
Pedro Soares

Vitor Dias disse...

Caro Cachado,
Hoje mesmo começou a saber-se que há muita mentira atrás das contas
que Portugal apresentou. Você parece ser bruxo. Impõe-se a verdade. Estou completamente de acordo mas não me parece que
a alternativa da oposição PSD
resolva alguma coisa.
Vitor Dias

Rui Passos disse...

Já se está a ver com a queda do governo que a crise é que aí vem é a mesma em que já estávamos. Talvez tenhamos algum direito a uma certa verdade. Mas não tenho muitas ilusões...
Rui Passos

Anónimo disse...

O tempo que se vai gastar entre o dia de on tem e as eleições é demasiado. E não julgo que se vai ganhar grande coisa para abono da verdade como o João Cachado pensa.
LM

Gomes Dias disse...

Amigo João Cachado,
Creio bem que crise continuaremos a ter mas verdade fica no segredo destes deuses com pés de barro.
Gomes Dias