[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sexta-feira, 4 de outubro de 2013



Hoje,
dia de lágrimas


Consternado, perante o horror da morte de 111 emigrantes clandestinos, em consequência do naufrágio de um barco que demandava Lampedusa, o Papa Francisco diz que hoje é dia de lágrimas. É, de facto, dia de grande dor, de mais um episódio que evidencia muita contradição, uma aflitiva e compósita «síndrome» de esperança de quem procura, numa Europa tão fragilizada, o lugar geométrico de uma felicidade mitificada.

Assumido vigário da causa dos pobres, o Papa está de visita a Assis, quando se comemora 787 anos da morte de São Francisco - 5 de julho de 1182/ 3 de outubro de 1226 - o santo que lhe inspira o pontificado, aquela fantástica luz que brilhou sobre o mundo, no dizer de Dante. Está a ser um dia memorável, de encontros vários.

Mais a propósito, também não podia ter sido o seu contacto com jovens deficientes, perante quem são emocionadíssimas as suas manifestações de ternura, de pai afectuoso, cheio de amor e preocupado. É com esta atitude cordial, portanto, do coração, atitude de acolhimento e de maravilha diante desta outra expressão do Cristo, que Francisco chama a atenção para estas pessoas que só podem e nos devem merecer todo o cuidado.

Mas deixem que sublinhe aquele ‘a propósito’, com enorme e natural desgosto. Porque, entre nós, precisamente hoje, estamos assistindo a um dos maiores ataques ao modelo da dita ‘escola inclusa’, no qual o Estado Português afirma enquadrar-se, como solução para o ensino e aprendizagem das crianças com necessidades educativas especiais. Claro que se trata de abjecta mentira que urge desmascarar com todas as letras.

O Ministério da Educação está a protagonizar as maiores velhacarias contra os direitos dos mais fragilizados dos seus cidadãos, no momento em que mais necessário é investir na sua educação, negando-lhes a assistência educativa e educacional que os impostos que pagamos deviam estar honrando, sem qualquer margem para equívocos. Fá-lo este governo sem alma, inculto, mal informado, sem sentido de Estado, esquecendo que é toda a Escola, todo o Sistema Educativo e o país que lucram - lucro, sim, sei acerca do que escrevo! - com a inserção de tais crianças e jovens nas classes ‘normais’.

Hoje, como europeus e como portugueses, temos bastas razões para nos unirmos ao Papa, nas suas mais íntimas e expressivas intenções, para nos juntarmos às suas orações, com ele comungando as preocupações de um dia de lágrimas que nos enobrecem e dignificam, dispostos que estamos a não ficar por aqui e a lutar como pudermos e soubermos para alterar este estado de coisas.
 
 

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