Casino, casino e ponto final
Para
a reunião do executivo municipal do passado dia 24 de Outubro, constava a
Proposta nº 620-P/2012, subscrita pelo Presidente, para aprovação da
designação“Casino de Sintra” ao edifício onde tem estado instalado o Museu de
Arte Moderna. Porém, ao consultar o resultado das deliberações, verifica-se que
“(…)A Câmara adiou esta proposta. (…)”.
Afigurando-se-me
tão linearmente pacífica a proposta, fiquei naturalmente espantado pelo
adiamento e sem um vislumbre de indício quanto às razões que terão levado a douta
vereação àquela decisão. Ainda que não viesse a despropósito invocar a minha
condição de filólogo, para quem estes problemas da onomástica, toponímia e
toponomástica constituem motivo de estudo sempre tão interessante, neste caso,
nada há que investir neste domínio. Quanto muito, apenas se imporá a vantagem de invocar o designado ‘uso corrente’. Na realidade, tão simples como isso. Em Sintra não há quem, oralmente, designe aquele edifício senão como o casino e, também frequentemente, no registo escrito, como o antigo casino ou o edifício do antigo casino. Ninguém diz o edifício do Museu de Arte Moderna ou, simplesmente, Museu de Arte Moderna quando, coloquialmente, tem de se referir àquele espaço imponente da Heliodoro salgado. Ninguém, pura e simplesmente, ninguém! É o casino e ponto final.
Acerca
do edifício, também já escrevi alguns textos avulso, publicados quer no Jornal
de Sintra quer no Boletim da Junta de Freguesia de Santa Maria e São
Miguel. Mas não querendo advogar em causa própria, não tenho a mínima dúvida em
aconselhar “História do Casino ou os Equívocos de um Tempo Sintrense”, da
autoria de José Sarmento de Matos, um óptimo opúsculo de vinte e seis páginas,
com ilustrações do maior interesse, publicação de 1997 da própria Câmara
Municipal de Sintra que, certamente, o Presidente terá lido antes de apresentar
a mencionada proposta.
Citando
a edição de 27 de Julho de 1924 do diário ‘O Século’ acede-se a leitura do
maior proveito para, passados quase 90 anos sobre a data da inauguração, se perceber
porque, nunca tendo tido qualquer conotação com jogos de azar, esta designação
continua a preponderar, relacionada, isso sim, com um projecto de animação
cultural de grande alcance, em articulação com um programa de preocupações
sociais em que o Casino pontificava como a estrela no firmamento do projecto
utópico de Adriano Coelho.Com uma existência plena de vicissitudes, inicialmente, funcionou como espaço propício às artes performativas, cenário de exposições as mais diferentes e restaurante de alta qualidade. Tendo sido votado a longa inactividade da qual ressurgiu depois de adquirido pela Câmara Municipal na década de cinquenta, para acolher biblioteca, escola, secção de finanças e Museu de Arte Moderna, o Casino acumula um incrível património de sucessivas experiências relacionadas com a vida de milhares de sintrenses.
Com a manifesta promessa de voltar ao assunto, por agora, apenas deixaria registada a convicção de muita gente que só vê vantagens numa designação que é profundamente autêntica e entranhada no viver da comunidade. O que mais será preciso para radicar a justificada atribuição de um nome?
2 comentários:
Caros leitores,
Acerca deste mesmo assunto, queiram fazer o favor de aceder ao mural de Fernando Morais Gomes e ter em consideração a opinião de Guilherme Duarte, outro cidadão que muito intervem acerca de questões locais. Naturalmente, concordam inteiramente comigo. Hoje mesmo, ao descer a Heliodoro Salgado, o Sr. Paredes me dizia do seu espanto pela atitude de adiamento da Câmara. Na verdade, acrescento eu, é preciso conhecer Sintra muito mal para não acolher de imediato a proposta do Presidente Seara. Enfim, bizarrias...
Guilherme Duarte:
Concordo inteiramente e no artigo que este fim de semana vai sair no jornal Cruz Alta tive a ocasião de me regozijar com a adopção do nome de Casino de Sintra para a nova valência daquele edifício. Pelo que acabo de ler aqui parece que me precipitei. Um abraço caro Dr. João Cachado. É sempre um prazer lê-lo.
A que belos bailes ainda lá fui - ao Casino! Estes governantes pouco sabem e menis ainda se interessam por estas coisa da filologia, Doutor!
Enviar um comentário