[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 28 de janeiro de 2012



Utopia,
Thomas More, Gilbert & Sullivan
[ou o «encontro» do santo com os maçons…]


Thomas More pisou e ultrapassou os limites da humana condição pagando com a vida a dignidade com que não transigiu perante o que não podia nem devia. Que magnífico exemplo! Como ele, também Giordano Bruno. Infelizmente, longe dele, Galileo Galilei que, para salvar a pele não hesitou em negar a absoluta e radical verdade daquilo que a Ciência lhe tinha permitido descobrir…

Sabem todos os que foram e têm sido meus alunos e formandos que, enquanto professor e de formador, jamais perco a oportunidade de apontar o grande humanista como paradigma do Homem. Este fiel servidor do Rei mas de Deus em primeiro lugar, acabou por ser canonizado pela Santa Igreja Católica Apostólica Romana, em 1935.* Dessa vez, andou bem a mesma Igreja que bem pode penitenciar-se de pecados e pecadilhos em conhecidos processos de beatificação e canonização…

O autor da Utopia terá contado com o testemunho de Rafael Hetloideu – fascinante personagem histórica das descobertas e explorações portuguesas –para a concepção desta obra máxima da literatura universal, mundividência radical mas possível e lugar alcançável se e quando o Homem quiser.

A propósito, recomendaria a edição fac simil da Utopia, com uma Introdução brilhante do saudoso Prof. Doutor José Vitorino de Pina Martins, tradução e notas do Prof. Doutor Aires A. Nascimento, meu amigo e companheiro da ACLUS, publicada pela Fundação Gulbenkian em 2006, que qualquer boa biblioteca doméstica não pode dispensar.

E, porque, raramente, consigo alinhar umas frases sem as articular com o mundo da música, logo relacionei a Utopia do More com Utopia, Limited or the Flowers of Progress, engraçadíssima ópera de Gilbert & Sullivan, que levou George Bernard Shaw a afirmar que se tratava da ópera do Savoy de que mais tinha gostado. Exige recursos avultadíssimos de montagem, não será uma obra-prima mas é muitíssimo bem disposta.

Não por acaso, já que a utopia é lugar geométrico por excelência da Augusta Ordem Maçónica, eis que Sir Arthur Sullivan e Sir William Schwenck Gilbert, da famosa dupla Gilbert & Sullivan, foram conhecidos maçons. E eu, no meio destes três, cristão católico, como o primeiro e Irmão dos outros dois… Pois fiquem sabendo que não há qualquer incompatibilidade – veja-se, por exemplo, o famoso caso do Irmão Mozart que toda a gente tem na ponta da língua – e como todos coabitamos em paz e harmonia.

E agora, em face da seriedade da matéria precedente, sem cometer sacrilégio algum, vos deixo com um momento muito bem disposto da citada ópera. Ouvirão uma ária cuja letra é a única coisa que se vê no écran. Estejam atentos e reparem como se adequa aos tempos de crise por que passamos. Como sempre, crise, enfim, só para alguns…


*Aos católicos que, como eu, têm More na maior consideração, será bom lembrar que a sua festa passa a 22 de Junho.


http://youtu.be/H4euNhxbGWs UTOPIA LIMITED Mr. Goldbury's Song (Gilbert & Sullivan) www.youtube.com

Sem comentários: