[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 18 de abril de 2013




Encontro de chefes,
a excepção e a regra [II]
  • Em função de algumas interpretações menos correctas e de dúvidas suscitadas, impõe-se que explicite as linhas ou entrelinhas do texto ontem aqui publicado, que, eventualmente, possam ter permanecido numa zona de penumbra que, de todo em todo, eu pretendia tivesse sucedido.

    Desde logo, no entanto, me cumpre lembrar e sublinhar o que, tão frequentemente, tenho referido. No meu entendimento, Pedro Passos Coelho e António José Seguro não passam mesmo de farinha do mesmo saco. Raros são os observadores isentos e desvinculados de fidelidades partidárias que não subscrevam a ideia de que são produtos desqualificados de uma classe política desqualificada, que se tem perpetuado no exercício do poder, em resultado de perversa mas legal manipulação dos instrumentos da Democracia.

    Em especial, importa salientar como a Lei Eleitoral vigente é tão responsável pelas mais condenáveis práticas afins da tal perpetuação, permitindo o cozinhado de listas de candidatos que, uma vez eleitos, rastejam, caninamente obedientes, às lideranças partidárias. Encontro-me entre o grupo daqueles que propõem a substituição de tal Lei por outra que contemple os círculos uninominais bem como a candidatura de cidadãos independentes, princípios estes que, sintomaticamente, tanto o PSD como o PS não se têm demonstrado disponíveis para encarar.

    De qualquer modo, ambos formados e formatados pelas ‘jotas’ dos respectivos partidos, tanto Passos Coelho como Seguro, acederam às instâncias do poder na sequência de eleições legislativas legais e legítimas. Podemos discordar do seu percurso pessoal, da sua postura, das suas propostas, de tudo e mais alguma coisa, mas não podemos deixar de os respeitar e, por enquanto, de assumir que fazem parte de um sistema em que os executivos se sucedem numa consabida e esperada alternância.

    Pois bem, é precisamente neste contexto que se me afigura imprescindível que, tão destacados figurantes desta cena, se encontrem periodicamente. Naturalmente, jamais me passaria pela cabeça que, um ou outro, tivessem a nobreza e a dignidade dos estadistas que assumem, sem dificuldade, uma sugestão servida pelos adversários que, afinal, estarão tão preocupados como eles com o bem comum e bem estar dos cidadãos…

    Contudo, a governação e a alternância da governação exigiriam a frequência dos contactos, inclusive, no sentido de evitar a agudização de divergências entre si e promover, também por esta via, tal como ontem escrevia, uma “(,,,) superior noção do civismo – hoje em dia, fácil e evidentemente, coincidente com a de patriotismo – como paradigma contrário à radicalização de posições. (…)”

    No mesmo texto, ao constatar que, pelo contrário, o que tem prevalecido é uma posição de crispação, totalmente contrária ao interesse geral e nacional, só podia eu concluir que “(…) a ideia prevalecente, suscitada pela contundente atitude mútua de Pedro Passos Coelho e António José Seguro, é a que também decorre do mundo do futebol, ou seja, a de duas «comadres desavindas», quais Pinto da Costa e Rui Vieira, digladiando-se na praça pública, através dos media (…)”

    Ou seja, e em suma, o que advogo é a adopção de uma via aberta para uma ‘entente’ civilizada que, tanto gostaria, fosse observada entre nós, a exemplo do que acontece em tantos países, onde a convivência e a convivialidade entre executivos e oposição é exemplar e que, tõ adequadamente, contribui para aliviar tensões.

    No entanto, não pensando que se encontrariam para comer uns pastéis de nata e trocar larachas inconsequentes, na realidade, não tenho, nem nunca tive, qualquer especial expectativa quanto ao resultado prático de tais reuniões. Porém, a premência da situação de emergência nacional em que o país se encontra, sempre determinaria a troca de pontos de vista habilitante às decisões que, assim, seriam parcialmente ‘participadas’ ao mais alto nível.

    Nada disto poderá levar à conclusão de que, em resultado de tais encontros, o maior partido da oposição tivesse de sancionar medidas incompetentes decididas pelo executivo
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