[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 7 de junho de 2012


Haydn,
Sonata mistério



Mais uma vez, no ciclo de piano da nova temporada Gulbenkian, poderemos contar, em 18 de Outubro, com mais um recital de Evgeny Kissin que, entre outras peças, virá interpretara Sonata Nº 59 em Mi Maior, Hob. 49 u...ma das mais interessantes compostas por Joseph Haydn que bem merece o destaque de hoje.

A peça, composta entre 1789-1790, foi dedicada a Mariana von Genzinger, cantora muito dotada, mulher de um médico da corte do Príncipe Esterházy e, a atestar pela frequência e teor da correspondência trocada entre ambos, uma boa amiga do compositor.

A primeira constatação de que gostaria dar-vos conta é de que se trata de uma grande sonata, de escrita nada complicada e de recorte nitidamente mozartiano. O primeiro andamento, ‘Allegro’, que obedece ao modelo da forma sonata, é longo, muito desenvolvido, extremamente sugestivo, cheio de insinuações, de discursos que ficam em suspenso.

O ‘Adagio’ seguinte é, certamente, um dos mais belos que Haydn compôs. Curioso lembrar que, numa das suas cartas, o compositor confessou a Mariana ter este andamento teria um «misterioso significado» que explicaria à sua amiga quando tivesse ocasião. O ‘Finale: tempo di minueto’ é um natural corolário que remata a tríade ao pretender resolver o que, anteriormente, terá ficado menos evidente.

De algum modo, de facto, esta é uma obra carregada de mistério, mesmo algo patética, uma das raras composições em que Haydn se atreve à expressão dos seus próprios sentimentos. Objecto de frequentes menções na sua correspondência, sabe-se que Mariana pretendia que o amigo modificasse uma pasagem do referido ‘Adagio’ em que as mãos se cruzam, pedido que não surtiu o efeito desejado…

Tenho a certeza de que Kissin, a atravessar um excelente período de grande maturidade interpretativa, conseguirá transmitir-nos os matizes tão insinuantes desta peça. Para já, deixo-vos com esta leitura, perfeitamente paradigmática, do grande Alfred Brendel.

Muita atenção ao seu fraseado magistral, à sua capacidade de servir uma ‘história’ que o compositor verteu em páginas de um diálogo que está bem patente. Ouçam as vozes dessa conversa e, por favor, não compliquem o que é tão simples…

Boa audição!


http://youtu.be/H-nC7AeiksQ

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