Em amena conversa, Emma Gilbert, acolhe Camilla, Duquesa da Cornualha
Um secreto convite
Passou cerca de um mês e meio sobre aquela magnífica tarde de fins de Março* em que Sintra recebeu Carlos, Príncipe de Gales, herdeiro do trono britânico, e sua mulher, Camilla, Duquesa da Cornualha, a pretexto da inauguração do Roseiral de Monserrate. Posteriormente, todos assistimos ao galáctico casamento de Guilherme e Catarina que, como não podia deixar de suceder, ainda mais veio avivar a lembrança da presença do par real que nos marcou com tão grata impressão.
Como, até hoje, apenas continuei a encontrar pessoas que, de todos os quadrantes, muito gostaram de acolher Suas Altezas em Monserrate, parto do princípio de que se mantém o interesse em saber mais alguma coisa acerca do misterioso convite que resultou nesta visita que perdurará na memória de todos. Na realidade, acabou por constituir mais um episódio a somar àqueles em que, há mais de seiscentos anos, Sintra tem estado à altura dos pergaminhos da arte de bem receber reis, príncipes e princesas da doce Albion, que até aqui têm descido em demanda da sua tão cantada e decantada singularidade.
Antes, porém, convém não esquecer ter-se tratado de uma importante visita de Estado que, como se imagina, foi preparada com o cuidado inerente ao mais alto nível das pessoas que tivemos o privilégio de acolher. Questões de segurança cuja minúcia nem sequer concebemos, detalhes de protocolo que nenhum manual regista, particularíssimos nas deslocações de membros desta família real, constituem matéria específica e tão cara à prática diplomática, absolutamente determinante para que as coisas tivessem corrido tão bem.
Assim sendo e, naturalmente, sem que ninguém conteste a linearidade destas palavras preambulares, impõe-se que vos convoque para uma pequena reflexão acerca do mais importante de todos os assuntos que preocuparam quem se incumbiu, em Portugal e no Reino Unido, da preparação da visita real, ou seja, do seu programa.
Em casos que tais, tão complexa e complicada se revela a equação em presença que bem pode falar-se de quadratura do círculo. De facto, com tão pouco tempo útil disponível, como preencher uma agenda que sempre seria mais sobrecarregada do que o admissível, sem resvalar para um terreno em que, por mais meritórias que pudessem ser as iniciativas objecto da visita, passariam o limite da elegância, da sofisticação e do conforto que é suposto enquadrar?
Diplomacia informal
Como bem sabem, é em casos desta bicuda natureza que costumam intervir os senhores embaixadores. No caso em questão, ao tempo em que se colocou a necessidade de conceber um programa para a visita oficial de tão alto calibre, o representante diplomático de Sua Majestade Britânica era Alexander Ellis, um homem que conhece este país como poucos portugueses conhecem a sua própria terra, alguém que, no fim de 2010, vem a propósito referir, deixou tais funções para assumir as de Director de Estratégia do Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Londres.
Casado como uma senhora portuguesa, o Embaixador Ellis, que domina fluentemente a nossa língua e se interessa pelos mais diversos aspectos da cultura portuguesa, mantém no nosso país uma rede de contactos que, em muitas circunstâncias, coincidem com amizades. Pois, muito bem, meus caros amigos e leitores, é neste contexto que, com sua expressa autorização, estou em posição de vos apresentar quem acabou por ser protagonista neste episódio de tão boa memória.
Em Sintra, com certeza, não estranharão que assunto de conotação tão intrinsecamente britânica, não pressupusesse o natural envolvimento de Emma Gilbert, pois claro… Todavia, que presunção a minha! Então, como apresentar-vos quem não carece de apresentação? Tão somente, aproveitando a ocasião, isso sim, para confirmar como esta grande Amiga de Sintra acabou por prestar mais um duplo serviço, portanto a Sintra e a Sua Majestade Britânica…
A história remonta a Setembro do ano passado, altura em que o Embaixador Ellis, seu amigo pessoal, lhe telefonou, perguntando se tinha alguma ideia para incluir no apertado programa da visita. Claro está que Alexander Ellis sabia perfeitamente com quem partilhava aquela preocupação. Emma Gilbert conhece o príncipe Carlos, os gostos e interesses deste célebre e destacado militante da defesa e recuperação do património natural e edificado pelo que, de imediato, sem pestanejar, lhe ocorreu a espantosa ideia da inauguração do Roseiral de Monserrate.
