A Senhora Presidente
Dilma Rousseff em Portugal no 10 de Junho. Primeiramente, o seu enfático desejo de ser tratada por presidenta. Bem sei que o competentíssimo e prestigiado Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa regista o barbarismo. Contudo, ao fazê-lo, apenas se limita a confirmar o uso habitual, tal não significando admissão da incorrecta forma, que tresanda a feminismo de pacotilha, aliás, pressurosamente empregado* pela Ministra da Cultura do Brasil, que faz parte da sua comitiva.
Em segundo lugar, a repetida intenção de ajudar Portugal. Não sei se o mesmo acontece convosco mas eu começo a estar um bocado farto destas declarações de amor. É que, se não estou em erro, esta senhora terá sido eleita para continuar a obra do seu antecessor, fazendo sair da miséria mais abjecta milhões de indivíduos que, naturais do país riquíssimo que é aquela potência emergente, esperam e desesperam pelo prometido salto para a condição de cidadãos.
Também, se não me engano, esta senhora terá sido eleita para lutar contra a situação de insegurança de milhões de pessoas que, no coração de famosas metrópoles, vivem em favelas dominadas por «senhores da guerra», mafiosos, patrões da droga que, enfim, começaram a ceder algum terreno depois de os seus territórios serem invadidos por carros blindados e exércitos de homens armados até aos dentes, com metralhadoras, rockets e similares.
Também me parece que esta senhora terá sido eleita para combater os grandes destruidores do maior pulmão do planeta que, impunes, se têm permitido destruir um património a caminho da impossibilidade de recuperação, com a complacência dos governos locais e federal, que lá vão rompendo umas estradas enquanto os ricos e poderosos vão corrompendo os mais vulneráveis.
Naquele imenso, riquíssimo e desafiante Brasil, depois de ajudar a resolver estes e outros instantes problemas – por exemplo, o do direito dos cidadãos à saúde que, agora, pretende enquadrar com o recurso à importação de jovens médicos portugueses, que nem sonham com o que vão encontrar no concreto terreno de um país que investe incomparavelmente menos do que o nosso em infra-estruturas de saúde – a Senhora Presidente do Brasil poderá começar a fazer declarações de ajuda ao exterior.
Nessa altura, após ter estancado a sangria dos seus concidadãos que, em desespero de causa, apanham o avião à procura de trabalho num país onde, mais ou menos, se fala e escreve a sua língua e que, por estar muito longe da classificação de «triplo A», desespera por negócios e financiamentos em condições aceitáveis, nessa altura, a Senhora Presidente do Brasil talvez possa deixar cair a máscara da sobranceria que só engana papalvos, como os actuais incompetentes governantes portugueses.
Entretanto, tem mesmo muito, muito com que se preocupar.
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*Já que me refiro a questões de correcção, gostaria de lembrar que o verbo empregar só tem mesmo um particípio passado, ou seja, empregado, usando-se sempre esta forma, quer com o auxiliar ter quer com o auxiliar ser. A forma empregue é incorrecta, talvez se justificando o seu uso por analogia com entregar, verbo que tem dois particípios, um regular entregado e um irregular entregue.
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Finalmente, deixem que lembre um momento que tão grato foi para todos nós, de um e do outro lado do Atlântico.
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