[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013



Ontem, “Lucio Silla”

[Texto publicado no facebook em 25 de Janeiro de 2013]


Pois, meus amigos, “Lucio Silla”, a ópera de Mozart que inaugurou a edição de 2013 da Mozartwoche de Salzburg, tem todos os ingredientes para produzir récitas de alto gabarito. A de ontem poderia ter sido memorável não
fosse o facto de Rolando Villazón, no protagonista, ainda estar com a voz muito afectada, fruto de anteriores abusos, com os defeitos decorrentes do empenho nas árias «de bravura» e longe da prestação exigida aos tenores que se aventuram nos terrenos mozartianos. Em alguns momentos, chegou a ser penoso ouvi-lo.

Quanto ao soprano Peretyatko, enfim, nada de particularmente entusiástico, mas a revelar-se muito bem nas árias 4. Dalla sponda tenebrosa e 11. Ah se il crudel periglio que exigem grande sofisticação e domínio, muita contenção de todos os recursos vocálicos e expressivos.

Excelente, isso sim, Marianne Crebassa, meio-soprano, no ‘Cecilio’ ainda muito jovem mas a prever voos formidáveis. Também em muito bom nível, os sopranos Inga Kalna e Eva Liebau, respectivamente, em ‘Lucio Cinna’ e Celia.

Marc Minkowski trabalhou a partitura a partir de representações anteriores sob a direcção de Harnoncourt e de Jean-Pierre Ponnelle. Les Musiciens du Louvre, sob a sua direcção, estiveram ao mais alto nível que se lhes reconhece.

A encenação, a cargo de Marshall Pynkoski, tem soluções extremamente eficazes que concorrem para uma assinalável fluidez de todo o espectáculo que, nas suas quase três horas de duração, em três actos, apenas com um intervalo, exigiu um ritmo que se revelou perfeito.

Cenários e figurino de Antoine Fontaine, confirmando como é um grande senhor dos palcos, artista de talento a rodos. Elemento essencial do sucesso, a coreografia, muito eficaz, de Jeannette Lajeunesse Zingg, ela própria integrando um corpo de bailado de alto nível artístico.

Quando regressar a casa, voltarei a partilhar convosco mais algumas impressões sobre este espectáculo. Para já, o que ainda espero, é ter a dita de assistir a uma récita desta produção, mas com um bom tenor mozartiano e em boa forma...

Como sou muito vosso amigo, aqui vos deixo uma interpretação primorosa da ária referida "Dalla sponda tenebrosa" por Edita Gruberova, uma mozartiana irrepreensível.

Boa audição!

http://youtu.be/K3bIrjllFZ8
 

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