Sintra,
Quarteirão das Artes [II]
[Transcrição do
artigo publicado na edição de 4 de Abril de 2014 do ‘Jornal de Sintra’,
concluindo o iniciado na semana passada subordinado ao mesmo título]
Quarteirão das Artes [II]
Se bem que, o objectivo do presente
texto seja o da sistematização das opiniões que apresentei na passada semana,
não poderia perder a oportunidade de ainda me referir ao caso da Correnteza.
Tanto quanto me parece, apesar de carecer de uma atenção especial
quanto ao actual estado do lindíssimo pavimento em calçada à portuguesa,
trata-se de um espaço com características únicas onde, além das feiras, desde
já é possível promover alguma animação de rua.
Em especial, durante os fins de semana, conviria estimular,
por exemplo, o aparecimento de iniciativas
relacionadas com a prática da ginástica e de outras expressões de educação
física, devidamente programadas e com calendário compatível, animadas por
técnicos habilitados, provável e naturalmente, relacionados com entidades
sediadas no Quarteirão.
Por outro lado, este também é um lugar que, ao ar livre, se
apresenta particularmente adequado à animação com recurso às artes preformativas. Consideraria
interessante equacionar certas formas de teatro e de expressão corporal, a
mímica, a pantomima, o tradicional teatro de marionetas e algumas atitudes
circenses.
Imediatamente, porém, nas suas mais diferentes modalidades e
variados aspectos, se evidencia a prática
da música. É a oportunidade para dar lugar às bandas filarmónicas, grupos de crianças e de jovens músicos das Escolas
de Música do concelho, atitudes estas eventualmente subordinadas a determinadas
temáticas relacionadas com a época do ano ou outras, com o propósito de que
todos os envolvidos obedecessem a um programa multifacetado mas de acordo com
uma grelha comum.
Prática de exercício físico, por um lado, artes do palco e animação
musical, naquele específico espaço aberto, por outro, com recurso a palco
coberto ou coreto desmontável, são atitudes indissociáveis do enquadramento
institucional e apoio logístico autárquico, quer da União das Juntas das
Freguesias de Sintra quer da Câmara Municipal cujos serviços afectos à animação
cultural conhecem perfeitamente a situação.
Finalmente, a referência a um aspecto que, passe a
presunção, igualmente me parece da maior pertinência, ao qual já dispensei
atenção em anteriores oportunidades de escrita sobre a Correnteza. Importa e
urge que, em definitivo, a Câmara saiba
encarar este local como uma das mais espectaculares salas de visita de Sintra.
Para o efeito, estrategicamente instalada uns metros acima, a Casa Mantero dispõe
de um espaço absolutamente privilegiado.
Ali, na sua humilde e demasiado discreta expressão actual, existe
e aguarda a devida atenção, uma pequena mas potencialmente sofisticada unidade
de restauração, com aquela fascinante esplanada
panorâmica, concessionável entidades vocacionadas para a exploração de proposta
tão exigente. Não me anima qualquer propensão
materialista mas é evidente que «aquilo» tem um alto preço. E mais não
acrescento. Recuso-me aceitar tratar-se de mais um caso em que dá Deus nozes…
Abrangência da Cultura
No primeiro artigo subordinado ao título Quarteirão das Artes, partilhei convosco
um princípio cuja pertinência não carece de demonstração, nos termos do qual a
promoção de actividades culturais numa comunidade é algo que deve acontecer no
entendimento de que a Cultura não é uma
realidade isolável de um todo coerente.
Mais especificamente, se bem se lembram, o vector primordial
do texto a que me reporto e que hoje estou concluindo, apontava para um quadro
de referência em que a prática das
civilizadas atitudes culturais se
articula, inequívoca e integradamente, com realidades de outros sectores de
actividade numa desejável sintonia.
No contexto de tal perspectiva de abordagem, também se
evidencia que, por não poder ser considerada redutora e voluntariosa, a
promoção do programa implícito e constante da proposta subscrita pelos Senhores
Vereadores da Câmara Municipal de Sintra Paula Neves e Luís Patrício, há-de respeitar
a metodologia de intervenção coincidente com a preocupação aqui manifesta.
Seria conveniente
que, precisamente neste sentido, se pronunciassem os intelectuais, mulheres e
homens de Sintra afectos às Letras e às Artes, os professores, jornalistas e, em
particular, os agentes culturais que trabalham no seio das entidades referidas
pelos autores da proposta, de tal modo que assumissem a defesa e divulgação
desta perspectiva de actuação que, estou certo, não poderão deixar de
subscrever.
É nestes termos que, naturalmente, em articulação com a
proposta, se impõe a reabilitação do espaço urbano que integra o designado Quarteirão das Artes. De facto,
infelizmente, não faltam edifícios por recuperar, alguns, aliás, património
municipal. Mas a natural evidência e imposição dessa necessidade e subsequente
procedimento hão-de conduzir, não à intimação mas ao incentivo dos
proprietários à concretização das obras, através de medidas verdadeiramente
encorajadoras, desburocratizadas, dinâmicas, atentas ao interesse geral da
comunidade, enfim, atitudes cultas,
de uma administração local civilizada.
Crucial
Mais uma vez, insistirei na inquestionável pertinência dos
trabalhos a efectuar na Heliodoro
Salgado, o principal eixo de circulação de peões e de viaturas na zona da Estefânea.
Seria essa a altura ideal para a concretização do projecto de prolongamento da
linha do Eléctrico de Sintra, desde a Vila Alda até à estação terminal da CP e
Vila Velha, resolução que implicará na adopção de outras medidas
relacionadas com o acesso de residentes e comerciantes a certos pontos
críticos, encerramento de segmentos de algumas vias, o respeito escrupuloso de
um regime muito exigente de cargas e descargas, etc.
Questões de ordem estética servidas por adequadas soluções
técnicas, aplicadas com a desejável eficácia – items que foram manifestamente descurados
aquando da concretização da pedonalização da via – é o que, actualmente, será
justo esperar de um executivo autárquico que, ao aprovar por unanimidade a
proposta do designado Quarteirão das
Artes, está condenado a estas
civilizadas atitudes.Ainda integrada neste quadro de medidas, a requalificação da bolsa de estacionamento na área circundante ao edifício sede do Departamento de Urbanismo – indispensável às viaturas cujos ocupantes pretendam aceder aos eventos culturais – inseparável da reinstalação da passagem-ponte pedonal, que tanto tarda e prejuízo causa a todos quantos precisam circular a pé entre a Portela e a Estefânea.
Num pequeno parêntesis, permitir-me-ia afirmar que, nesta
concreta e crítica situação, em que toda a comunidade dos dois bairros da sede
do concelho é negativamente atectada, há demasiado tempo, está mesmo em jogo a
demonstração cabal da capacidade de intervenção dos actuais autarcas. Sabemos
que a estrutura já foi recuperada nas oficinas da Câmara pelo que resta desejar
o maior sucesso para as difíceis negociações em curso.
Também crucial para a vivência cultural das iniciativas do
Quarteirão das Artes, a instalação dos
parques periféricos de estacionamento, medida incontornável, insuportavelmente
adiada, que importa concretizar no mais curto período possível, ainda que
faseadamente, sem fazer qualquer concessão à qualidade que tal solução
pressupõe. Nada arrisco nesta que é
a minha mensagem mais recorrente, cuja inevitabilidade de materialização também
é condição sine qua non para a
melhoria da qualidade de vida no coração do município.
[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]
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