[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sócrates,
um problema do PS,
um obstáculo nacional


Sem pretender alimentar quaisquer polémicas estéreis - muito menos, a nível local, com amigos que são militantes do PS, que bem conhecem o meu posicionamento de independente de esquerda - não poderei deixar de opinar acerca das dificuldades de equacionar soluções para a crítica situação do país, dificuldades suscitadas pelas controversas atitudes de liderança política de José Sócrates.


Considero-me entre aqueles que, neste momento tão difícil da vida política nacional, teriam preferido que o Secretário-Geral do PS fizesse uma fria análise sobre o seu próprio protagonismo na condução dos negócios da República nos últimos anos.

Em função das dificuldades que a sua própria personalidade determina ao exercício dessa reflexão, seria de esperar que algumas figuras de destaque da Comissão Política Nacional, do Secretariado, enfim, de todos os órgãos colegiais do PS, ajudassem Sócrates a concluir que os serviços por ele prestados ao partido e ao país fazem parte de um ciclo que terminou com o dealbar dos acontecimentos que se precipitaram na semana em curso.

O que me parece é que, infelizmente, José Sócrates não tem, em seu redor, amigos políticos, amigos tout court, familiares, que o ajudem no caminho para a lucidez, sempre tão necessária e determinante em momentos cruciais da vida individual de um lider. Assim sendo, perturbado com as luzes de uma ribalta às quais se habituou e que, fatalmente, hão-de acompanhá-lo até ao desenlace, próximo ou mais longínquo, que jamais será fulgurante, José Sócrates não entende as vozes de quem - em minha opinião, com justeza - o consideram como peça impeditiva da resolução mais expedita da situação criada.


O PS continua com legitimidade democrática, decorrente das últimas eleições legislativas, para ser governo e liderar alternativas de governo. Julgo não errar ao considerar que as oposições, nomeadamente à direita, não deixariam de reflectir na hipótese de acolherem favoravelmente uma alternativa de liderança PS, apontando este um outro nome como futuro PM, na sequência da questão que, inevitavelmente, o PR não deixará de colocar ao próprio PS.


Temos assistido, tantas vezes dolorosamente, à impossibilidade de entendimento entre governo e oposição devido a dificuldades de entendimento pessoal. Repito e sublinho, em resultado de dificuldades de entendimento pessoal. Com outro PM, geralmente respeitado e, de si mesmo, inequivocamente respeitável, não poderia suscitar-se outra solução, inequivocamente benéfica para toda a comunidade nacional?

Não dispõe o PS de figuras respeitadas e respeitáveis, que poderiam protagonizar a liderança que se impõe e manter o partido mais votado no exercício do poder, através de soluções de compromisso com os outros partidos? Então, entre outros, António Vitorino, António Costa, Manuel Maria Carrilho, Ana Gomes, não poderiam ser indigitados para o serviço de que o país deles poderia esperar em substituição de um Sócrates tão desgastado e, infelizmente, tão pouco respeitado, tanto pela classe política como pelos cidadãos em geral?

Claro que sim. Todavia, em Portugal, este tipo de solução ainda não faz parte do leque de alternativas que, noutras latitudes, são encaradas como normais, praticáveis, equacionáveis, operacionais e, acima de tudo, civilizadas.



10 comentários:

Luís Távares disse...

Colega Cachado,
Sócrates nunca vai admitir que pela sua mão este país caíu no maior abismo desde a bancarrota de início do século passado. É um político cheio de defeitos mas que domina os meios de comunicação social com grande mestria. É um grande manipulador que vai ficar na história pelas piores razões. Mas há pior do que ele: os boys do PS (que são iguaizinhos aos boys do PSD).
LuísTávares

Manuel Seabra disse...

Não entendo porque está preocupado com os militantes locais do PS. Na maior parte são muito sectários e
vai ver que votam em massa precisamente no Sócrates. Compreendo porque as alternativas não diziam nada. Mas deve perguntar-se porque não se apresentam as alternativas que referiu (Vitorino, Carrilho, Ana Gomes) e outros como Seguro, mesmo Assis. Isso é que dá que pensar. Parece que o PS não quer renovar-se e parece que os militantes não percebem a razão.
Manuel Seabra

Conceição Alves disse...

Não se entendem e nunca se entenderão. Não vale a pena ter ilusões. Isto já vem do tempo dos romanos que diziam que esta gente da Lusitânia não sabia governar-se nem se deixava governar...
Ção Alves

Arlindo Lopes disse...

O Prof. Cachado deve sentir-se muito acompanhado com as opiniões do Prof. Carrilho acerca do Sócrates. Nem o Maomé disse tanto mal do toucinho... Abraço,
Arlindo Lopes

Anónimo disse...

Quando um país "se Perde", encontra sempre um qualquer Sócrates na margem do caminho.

Celeste Cordeiro disse...

O mais acertado que li a propósito foi o artigo de Miguel Sousa Távares ontem no Expresso. É de aconselhar.
Celeste Cordeiro

Luís Carlos disse...

Sócrates acabará por ceder o lugar a um camarada de modo que depois das eleições o PSD e o PS talvez com mais o CDS possam coligar-se num governo a três. Esse governo só terá possibilidade de se formar sem Sócrates.
Luís Carlos

Simões Pereira disse...

Sócrates jamais cederá o seu lugar depois de votado com mais de 90%. Dizer o contrário é não reconhecer o lutador acossado em que se transformou depois de tanta perseguição. Sócrates é daqueles que só sairá com um golpe palaciano movido contra ele por gente próxima.
Simões Pereira

Graça Sampaio disse...

"Julgo não errar ao considerar que as oposições, nomeadamente à direita, não deixariam de reflectir na hipótese de acolherem favoravelmente uma alternativa de liderança PS..."
DUVIDO! O PSD está "desertinho" de "ir ao pote". E foram bem ajudados pelo PR.

Nunes Lemos disse...

Amigo João Cachado,
É uma pena quando os homens cegam e ao deixar de ver não percebem porquê, como e quando se devem afastar para que a família ou a República possam seguir sem eles como empecilho. Sócrates «cegou».
Não se enxerga mas está muito
bem acompanhado...
Nunes Lemos