Volta do Duche,
mais uma achega
Para estar como está, a Volta do Duche exigiu que muita gente se batesse contra a destruição que o executivo liderado por Edite Estrela se preparava para concretizar, à pala de um projecto assinado pelo Arquitecto Fernando Távora, um dos mais prestigiados mestres da arquitectura portuguesa.
Já tudo tinha sido decidido, já tinha sido celebrado o protocolo de construção, tudo estava encaminhado, aprovado e consumado. E, mesmo assim, conseguimos reverter o processo de tal modo que a Volta do Duche permanecesse incólume, livre do sarcófago do parque de estacionamento subterrâneo que a iria destruir e para sempre desfigurar.
Um punhado de cidadãos de Sintra conseguiu opor-se à indiscutível e aparentemente inexpugnável força de uma máquina autárquica bem oleada. Foi uma autêntica luta de David contra Golias. Mas a nossa fisga, contra a barbárie que ali vinha, mascarada de belíssimas intenções, acertou no alvo. Tínhamos por nós a força da razão e, sem partidarismo que nos tolhesse o movimento, conseguimos suster a iniquidade.
Passada uma dúzia de anos parece mentira que tamanha asneira estivesse tão prestes a acontecer. É preciso manter bem viva a memória dessa luta, em defesa de um lugar muito especial, que é parte indissociável do património cultural de Sintra. Por ali, embalados em carrinho de bébé, fomos passeados por nossos pais e avós. Mais tarde, por ali, namorámos. Ciclicamente, repetimos os gestos, de mão dada aos nossos filhos e netos.
Todos os dias nos encantamos sob aqueles plátanos que a Maria Gabriela Llansol tanto prezava. Ela, sim – como esquecê-lo? – que igualmente participou na luta, escrevendo, acompanhando-nos em todo o processo, ela que antes de enviar ao jornal ‘Público’ um texto que acabara de redigir, em defesa daquele espaço, mo lia, emocionada, ao telefone, deixando-me sem palavras, totalmente rendido ao seu testemunho, ao seu civismo e à sua arte.
Lutámos. Na rua, é verdade, mas se nos tivéssemos limitado a ir para a rua, se a nossa fisga tivesse sido apenas a rua, nada tínhamos conseguido. Não, na rua, apenas demos o sinal do nosso desconforto, da nossa indignação. Montámos um dispositivo muito sério, verdadeiramente ‘profissional,’ em que nada foi deixado ao acaso, com vertentes de luta na comunicação social – os quatro canais de tv cobriram o evento bem como todos os jornais diários nacionais – nos meios intelectuais, nas várias Faculdades, concebemos dossiês exaustivos, comunicámos com todos os poderes, nacionais e instâncias culturais internacionais.
Se a Volta do Duche está como está não é coisa de somenos. É preciso dizê-lo nas escolas, hoje, tal como, na altura, quando contámos com o envolvimento de tantos estudantes. A defesa do património teve ali uma jornada muitíssimo honrosa e verdadeiramente exemplar já que, se ainda fosse necessário demonstrar, essa defesa não é restrita ao património natural e edificado, em que Sintra tão pródiga é, antes contempla também os lugares significativos que têm memórias aderentes à pele das pedras dos passeios e das ruas.
Já tudo tinha sido decidido, já tinha sido celebrado o protocolo de construção, tudo estava encaminhado, aprovado e consumado. E, mesmo assim, conseguimos reverter o processo de tal modo que a Volta do Duche permanecesse incólume, livre do sarcófago do parque de estacionamento subterrâneo que a iria destruir e para sempre desfigurar.
Um punhado de cidadãos de Sintra conseguiu opor-se à indiscutível e aparentemente inexpugnável força de uma máquina autárquica bem oleada. Foi uma autêntica luta de David contra Golias. Mas a nossa fisga, contra a barbárie que ali vinha, mascarada de belíssimas intenções, acertou no alvo. Tínhamos por nós a força da razão e, sem partidarismo que nos tolhesse o movimento, conseguimos suster a iniquidade.
Passada uma dúzia de anos parece mentira que tamanha asneira estivesse tão prestes a acontecer. É preciso manter bem viva a memória dessa luta, em defesa de um lugar muito especial, que é parte indissociável do património cultural de Sintra. Por ali, embalados em carrinho de bébé, fomos passeados por nossos pais e avós. Mais tarde, por ali, namorámos. Ciclicamente, repetimos os gestos, de mão dada aos nossos filhos e netos.
Todos os dias nos encantamos sob aqueles plátanos que a Maria Gabriela Llansol tanto prezava. Ela, sim – como esquecê-lo? – que igualmente participou na luta, escrevendo, acompanhando-nos em todo o processo, ela que antes de enviar ao jornal ‘Público’ um texto que acabara de redigir, em defesa daquele espaço, mo lia, emocionada, ao telefone, deixando-me sem palavras, totalmente rendido ao seu testemunho, ao seu civismo e à sua arte.
Lutámos. Na rua, é verdade, mas se nos tivéssemos limitado a ir para a rua, se a nossa fisga tivesse sido apenas a rua, nada tínhamos conseguido. Não, na rua, apenas demos o sinal do nosso desconforto, da nossa indignação. Montámos um dispositivo muito sério, verdadeiramente ‘profissional,’ em que nada foi deixado ao acaso, com vertentes de luta na comunicação social – os quatro canais de tv cobriram o evento bem como todos os jornais diários nacionais – nos meios intelectuais, nas várias Faculdades, concebemos dossiês exaustivos, comunicámos com todos os poderes, nacionais e instâncias culturais internacionais.
Se a Volta do Duche está como está não é coisa de somenos. É preciso dizê-lo nas escolas, hoje, tal como, na altura, quando contámos com o envolvimento de tantos estudantes. A defesa do património teve ali uma jornada muitíssimo honrosa e verdadeiramente exemplar já que, se ainda fosse necessário demonstrar, essa defesa não é restrita ao património natural e edificado, em que Sintra tão pródiga é, antes contempla também os lugares significativos que têm memórias aderentes à pele das pedras dos passeios e das ruas.
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