[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 25 de outubro de 2012



 

 

Volta do Duche,
 
às voltas com o tempo que passa [I]

 
A propósito de um dos meus textos de ontem acerca da Volta do Duche, eis um comentário do meu amigo Ricardo Duarte, jovem sintrense, recém licenciado em História de Arte, a trabalhar em França:

“Viva Professor. Vejo que no seu texto predominam verbos no tempo "passado" como que a indicar que esta causa já está devidamente concluída e arrumada. Olhe que não. Existem ainda algumas pessoas em Sintra, que por vezes ainda se lembram de reavivar o projecto de estacionamento subterrâneo na Volta do Duche. Defendem que na altura tal não foi bem explicado, que os cidadãos não foram suficientemente elucidados e que a existir hoje, resolveria os problemas de acessibilidades na Vila. Já fiquei estupefacto a ouvir uma ou outra. Por isso parece que a "coisa" ainda não está definitivamente arrumada e o morto poderá ressuscitar a qualquer momento.”

Perante tal mensagem, eis o que se me oferece responder:

"Caríssimo amigo, de facto, se o meu texto deixou que os verbos resvalassem tal não significa, de todo em todo, que não esteja atento e que, exactamente por isso, nas últimas semanas, a propósito das movimentações de rua, tenha trazido o assunto à baila para o ventilar. E, como verifica, está a acontecer. Não deixa de ser surpreendente que, depois de tanto tempo, continue a haver quem pense que o problema do estacionamento das viaturas dos visitantes que procuram aceder ao centro histórico de Sintra se resolveria com um estacionamento subterrâneo na Volta do Duche.

Não entendem tais pessoas, por melhores que sejam as suas intenções, que tal opção:
1.além de ferir o interesse da preservação de um património – que a população de Sintra e outros cidadãos, a nível nacional e mesmo internacional, não pretendem que sofra qualquer alteração –

2.iria ao arrepio das recomendações de todas as instâncias, nomeadamente da UNESCO, no sentido de não permitir o acesso de veículos motorizados particulares aos centros históricos;
3. imporia a superação de problemas técnicos de elevadíssima monta, por, exemplo – e é mesmo só um exemplo entre vários que, naturalmente, não é o momento para detalhar – a estratégia de remediação das linhas de água que, na zona, vencem muito importantes cotas de nível (para mais longe não considerar, desde Santa Maria até ao Rio do Porto), perante  uma importantíssima barreira de construção (o tal sarcófago…), estratégia que nem sequer tinha sido devidamente equacionada e contabilizada pelo projecto;

4. iria gerar importantíssimos fluxos de trânsito a montante e a jusante das entradas e saídas da instalação, com todas as perversas consequências decorrentes para o trânsito numa zona extremamente sensível, etc, etc, etc.
Não percebem tais pessoas que, entre outros factores a considerar, como a requalificação de algumas pequenas bolsas de parqueamento e a instalação de um importante dispositivo de estacionamento, nos terrenos adjacentes ao edifício do Departamento de Urbanismo, na Portela, que em nada colidem com a coerência da resolução última do problema.

Para quem já tenha esquecido, lembro que a solução adequada  imporá a necessidade da instalar parques periféricos, nos locais mais afins e vocacionados, junto às entradas da sede do concelho, parques com dignidade e segurança, a partir dos quais será montada uma oferta integrada de diversos tipos de transportes públicos, cuja tarifa estará incluída no preço do estacionamento.
É por esta solução que sempre me bati, tanto aqui, em Sintra, como em Salzburg, onde, há menos anos, participei numa campanha, graças a Deus também muito bem sucedida, contra a construção de um parque de estacionamento subterrâneo na Makartplatz, coração da cidade, luta essa para a qual muito útil foi a experiência que tinha ganho na minha terra. Os interesses económicos em jogo são sempre muito poderosos.
No caso de Salzburg a coisa era bastante mais sofisticada do que em Sintra porque já tinha sido constituído um sindicato de bancos, incluindo instituições de Viena para financiar o projecto. Lá como cá, a população organizada conseguiu anular as intenções destrutivas e, no caso de Salzburg, com maior evidência, desmascarar os negócios em perspectiva.
 
Finalmente, gostaria de lhe garantir, em meu nome e no de uma série de cúmplices – que, não tendo passado procuração, sei que estão totalmente sintonizados comigo – o empenho mais assanhado em qualquer refrega que se desenhe, em qualquer tempo e, em especial, no próximo futuro, com as eleições à porta, dentro de um ano.



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