Volta
do Duche,
“Viva
Professor. Vejo que no seu texto predominam verbos no tempo "passado"
como que a indicar que esta causa já está devidamente concluída e arrumada.
Olhe que não. Existem ainda algumas pessoas em Sintra, que por vezes ainda se
lembram de reavivar o projecto de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche.
Defendem que na altura tal não foi bem explicado, que os cidadãos não foram
suficientemente elucidados e que a existir hoje, resolveria os problemas de
acessibilidades na Vila. Já fiquei estupefacto a ouvir uma ou outra. Por isso
parece que a "coisa" ainda não está definitivamente arrumada e o
morto poderá ressuscitar a qualquer momento.”
Perante
tal mensagem, eis o que se me oferece responder:
"Caríssimo
amigo, de facto, se o meu texto deixou que os verbos resvalassem tal não
significa, de todo em todo, que não esteja atento e que, exactamente por isso,
nas últimas semanas, a propósito das movimentações de rua, tenha trazido o
assunto à baila para o ventilar. E, como verifica, está a acontecer. Não deixa
de ser surpreendente que, depois de tanto tempo, continue a haver quem pense
que o problema do estacionamento das viaturas dos visitantes que procuram
aceder ao centro histórico de Sintra se resolveria com um estacionamento
subterrâneo na Volta do Duche.
Não
entendem tais pessoas, por melhores que sejam as suas intenções, que tal opção:
1.além
de ferir o interesse da preservação de um património – que a população de
Sintra e outros cidadãos, a nível nacional e mesmo internacional, não pretendem
que sofra qualquer alteração –
2.iria
ao arrepio das recomendações de todas as instâncias, nomeadamente da UNESCO, no
sentido de não permitir o acesso de veículos motorizados particulares aos
centros históricos;
3.
imporia a superação de problemas técnicos de elevadíssima monta, por, exemplo –
e é mesmo só um exemplo entre vários que, naturalmente, não é o momento para
detalhar – a estratégia de remediação das linhas de água que, na zona, vencem
muito importantes cotas de nível (para mais longe não considerar, desde Santa
Maria até ao Rio do Porto), perante uma
importantíssima barreira de construção (o tal sarcófago…), estratégia que nem
sequer tinha sido devidamente equacionada e contabilizada pelo projecto;
4.
iria gerar importantíssimos fluxos de trânsito a montante e a jusante das
entradas e saídas da instalação, com todas as perversas consequências
decorrentes para o trânsito numa zona extremamente sensível, etc, etc, etc.
Não
percebem tais pessoas que, entre outros factores a considerar, como a requalificação
de algumas pequenas bolsas de parqueamento e a instalação de um importante
dispositivo de estacionamento, nos terrenos adjacentes ao edifício do
Departamento de Urbanismo, na Portela, que em nada colidem com a coerência da
resolução última do problema.
Para
quem já tenha esquecido, lembro que a solução adequada imporá a necessidade da instalar parques
periféricos, nos locais mais afins e vocacionados, junto às entradas da sede do
concelho, parques com dignidade e segurança, a partir dos quais será montada
uma oferta integrada de diversos tipos de transportes públicos, cuja tarifa
estará incluída no preço do estacionamento.
É
por esta solução que sempre me bati, tanto aqui, em Sintra, como em Salzburg,
onde, há menos anos, participei numa campanha, graças a Deus também muito bem
sucedida, contra a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na
Makartplatz, coração da cidade, luta essa para a qual muito útil foi a
experiência que tinha ganho na minha terra. Os interesses económicos em jogo
são sempre muito poderosos.
No
caso de Salzburg a coisa era bastante mais sofisticada do que em Sintra porque
já tinha sido constituído um sindicato de bancos, incluindo instituições de
Viena para financiar o projecto. Lá como cá, a população organizada conseguiu
anular as intenções destrutivas e, no caso de Salzburg, com maior evidência,
desmascarar os negócios em perspectiva.Finalmente, gostaria de lhe garantir, em meu nome e no de uma série de cúmplices – que, não tendo passado procuração, sei que estão totalmente sintonizados comigo – o empenho mais assanhado em qualquer refrega que se desenhe, em qualquer tempo e, em especial, no próximo futuro, com as eleições à porta, dentro de um ano.
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