[Salzburg, 01.02.2014 (3)]
Chego a casa depois do terceiro e último concerto da
Orquestra Filarmónica de Viena no âmbito da Mozartwoche 2014. O Grosses
Festspielhaus estava à cunha, mesmo a rebentar pelas costuras, portanto, cerca
de duas mil e trezentos espectadores no evento. Se a OFV é uma «marca» que atrai
melómanos de todas as latitudes – já que está cotada como uma das melhores do
mundo, várias vezes a melhor da Europa – então, com o absolutamente galáctico
Daniel Barenboim a dirigi-la, é um caso sério.
Já sabem que o programa era preenchido com as três últimas
sinfonias de Mozart, peças acerca das quais vos deixei informação geral de
divulgação que preparei quando realizei aquele trabalho durante o ano de 2012
sobre todas as sinfonias do compositor. Portanto, só falta mesmo fornecer-vos
algumas notas sobre a direção.
E faço apenas três reparos muito gerais, um acerca de cada
uma das obras. Em primeiro lugar, não percebi qual terá sido a intenção do
maestro em ter proposto uma leitura lentíssima para a primeira secção do
primeiro andamento ‘Adagio - Allegro’ da Sinfonia No. 39, em Mi Maior, KV. 543.
De tal ordem assim foi que aqueles famosos timbales omnipresentes soaram necessariamente
fúnebres. Parecendo que não, a entrada foi tão impositivamente fúnebre, repito,
que acabou por condicionar o estado de espírito para a recepção da obra.
Quanto à No. 40, em Sol menor, KV. 550, a mais estranha,
misteriosa, compósita, eclética das sinfonias de Amadé, tive a plena sensação
de que, pura e simplesmente, conhecendo à distância o perfil geral do público presente,
Barenboim decidiu não ir pelo caminho da máxima
exigência. Tal não significa que tivéssemos estado perante uma regência
incompetente. Nada disso. Longe disso.
Quanto à última da tríade, a No. 41, em Dó Maior KV. 551,
pareceu-me a que esteve mais de acordo com os cânones das leituras que,
principalmente Harnoncourt, introduziu e, de algum modo impôs. Aliás, é
exactamente por já ter assistido à interpretação destas sinfonias, em conjunto
ou isoladas, dirigidas por Nikolaus Harnoncourt, com esta mesma orquestra, que
me permito escrever a impressão precedente sobre a sinfonia em Sol menor.
É pena porque, com Barenboim, ficámos aquém do que a OFV
pode dar no impecável serviço a Mozart. Mas isso prepara-se nos ensaios. O
público, em geral, menos preparado, é que tem ideia de que o trabalho do
maestro é aquele que vê ali, no púlpito, em palco, de costas para si e de
frente para os músicos, com aqueles gestos cujo alcance também conhece mal… Mas
isso são contas de outro rosário.
Aplausos? Bem, frenéticos, imparáveis.
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