[sempre de acordo com a antiga ortografia]

terça-feira, 4 de junho de 2013


 
João XXIII,
nos cinquenta anos da morte

 
Com a proclamação do Concílio Ecuménico Vaticando II, SS o Papa João XXIII propiciou à Igreja um percurso subsequente que não pára de nos surpreender. Vivi esses dias, há meio século e, como tenho acompanhado muito de perto, sei como o contributo de Joseph Ratzinger foi determinante para o caminho feito a partir de então.

Jovem teólogo, aquele que, como Bento XVI, viria assumir a cátedra de Pedro, foi braço direito do bom Papa João. Ao contrário do que tantos observadores - tão apressados quanto ignorantes - se prestaram a considerar, Ratzinger sempre foi, é, um homem do progresso e, só como tal, poderia ter protagonizado as atitudes progressistas cujas portas ajudou a abrir, que o seu antecessor, Paulo VI, ainda mais rasgou.

Francisco, actualmente, pode fazer o trabalho que é preciso concretizar - aquele que logo anunciou mal chegou, ou seja, o de tornar a nossa uma Igreja pobre, para os pobres - porque João XXIII, Paulo VI, Bento XVI alisaram o caminho. Hoje, a mesma luta de há cinquenta anos. Sempre o mesmo católico progressista que, então, tinha necesidade de se afirmar, em oposição ao marasmo geral da Igreja portuguesa do início da década de sessenta, eis-me ao lado de Francisco, sabendo perfeitamente onde está a minha trincheira.

 
Foto: Faz hoje 50 anos que faleceu, nesta cidade de Roma, o Papa João XXIII, agora Beato, o Papa Bom e de tão feliz memória por tudo o que deu à Igreja do seu e do nosso tempo, pela missão que tão denodadamente desempenhou ao serviço da Paz e do «aggiornamento» da Igreja aos tempos modernos. Na impossibilidade de fazer mais, gostaria hoje de referir palavras já aqui antes ditas sobre o famoso «discurso da Lua» que João XXIII pronunciou na noite do dia 11 de Outubro de 1962, noite aquela em que em Roma se concluía um dos dias mais emocionantes na História da Igreja contemporânea, pois foi essa a noite do dia inaugural do Concílio Vaticano II. Sou de opinião que com o seu discurso, uma espécie de súmula de todo o seu Pontificado, poderíamos mesmo dizer, o Bom Papa João mostrou o que sempre fez como Papa, dando ao Povo de Deus a possibilidade de se sentir abraçado pelo Amor pessoal e próximo do próprio Cristo, abraço que há 50 anos atrás podia já chegar aos quatro cantos do mundo graças às recentes conquistas na tecnologia da comunicação, de entre as quais sobressai, naturalmente, a televisão. Penso ainda que a graça de poder escutar um Papa pronunciar palavras tão coincidentes, ou tão próximas às que seriam as palavras do próprio Cristo, príncipe da ternura e da misericórdia, é um dom que ainda hoje nos diz respeito, sobretudo porque neste dia 3 de Junho recordamos a morte beata do Bom Papa João. No seu original italiano, as palavras finais do Discurso da Lua do Papa João XXIII, pronunciadas como já dito no dia 11 de Outubro de 1962, foram as seguintes: « Se domandassi, se potessi chiedere ora a ciascuno: voi da che parte venite? I figli di Roma, che sono qui specialmente rappresentati, risponderebbero: ah, noi siamo i figli più vicini, e voi siete il nostro vescovo. Ebbene, figlioli di Roma, voi sentite veramente di rappresentare la ‘Roma caput mundi’, la capitale del mondo, così come per disegno della Provvidenza è stata chiamata ad essere attraverso i secoli. La mia persona conta niente: è un fratello che parla a voi, un fratello divenuto padre per volontà di Nostro Signore… Continuiamo dunque a volerci bene, a volerci bene così; guardandoci così nell’incontro: cogliere quello che ci unisce, lasciar da parte, se c’è, qualche cosa che ci può tenere un po’ in difficoltà… Tornando a casa, troverete i bambini. Date loro una carezza e dite: “Questa è la carezza del Papa”. Troverete forse qualche lacrima da asciugare. Abbiate per chi soffre una parola di conforto. Sappiano gli afflitti che il Papa è con i suoi figli specie nelle ore della mestizia e dell’amarezza… E poi tutti insieme ci animiamo: cantando, sospirando, piangendo, ma sempre pieni di fiducia nel Cristo che ci aiuta e che ci ascolta, continuiamo a riprendere il nostro cammino. Addio, figlioli. Alla benedizione aggiungo l’augurio della buona notte”. E o meu sublinhado continua o de sempre, ou seja, aquele que julgo ser de colocar sob as palavras em que o Bom Papa João singelamente «ordena» aos seus ouvintes que acariciem as crianças, que tenham gestos de ternura e de conforto para com as pessoas que sofrem, especialmente por quantos pudessem naquele «hoje» ter razões para chorar. Ora uma tal «ordem», ainda agora, não pode senão ser cumprida, pois elas foram e são palavras de Cristo, como de Cristo são as palavras que, nos seus mais diferentes graus e níveis, pronunciam, em cada tempo, os Vigários que o próprio Cristo, pela acção do Espírito Santo, oferece à Igreja e, por ela, ao mundo todo, em cada época e em cada idade, como agora com o Papa Francisco, também ele um Papa da Paz e da Ternura, da Misericórdia e do Amor mais compassivo. Possa o Beato João XXIII assistir cada um/a de nós, mas especialmente ao seu actual sucessor no ministério Petrino, a levar por diante a Missão de sermos, cada um/a a seu modo e de acordo com as respectivas circunstâncias, a missão de difundir no mundo a marca indelével, mas fundamental, do Perdão, da Reconciliação, e da Paz.

 
 
 

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