[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 28 de outubro de 2012




 

 Sintra,
Av. Heliodoro Salgado

 
De modo algum, jamais pus em causa a pertinência da solução urbana que se traduz pela pedonalização de determinadas artérias, a exemplo do que acontece por esse mundo fora. O que, ao longo de anos, eu tenho posto em causa é, não a solução da pedonalização mas, isso sim, a forma como, em Sintra, se concretizou o caso da Heliodoro Salgado e as nefastas consequências decorrentes da concretização de um projecto que privilegiou opções extremamente controversas.
 
Aliás, desde o início – tinham começado as obras, quando a então Presidente da CMS Edite Estrela resolveu promover uma reunião numa das salas do ‘Casino’ – não me acusa a consciência de deixar de afirmar, de viva voz, o que era absolutamente previsível. À Dra. Edite Estrela, disse eu, e há quem se lembra perfeitamente do episódio, naquela precisa reunião, que ela preparava, não a animação da conhecida via mas – porque, nos termos em que estava formulada, tal opção mais se assemelhava a um caixão – isso sim, o enterro  da Heliodoro Salgado.

Naturalmente, havia e há alternativas, mais e menos dispendiosas, consoante as soluções técnicas equacionáveis. A que foi decidida, na minha opinião, terá sido a pior já que, como afirmei em ‘Tolerância Zero’, publicado na última edição do Jornal de Sintra, nenhum dos benefícios previstos foi alcançado – nomeadamente aqueles que a edil imaginava, de animação cultural, comercial, de convívio cívico, etc, a exemplo do que, certamente, conhecia das suas deslocações ao estrangeiro, ali totalmente comprometidos pelos aspectos técnicos e estéticos da obra – com a agravante do inacreditável labirinto que, também sob a sua responsabilidade foi instalado a jusante.
Vá lá, repito, que nos soubemos organizar para suster a barbaridade que se preparava para a Volta do Duche, através de uma intervenção cívica de que, como munícipes de Sintra, só temos motivos de orgulho. Se assim não tivesse acontecido,  a situação ainda muito mais negativa seria. Aproveito a oportunidade para recordar aos que, há tanto tempo, acompanham a minha intervenção cívica, que, mesmo antes da pedonalização, já eu me pronunciava acerca de matérias afins. Basta procurar no Jornal de Sintra.

No entanto, só no  www.sintradoavesso.blogspot.com , cuja consulta do arquivo é muito acessível, entre outros textos (ainda que relacionados com o assunto mas não referidos na lista seguinte), gostaria de assinalar os seguintes, por ordem cronológica, desde 2007: 1.”Da Estefânea, com mágoa”, 14.09.07; “O (cansado) coração do concelho”, 17.09.07; 3. “Heliodoro Salgado, remédio qb”,  07.12.07; 4. “Heliodoro Salgado, que remédio?”, 11.12.07; 5.“Av. Heliodoro Salgado, paradigma de governação”, 15.04.08; 6.”Ainda a propósito da Heliodoro salgado”, 16.04.08; 7.”Aos bocados, vai caindo”, 12.09.08; 8.”Carta Aberta à Comandante da PM de Sintra”, 19.02.12.
Subscrevi  outros artigos relativos aos anos de 2009, 2010 e 2011 mas, como dei a entender, com os acima indicados, apenas pretendi proporcionar uma pequena amostra do interesse que tenho manifestado relativamente aos imensos problemas suscitados. E, não tenho a menor dúvida, muito há que continuar a lutar no sentido de requalificar aquele espaço e, eventualmente, ter em consideração e recuperar as conclusões que saíram de umas célebres Jornadas de Reflexão sobre problemas do Bairro da Estefânea, levadas a efeito no Palácio Valenças em Maio de 2004, outro manifesto de cidadania activa que revestiu  o maior interesse onde foram apontadas soluções muito interessantes, mas  cada vez mais com menores hipóteses de concretização devido à conjuntura financeira.

1 comentário:

Fernando Castelo disse...

Caro João Cachado,
Como o assunto da Estefânia já vai tendo barbas, pois em 2004 já havia quem falasse na circulação automóvel pela Heliodoro Salgado, em Junho de 2004 o Jornal de Sintra publicou um artigo por mim subscrito de que a parte mais saliente é a que segue:

"...)A passagem do eléctrico – compromisso já assumido - trará nova vida ao local, devendo os parceiros comerciais ter esse facto na devida conta, com resposta às necessidades dos futuros clientes. Sendo certo que a Estefânia não tem donos, é bom que o comércio local não se constitua em fonte de contestação sempre que algum empresário ou comerciante queira oferecer aos visitantes alternativas de comércio ou utilização do espaço.

Substituir o pavimento por outro mais seguro e adequado à história do local e a intensificação de medidas coercivas para a recuperação de imóveis degradados, têm sido subscritas por técnicos camarários.

Claro que têm surgido à mistura com as justas ansiedades, frequentes alusões à abertura da circulação automóvel, talvez porque já nos tenhamos esquecido da confusão que existia antigamente.

Não é de acreditar que os moradores da Heliodoro Salgado, agora com edifícios recuperados, vivam saudosos da antiga poluição, causada por viaturas que apenas atravessariam Sintra a caminho das praias.

Se alguns residentes, que não da Heliodoro Salgado, querem usá-la para evitar o trajecto da Portela, então que o digam abertamente, para que não se viva no meio de confusões que ninguém aproveita.

Se excluirmos, por uma questão de boa-fé, que o objectivo nuclear do “limite da paciência” não passa pela abertura da circulação automóvel, então não ficam muitas mais questões por resolver.

Destaca-se, no entanto, a exigência de construção de parques periféricos dissuasores, com transportes públicos que respondam às necessidades dos visitantes e residentes. Mas este é um problema de toda a Sintra e não específico da Estefânia.

Diga-se, a propósito, que em fins-de-semana, principalmente, o parque de estacionamento junto ao Urbanismo está quase vazio, embora se encontre a menos de 100 metros da zona pedonal.

Não deixará, nestas condições, de ser curioso que se invoque Sintra e seu Património pelas mais diversas razões, mas se desvalorize a existência de zonas para peões.

Andamos pelo mundo, falamos de cidades históricas e classificadas pela Unesco, onde existem grandes zonas libertas de automóveis que deram lugar ao culto pela flor, com esplanadas cheias de vida e de convívio, mas não conseguimos conciliar a nossa vida com a micro zona pedonal da Estefânia.

Num ponto de vista que se afigura mais justo, é fundamental que se dê, sim, cada vez mais espaço para os peões".

Veja, a história é cíclica. Carros na pedonal não: primeiro estáo as pessoas.

Um abraço,

Fernando Castelo