Pudor e gratidão
Não é este o momento nem a ocasião se presta à entrada em pormenores acerca da ressurreição daquela peça de jardim de remota reminiscência. Emma Gilbert, juntamente com o Arq. Gerald Lukhurst, andavam às voltas com o projecto de reabilitação desde o ano 2000. Passaram pela celebração de um Protocolo, em 2004, e por muito, muito trabalho até que, depois de heróicas semanas, em tempos mais recentes, tudo estava a postos para a visita e cerimonial festivo.
E lá está, em local de absoluto favor, o Roseiral cuja inauguração foi objecto das secretas negociações cujos contornos fui autorizado a desvendar. Foi tarefa que me permitiu este prazer imenso de vos contar como, também pelo seu envolvimento neste caso tão paradigmático da promoção de Sintra, Emma Gilbert merece o subido epíteto de Amiga de Sintra, distinção que costumo atribuir apenas aos pouquíssimos cidadãos que mais se notabilizam na causa da defesa dos interesses desta terra.
Portanto, eis desvendado o segredo do convite que tão sofisticado considerei. Finalmente, porque a comunidade local tem maneira apropriada de retribuir, a nível institucional – não por esta lembrança e sugestão, coisa pouca no longo currículo de afecto por estes lugares que permanecem no seu coração – mas por tanto empenho e constante dedicação, fica o meu voto no sentido de que Sintra saiba agradecer tudo o que deve a Emma Gilbert.
_________________
*vd. Sintradoavesso, São rosas, meus senhores (31.03.2011)
7 comentários:
Meu caro amigo João Cachado,
Ainda bem que abordou esta visita e colocou o nome certo de quem muito fez para Sintra e por Sintra.
Com este seu artigo - ainda bem - ficam totalmente limpas as dúvidas que existiam sobre a visita.
Sabe que, nestas coisas, o silêncio sobre as pessoas virtuosas pode ser aproveitado por menos virtuosas pessoas.
Um abraço e muito obrigado,
Fernando Castelo
Caro Dr. Cachado,
Emma Gilbert é de facto uma pessoa conhecida em Sintra pela sua ligação aos "Amigos de Monserrate". Mas Sintra, em geral, deve-lhe muito.
O Sr. Castelo fez muito bem ressalvar porque, nesta altura, certos notáveis já deviam andar a dizer que se devia à sua influência a vinda do príncipe e da mulher a Sintra. Portanto, o seu a seu dono.
R. Rosário
Caro Dr. Cachado,
O melhor elogio que posso fazer como comentário, é o facto de nem sequer conhecer Emma Gilbert. Ora bem, esta senhora serve os interesses de Sintra. Fui ao seu site e percebi. Pode dizer-se muito a propósito que
serve Sintra quem não precisa de ter grandes amigos e grandes cunhas na comunicação social. Sintra sempre foi discreta e nada ganha com a exposição mediática em especial se não for feita por gente discreta e muito sabedora.
Grande abraço,
Luís Relvas
Emma Gilbert, pelos Amigos de Monserrate, Fernando Morais Gomes pela Alagamares são duas pessoas discretas que trabalham por Sintra, na defesa e recuperação do seu património.
Ao nível das associações mais ninguém, embora haja quem não seja nada discreto e cheia de presunção tomando toda a água benta para tirar dividendos.
Caro Dr. Cachado,
Monserrate deve muito a Emma Gilbert. Este caso da visita do Príncipe Carlos e da Duquesa Camilla sobressai especialmente porque se segue a uma recuperação de património - o Roseiral - que é um projecto em que Emma Gilbert se envolveu muito.
Se os visitantes ilustres viessem a Monserrete simplesmente para verem tantas belezas que ali se encontram, já era óptimo, mas assim é excepcional.
Parabéns a Emma Gilbert e parabéns ao Dr. João Cachado que tem um jeito especial para descobrir estas histórias. Abraço,
C. Sousa
Estive na festa de inauguração do roseiral. Foi das coisas mais bonitas que vivi em Sintra. Tenho muito a agradecer a Emma Gilbert.
R. da G.
Há pessoas assim. O trabalho de EG com os Amigos de Monserrate durante anos é a sua obra mais conhecida. Esta dica ao embaixador foi de génio. Ainda bem que o Cachado a trouxe a público.
Maria João F.
Enviar um comentário