[Salzburg, 04.02.2014]
Com o concerto da noite de domingo, a cargo da Orquestra do Mozarteum de Salzburgo e de Christiane Karg, soprano, sob a direcção do maestro titular Ivor Bolton, na Grosse Saal do Mozarteum, terminou a 58ª edição da Mozartwoche. Em programa, duas Sinfonias de Muzio Clementi, números dois e quatro, e árias das óperas “Il Parnaso confuso” e “Telemaco ossia L’isola di Circe”, de Gluck e “Lucio Silla” e “Il Re pastore”, de Mozart.
De algum modo, tratou-se de uma «segunda parte» do evento concretizado no passado dia 28 de Janeiro, durante o qual, se bem se lembram, a estrutura era perfeitamente idêntica. A cantora voltou a propiciar excelentes momentos de canto, tendo tido oportunidade para bem vincar as diferenças e características de peças do barroco tardio e outras já do clássico, em especial, no que concerne à demonstração da capacidade de abordagem da coloratura que, como sabem, observa forma subtilmente diferente em cada uma daquelas épocas.
A minha opinião acerca das sinfonias de Clementi coincide com o que, acerca da sua vertente sinfonista, têm afirmado conhecidos musicólogos e estudiosos. Claro que, não sendo um compositor cuja obra sinfónica, por razões diversas de forma e conteúdo, os interessados procurem ouvir frequentemente, fez muito bem a Fundação do Mozarteum incluí-lo na programação na medida em que, contemporâneo que foi de Mozart, importante se torna dá-lo a ouvir no contexto de um festival em que se procura dar cobertura a todas as articulações possíveis.
A Orquestra do Mozarteum, tanto nesta como na anterior oportunidade de 28 de Janeiro, teve um empenho absolutamente de destacar como depositária do ‘Klang’ da mozartiana Salzburg. Honrou os seus créditos, com um impecável trabalho de preparação bem evidente em todos os naipes, à prova através de obras com algumas particularidades acústicas, em especial ao nível dos metais, solicitados a vibrantes prestações que facilmente podem incorrer num ou noutro descontrolo que, sublinho, de modo algum, se verificou.
Mais uma vez, tivemos em palco uma Christiane Karg, de modo inequívoco, dominando notáveis técnica e capacidade expressiva, soprano da nova geração que tem sido devidamente apreciada em auditórios tão exigentes como os da Ópera de Frankfurt, do festival de ópera de Glyndbourne, Wigmore Hall de Londres, Musikverein e Konzerthaus de Viena, encantando e convencendo.
Não tendo este sido um concerto excepcional, confirmou uma regra, ou seja, a da excelência da Mozartwoche, como paradigma do festival. Coerência programática, definida por coordenadas do tempo, no caso de 2014, comemorando os tricentenários dos nascimentos de Christoph Willibald Gluck e de Carl Philipp Emmanuel Bach, contemporâneos de Mozart, e centésimo quinquagésimo aniversário de Richard Strauss, uma celebração de Arvo Pärt e uma série de outros atractivos de que fui dando conta.
É um festival em que tudo se ganha por poder estar do princípio ao fim. Só assim, por exemplo, foi possível assistir à apresentação total das Sonatas para Piano de Mozart, em instrumento moderno e pianoforte, bem como à da tetralogia sinfónica de Clementi, enquadradas por óptimas palestras, conferências, mesas redondas, visionamento de filmes, etc. Mozartwoche, portanto, um lugar de permanente formação.
Nota: regressando hoje a Sintra, terei oportunidade de voltar a pedir a vossa atenção para mais alguns detalhes destes meus dias de Salzburg que, como todos os anos acontece, se transformam em fonte inesgotável de temas para partilha.
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