[sempre de acordo com a antiga ortografia]
terça-feira, 8 de novembro de 2011
O buraquinho de Sintra
e as crateras nacionais
"(…) Eu vi quando e como a coisa começou, na passada sexta-feira, dia 14, a meio da manhã, peldoisas mãos de um piquete dos SMAS de Sintra. Nada me surpreendeu por o trabalho estar a ser feito à touxe-mouxe, na altura, sem qualquer sinalização, quando, repare-se, era preciso romper uma vala atravessando o alcatrão da estrada e, do outro lado, abrir a tal referida caixa… Enfim, bem à portuguesa, na variedade sintrense… O que não me passava pela cabeça, apesar de muito causticado por desmandos similares, é que, em primeiro lugar, a coisa fosse assim dada por concluída e que, cinco dias passados, ainda permaneça na mesma.
É uma vergonha! Como verifica, não estou a exagerar seja o que for. Mas os SMAS de Sintra dão-se ao luxo de nos cobrar tarifas absolutamente milionárias, perfeitamente incompatíveis com o cenário em presença. Vergonha seria para quem ainda tenha um pingo da dita. No caso vertente, não sei a quem me queixe. Estou farto de incomodar o Presidente da Câmara que, em última instância… Depois, tenho maior consideração pelo Vereador, Engº Baptista Alves, que também tem as costas muito largas… (…)”
[excerto do texto Sintra, entre Pisões e Regaleira, publicado no sintradoavesso em 21 de Outubro de 2011]
Dentro de dias, passará um mês sobre o caso. Entretanto, como ali passo todos os dias, tenho dado conta dos lamentáveis benefícios que os serviços autárquicos acrescentaram ao despautério. Não pensem tratar-se de total ironia porque, de facto, sucederam duas intervenções que passarei a detalhar.
Numa primeira, limitaram-se a atirar com umas pazadas de saibro, preenchendo o buraco que rasgou o alcatrão da via. No entanto, assinale-se que continuaram a deixar as pedras e desperdícios sobrantes da obra inicial, de um lado e do outro da estrada. Naturalmente, depois das primeiras chuvadas, os veículos passantes encarregaram-se de tudo esburacar e, mais uma vez, de pôr bem às claras, a referida vala.
Na segunda e última tentativa de atamancar a coisa atiraram com mais saibro, dando-se ao cuidado de remover as pedras e desperdícios. Novamente, como seria de esperar, lá está a vala esburacada, com água a espirrar e salpicar, de cada vez que passa um veículo. E, como sabem, tratando-se de um dos mais turísticos trechos de Sintra, de trânsito obrigatório para quem se desloca entre a Vila Velha, a Regaleira, Seteais, Monserrate, etc, há mesmo muitos carros por ali.
Perguntarão porque me dou eu ao trabalho de continuar a denunciar a existência de um simples buraquinho quando, também no concelho de Sintra e em todo o país, muito mais preocupantes são os medonhos buracões onde vimos caindo, em consequência de péssimas decisões de políticos, a nível local e central, ao longo de anos e anos de fartar vilanagem.
À laia de resposta, lembraria que, tanto a montante do buraquinho de Sintra como das crateras nacionais, há um mesmo tipo de mentalidade, indutor da designada cultura do desleixo que, de forma tão decisiva, prejudica o nosso rendimento individual e colectivo. Por outro lado, estas coisas não acontecem sem que alguém tenha de ser responsabilizado.
Ora bem, aquele é outro seríssimo problema porquanto, quem se atreve a exercer a autoridade democrática que detém, muito raramente, verá resolvida, em tempo útil, a questão que desencadeou com o objectivo de rectificar algo de errado. Claro que tudo isto resulta num desânimo, numa desmobilização sem nome, minando qualquer hipótese de recuperação das localidades, das regiões e do país em geral…
PS
E ainda há quem se admire quando, perante o quadro de desânimo suscitado pela existência de muitos milhares de situações congéneres, tantos jovens qualificados estão a sair do país? A propósito, soube ontem que dois irmãos, entre os vinte e cinco e trinta anos, engenheiro um e enfermeiro o outro, filhos de um meu ex-colega, desencantados com o que por aqui se passa, irão brevemente para Inglaterra, onde já têm emprego assegurado. Como não?
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2 comentários:
João Cachado,
Há lugares onde a "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" mas em Sintra não. Eu acompanho as suas denúncias aqui no blogue e no facebook e também de outras pessoas, como o Sr. Fernando Castelo e concluo que os senhores preocupa~-se e chamam a atenção mas quem devia ligar não liga. É uma vergonha este caso naquela rua onde já vi estrangeiros a fotografar aquilo. Só dá vontade de fugir e bem fazem os jovens que podem sair. Diz a Senhora Merkle que vai levar 10 anos a endireitar a Europa. Só se for na Alemanha porque aqui não há remédio nem em 20. Lembre-se que o D. Carlos já dizia que isto é uma piolheira e olhe que o homem tinha toda a razão. Cumprimentos amigos, Pedro Sobral
Desânimo? Não é só desânimo, é razão para o maior pessimismo possível. Se não tivesse quase setenta anos eu sabia o que fazer. Assim só posso aconselhar familiares e amigos a sairem desta piolheira, como lembrou o Pedro Sobral.
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