[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 10 de abril de 2013



O rei nu

[publicado ontem no facebook]


Acabei de enviar para o 'Jornal de Sintra' um artigo que sairá na próxima sexta-feira, subordinado ao título "Joana Vasconcelos, o Rei Nu". Eis a transcrição de três parágrafos:

"(...)
Reparem que o caso de JV não me mereceria qualquer reparo e, jamais, a escrita de uma simples linha de referência, se, tão somente, a senhora assumisse a sua condição de artesã urbana, que lhe atribuo sem qualquer
conotação pejorativa. Trata-se de alguém que, na realidade, utiliza o pantógrafo com extrema eficácia logrando atingir um efeito máximo de soluções que, ao fim e ao cabo, em escala reduzida, vemos em qualquer banca de artesãos citadinos. Claro que, conforme ela própria não deixa de considerar é o kitsch que por ali passa.

A propósito, ainda gostaria de ver esclarecida uma questão que se me tem colocado em relação ao número de visitantes da sua exposição no Palácio de Versailles. Para o efeito, será que alguém conseguirá destrinçar quem foram os visitantes, exclusivamente interessados nas peças de JV expostas no percurso da visita ao Palácio? Instalada como foi, num espaço com as características de um Palácio-Museu, como aquele que é dos mais visitados de Paris e arredores, alguém pode garantir que aquele mais de milhão e meio de pessoas daria um passo diferente para ver aquelas obras?

A escala das peças da JV determina espaços expositivos de grandes dimensões, é um facto. Mas, assim sendo, a que tentação cedem os curadores e directores dos museus? Se apenas é a de propor o insólito convívio das obras de outras eras com estes supostos artefactos, muito pobre e redutora me parece a iniciativa. Não no Palácio de Versailles, não no Palácio da Ajuda mas, por exemplo, nas mesmas cidades, em grandes hangares da Porte de Versailles, à entrada de Paris, ou da FIL, na oriental zona lisboeta da Expo, não teriam as peças da JV um enquadramento muito mais afim e adequado, sem interferência de «factores distractivos» como os suscitados pelos móveis, reposteiros, porcelanas, ouros, dourados, espelhos e espelhados , barrocos, rococó ou românticos?
(...)"
 
Naturalmente, durante o fim de semana, aqui trarei o texto na íntegra

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[Ainda em relação ao «caso Joana Vasconcelos» deixem-me lembrar-vos, entre outros, um texto que publiquei, aqui publicado em 26 de Novembro de 2012]

O pantógrafo e as rendinhas

Como sabem, das habilidades de Joana Vasconcelos tenho dito aquilo que não diz Maomé do toucinho. Considero profundamente lamentável o crédito alcançado por alguém cujas propostas pseudo-artísticas se l...
imitam, praticamente, a uma sábia utilização do pantógrafo e ao oportunístico aproveitamento dos artefactos de genuínos artistas maiúsculos, cobrindo-os de rendilhados ou crochet.

Comprometimentos mais que nebulosos têm impedido que, com a autoridade devida, alguém já tivesse evidenciado que o rei anda nu pelas joaninas investidas no mundo da Arte, que, na realidade, não é o seu. A menos que o mais genuíno kitsch já tenha adquirido o estatuto que, por alguma circunstância, me escapou.

Porém, de vez em quando, lá surge o archote da lucidez empunhado por quem sempre pautou as suas avaliações por padrões de razoabilidade inequívoca. Vem isto a propósito do que, acerca de JV, escreve Clara Ferreira Alves na sua crónica do 'Expresso' do passado sábado, dia 17 do corrente, subordinada ao título "Um país das Caldas".

Referindo-se ao tal video, a montante do qual Marcelo Rebelo de Sousa se posicionou como mentor e promotor, escreve ela: "(...) Para a eterna jubilação do "imaginário popular" e dos zés povinhos, corações de filigrana e barretes saloios, já temos a artista oficial Joana Vasconcelos que compõe o tema popular. E por encomenda nacional. (...)".

Ora bem, como no caso da JV, o rei continua nuzinho da Silva, não querem fazer o favor de aqui alinhar uns comentários afins, acrescentados à bem humorada referência de Clara Ferreira Alves?

Antecipadamente grato, JC.
 

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