[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 12 de abril de 2013



Porque não se cala?


Na noite passada, assisti na TVI a uma conversa entre José Miguel Júdice e Paulo Magalhães, durante a qual, pela enésima vez, o conhecido advogado reproduziu aquela falsíssima opinião em que diaboliza o funcionário público, pretensamente beneficiário de especiais privilégios, bem reveladora da sua profunda ignorância porquanto, já de há uns anos a esta parte, praticamente, não existem diferenças sensíveis entre os enquadramentos laborais dos sectores público e privado.

Cumpre perguntar se não perceberão todos aqueles que, como Miguel Júdice, tendo acesso privilegiado aos meios de comunicação social, com tal discurso, continuam a ofender seriamente centenas de milhar de funcionários públicos que, além de bons trabalhadores, desempenham um nobre e indispensável serviço aos seus concidadãos? São médicos, professores, engenheiros, enfermeiros, técnicos dos mais diferentes sectores, assistentes técnicos e operacionais, militares, etc, que servem o público e a República, numa dimensão de trabalho cujo alcance só pode ser enaltecido e, jamais, denegrido.

Vem a propósito referir a necessidade de desmontar uma outra ideia, igualmente perversa, qual seja a de se considerar que, em Portugal, haverá funcionários públicos a mais. Nada menos correcto. Se, em Portugal, o total de funcionários públicos representa 14,6% da população trabalhadora, na Alemanha é de 12,3%, em Espanha 11,9%, na Finlândia 22,9%, em França 28%, na Irlanda 17,9%, em Itália 14,1%, no Reino Unido 20,4%, na Suécia 31,5% e, ainda, por exemplo, na Suíça 15,4%.

Naturalmente, nem me atrevo a partilhar convosco o quadro comparativo das remunerações em função do PIB porque a vergonha escandaliza. E, quanto aos montantes das respectivas reformas, como se pode comparar se o Estado tem ao seu serviço funcionários cuja preparação académica superior é incomparável com a dos trabalhadores do sector privado?

Finalmente, como todos bem sabemos, excelentes, muito bons, bons, razoáveis e maus trabalhadores, há-os na Administração Pública e no sector privado. Denuncie-se e acabe-se com o discurso ignorante, redutor e malicioso que, mais uma vez, Miguel Júdice ontem protagonizou. Provavelmente, para maior sucesso dos seus chorudos negócios, muito jeito lhe daria que o o Governo privatizasse uma série de atribuições dos trabalhadores da Administração Pública...

Certamente, também é por isso que não se cala.
 
 

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