Coadopção e adopção plena
A coadopção que, há tão poucos dias, foi favorável e maioritariamente votada no Parlamento, é um regime cuja entrada em vigor também me apraz. Pensaram os proponentes, e muito bem, nos superiores interesses de crianças que, já estando enquadradas em processos relacionais de casais homossexuais, não poderiam, por exemplo, ser prejudicados por morte de um dos seus progenitores biológicos ou adoptantes. Trata-se de um caso de humanidade, de uma atitude civilizacional que bem se integra na cultura que herdámos.
Muito diferente, no entanto, é o regime de adopção plena por casais homossexuais, havendo quem pensasse ser aquele um passo legislativo que poderia servir de trampolim para sua promoção, funcionando como corolário de um caminho iniciado com a legalização do «casamento» entre pessoas do mesmo sexo. Situo-me entre quem considera, como eu fiz, dever colocar entre aspas um termo cujo significado, sem quaisquer restrições, apenas se adequa aos casais heterossexuais.
Muito naturalmente, pensando também no superior interesse das crianças, é que me parece não haver quaisquer vantagens em prosseguir por um caminho cujo objectivo, para todos os conhecidos efeitos, era ter chegado ao desfecho que São Bento decidiu, e com o qual nos congratulámos no passado dia 17 de Maio. Pensar diferente seria aceitar a «estratégia do trampolim» que, de modo algum, consigo acolher, sequer como residual, na mente do legislador.
E, acreditem, para que tenha radicado esta opinião, muito me sustento na opinião de amigos homossexuais cujo último propósito para a oficialização da sua relação será, pura e simplesmente, o estatuto da união de facto que tudo, tudo lhes resolve. Acham que o casamento é um instituto que apenas se adequa aos heterossexuais e, pensando no superior interesse das crianças, jamais pretenderiam adoptar qualquer criança.
Não me venham dizer que estes meus conhecidos e amigos homossexuais, discretos, serenos e que baseiam as suas atitudes na porfia pela lucidez que reclamam, constituem uma cambada de conservadores e retrógrados e que os outros, também homossexuais, porque integram as paradas do orgulho arco-íris, dão nas vistas e procuram a comunicação social para fácil cobertura das suas causas, estes sim, são os grandes progressistas que fazem o mundo avançar…
Não tenho a menor dúvida de que haverá imensos casais homossexuais que adoram crianças e que poderiam cuidar de crianças muitíssimo melhor do que casais heterossexuais que são umas bestas, que se produzem e reproduzem como bestas que são. Mas o superior interesse da criança – que não tem qualquer vantagem na institucionalização, espera e tem direito aos seus pais adoptantes – vai no sentido de que neles encontrem, ‘de facto’ e ‘de jure’, o modelo de referência que é o da sua biológica origem.
Bem sei que há diferentes posições teóricas acerca desta questão dos referentes parentais. No meu caso, apesar de lhes aceder o mais isento possível de prejuízos mentais, não consigo concluir que, para a criança, seja exactamente a mesma coisa e, mais, que não haja qualquer vantagem ou desvantagem, em ser adoptada por homossexuais ou heterossexuais.
E, provavelmente, devido a esta minha «dificuldade de entendimento», ou se quiserem, prejuízo pessoal, é que também não fico mentalmente descansado quando, só para efeitos de análise, tento colocar-me na posição dos reais pais biológicos da criança, imaginando a sua reacção relativamente ao destino daquele filho que, não lhes tendo sido possível criar, seria adoptado por duas pessoas, cujo modelo de casal, nada tem a ver com o da origem biológica.
Afirmam e confirmam aqueles meus referidos amigos a circunstância de ser absolutamente infinitesimal o número de casais homossexuais que legalizaram a sua união através do casamento, facto bem demonstrativo, afinal, de como era muito residual a necessidade de que se reclamaram os seus promotores. Contudo, para que fique muito claro, o que o que eu penso e quero, tanto para os casais homossexuais como para os heterossexuais é que sejam todos, todos muito felizes.
Mas, além destes sinceros votos, impõe-se-me pensar, repito, tão somente, no superior interesse da criança. E, assim sendo, porque:
1.sei haver muitos médicos psiquiatras, pedopsiquiatras, pediatras, psicólogos, sociólogos, técnicos de várias especialidades que continuam mantendo dúvidas sobre a adopção de crianças por casais homossexuais; e 2. que mais vale prevenir do que remediar, julgo avisado não avançar com qualquer legislação, aparentemente «muito progressista», que possa fazer perigar os interesses dos garotos que, até generosamente, não duvido, pretenderia proteger.
E, a pensar nas boas horas em que embalei as minhas filhas e netos ao som deste tema, e sempre a pensar no bem estar de todas as crianças, eis o imortal Wiegenlied de Brahms pela voz extraordinária de Elisabeth Grümmer.
Boa audição!
http://youtu.be/6oBIJTnqXMg
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