[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 7 de abril de 2013

Maçonaria,

combate interno


1. Como tiveram oportunidade de verificar, nos últimos dias, venho subscrevendo alguns textos através dos quais manifesto a minha flagrante incomodidade, decorrente das notícias que nos chegam do Palácio Maçónico, onde está sediado o Grande Oriente Lusitano (GOL), a mais antiga Obediência da Maçonaria Portuguesa, herdeira de um nobilíssimo legado que, na actualidade, não está a ser honrado e dignificado.

2. Considero manter autoridade para continuar a escrever o que vos tenho proposto, já que, embora me tivesse sido concedido o «quite» solicitado ao GOL, a realidade é que, como Maçon que jamais deixarei de ser, continuo muito preocupado com o que se passa com a Augusta Ordem junto da qual desejo ver a minha situação regularizada logo que possível.

Afastei-me, temporariamente, por ter senti do que estava a protagonizar uma posição quixotesca. Porém, o afastamento, mesmo que temporário, jamais poderá ser entendido como definitivo «adormecimento»para as notícias que, vindas da Rua do Grémio Lusitano, ao Bairro Alto, não param de suscitar as maiores apreensões e permanente incómodo.

3. Para ser mais preciso, as notícias a que me refiro, provêm de outras sedes, em especial, da comunicação social, mas reportam-se, inequívoca e directamente, à Maçonaria do GOL. E atingem-na ao mais alto nível, de facto, pondo em causa o próprio Grão Mestre (GM). Desde já, e naquilo que me respeita, fique bem claro, não me proponho lançar qualquer ataque pessoal ao Dr. Fernando Lima. Tão somente, chamar a atenção para atitudes que, tanto quanto me parece, a sua condição de Maçon o impede de assumir no mundo profano.

4. Antes de, objectivamente, apontar a situação, cumpre-me lembrar que muito redutora seria a vida do Maçon se se limitasse à participação quinzenal nos trabalhos de uma oficina maçónica. Não, o projecto assumido na Iniciação, diz-nos que cada iniciado é um templo em construção, em constante aperfeiçoamento e, em simultâneo, a pedra de um grande e global templo que, tanto mais se aperfeiçoa, quanto mais as pedras vão sendo buriladas e afeiçoadas.

Ora bem, tal perspectiva pressupõe uma irrepreensível conduta no mundo profano. É por isso que o comportamento de cada Maçon não pode susceptibilizar seja quem for e, muito menos, escandalizar. O Maçon não goza de qualquer privilégio senão o de ter sido admitido numa Augusta Ordem que se pauta pelos mais exigentes princípios e valores éticos. É, a partir desta matriz, que qualquer não iniciado pode e deve escandalizar-se com qualquer desvio público de conduta de um Maçon, exactamente, porque muito maior é a exigência de avaliação em relação ao cidadão comum.

5. Se, no mundo profano, Fernando Lima não continuasse a ser um Irmão que, tal como eu e todos os demais fomos iniciados, de acordo com os mesmos princípios e valores aos quais jurámos obediência e observância, eu não me incomodaria minimamente. Ora bem, acontece que, queira ou não, Fernando Lima tem todos os holofotes a si apontados. Em 2009, assumiu a presidência do concelho de administração do grupo ‘Galilei’, a holding que sucedeu à SLN, assumindo uma dívida de €: 1.321 107 782.26, valor resultante da investigação dos jornalistas da SIC Pedro Coelho e Luís Pinto, “(…) estribados em documentação da ‘Parvalorem’ (a sociedade-«veículo» criada pelo Ministério das Finanças para gerir os créditos e activos tóxicos do BPN (…)” (Revista Visão, 4 de Abril de 2013)

A propósito, o professor universitário Paulo Morais afirma que “ (…) os destroços que se encontram na ‘Parvalorem’ são o testemunho dos crimes que sucessivamente se foram perpetrando contra a economia portuguesa, através da ‘velha’SLN. É nestes destroços que a Justiça deve pesquisar e, com a competência que se lhe exige, perseguir os accionistas e administradores dos tempos obscuros da SLN. Mas, sobretudo, deve recuperar uma parte significativa do que estes senhores tiraram ao povo português, confiscando-lhes as fortunas, estejam elas em bancos nacionais ou luxemburgueses, ou, se necessário, até expropriando activos da Galilei (…)” (Revista Visão, 4 de Abril de 2013)

Ora bem, como é que poderemos conjugar esta opinião de Paulo Morais com o facto de alguns dos principais accionistas da ‘velha’SLN SGPS, SA, José Oliveira e Costa, Joaquim Coimbra, António Cavaco, Almiro Silva e Manuel Eugénio Neves dos Santos, por exemplo, continuarem com posições mais ou menos idênticas no Galilei, SGPS, SA e, portanto, tanto quanto parece, uma evidência que nada incomodará Fernando Lima, na medida em que para eles trabalha?

Publicamente, transparece que, assumindo apenas uma dívida ´formal’ à ‘Parvalorem’ de 186 milhões (!!!!!) e, ao afirmar que a dívida ‘informal’ está em aberto, em muitos dos seus valores, Fernando Lima parece manifestar uma posição cuja avaliação deixo aos leitores. O que, igualmente, não poderei deixar de lembrar é que tal posição de administrador, de aparente conivência com interesses tão contrários aos da fazenda nacional, por ele protagonizada no mundo profano, escandaliza profanos e Maçons, por incompatibilidade com os irrepreensíveis valores maçónicos que devem nortear o Maçon em todas, todas as circunstâncias.

6. O GOL orgulha-se de uma notável galeria de Grão Mestres. Dentre eles, houve quem tivesse morrido e sofrido as maiores agruras da vida, em nome da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade. Hoje em dia, se o Grão Mestre do GOL além de ser, também não parecer irrepreensível, como a mulher de César, não estará prestando à comunidade o serviço que a Maçonaria é suposto dispensar.

Considero que, no interior do GOL, Fernando Lima não pode deixar de ser, leal e fraternalmente confrontado com as mencionadas incongruências. Deve explicações. Estou ao corrente de movimentações de Irmãos Maçons que, muito brevemente, demonstrarão até que ponto a Maçonaria não é uma casa de individualistas ou de gente ansiosa de protagonismo e que o seu é um templo onde Força, Amor e Beleza, cuja vivência nos torna melhores homens e cidadãos, individualmente e em grupo, porque lutamos pela Verdade, pela Dignidade, de tal modo que, a nós, nunca o espelho devolva uma imagem de desconforto. Estou com esses Irmãos, desde sempre e para sempre.

7. O GOL está a sofrer o que não pode nem deve, um desgaste de imagem que não pode continuar. O GOL dispõe de todos os instrumentos necessários ao encerramento de um capítulo que, há anos, antes do actual GM, já não nos era favorável e se tem vindo a deteriorar. Quero eu dizer que a mudança a promover passa por mas não se esgota na exigência de uma impecável postura ao GM. Não, a mudança ou é mesmo profunda, ao ponto de recuperarmos, mesmo, a disponibilidade radical, de oferecer a vida pelos ideais– aliás, tal como todos jurámos, solenemente, durante a nossa Iniciação – ou, então, assuma quem tiver de assumir que participou numa fantochada insignificante.

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