49ª edição do Festival de Sintra

[Transcrição do artigo publicado na edição do 'Jornal de Sintra' do dia 6 de Junho de 2014]

 

Já há uns bons anos, classifiquei esta iniciativa de Sintra como o seu mais sofisticado produto cultural. À partida, de facto, tinha todas as características. Primeiramente, a beleza de um património natural e edificado a confundir-se com uma paisagem única. Depois, a sorte das pessoas certas, informadas, cultas, diletantes, no mais conveniente e etimológico sentido do termo, no lugar certo, perto da capital, paredes-meias com a Riviera da Costa do Estoril e Cascais, em contraponto tão cosmopolita como igualmente distinto.

Quase cinquenta anos dos mais honrosos pergaminhos bem confirmam a razão inicial, a génese e a permanência. Muito tenho escrito sobre ele e, pois bem, a exemplo do que fiz em anteriores edições, é precisamente acerca da próxima que convosco passo a partilhar umas breves notas sobre a sua proposta programática. A Universalidade do Romantismo é o grande tema ao qual se subordinam todos os eventos que, como cenário privilegiado, terão o enquadramento dos palácios e quintas que a diversidade do inesgotável legado sintrense habitualmente propicia.

Desta vez, organizada pelos próprios Serviços Culturais da Câmara Municipal de Sintra, sob a coordenação da Diretora do Departamento de Cultura, Juventude e Desporto, Dra. Maria João Raposo, a 49ª edição também conta com a destacada colaboração de Jorge Rodrigues, conhecido homem da rádio a quem os melómanos portugueses devem milhares das melhores horas de difusão da música erudita e da cultura em geral, nos bons tempos da RDP2. Ele há-de encarregar-se, na hora, de fazer a apresentação sumária de cada evento, certamente, uma significativa mais-valia.

Entre os dias 20 de Junho e 11 de Julho, além de concertos, recitais de piano, de canto e piano e música de câmara, num total de onze eventos musicais, o Festival também contará com actividades paralelas. A programação que já é possível detalhar, é da responsabilidade de Adriano Jordão, conhecido pianista, professor, maestro e diplomata cultural que bem podemos considerar uma notável figura, não só do mundo musical stricto sensu mas também da cultura portuguesa em geral, ele que, igualmente, é o actual Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal e Director do Instituto Camões no Brasil, agora assumindo as funções normalmente atribuídas ao Director Artístico do Festival de Sintra.

Em função do espaço exigível, apenas é possível pormenorizar o conteúdo dos concertos sinfónicos. Assim, uma primeira informação que, naturalmente, não dispensa o acesso à documentação que a Câmara Municipal de Sintra disponibiliza nos locais habituais

Núcleo duro

1.Concerto OSP, Centro Cultural Olga Cadaval, 20 Junho, sexta-feira, 21h00, obras de Vianna da Motta, Sinfonia à Pátria, D. Inês de Castro, Abertura, Três Improvisos sobre motivos populares portugueses, Vito, Chula do Douro, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Álvaro Cassuto, direcção musical

2.Recital Piano, Palácio Nacional de Queluz, 21 de Junho, sábado (21h00), obras de Vianna da Motta, Sergei Rachmaninov, Richard Wagner, Robert Schumann - Teresa Palma Pereira, Piano

3.CelloStatus, Quarteto violoncelos, Quinta da Piedade, 22 Junho, domingo,16h00, obras de Giuseppe Verdi, Josef Werner, George Goltermann, Robert Schumann, Camille Saint-Saëns, Wilhelm Fitzenhagen, Richard Wagner, Frédéric Chopin, Charles Gounod Edvard Grieg, Claude Debussy, Isaac Albeniz, Luigi Forino  - Ajda Zupancic, violonceloEmídio Coutinho, violoncelo, Luís Clode, violoncelo, Tiago Ribeiro, violoncelo.

4. e 5. Grandes Românticos Europeus e ADN Europeu na Música Romântica Brasileira, Quinta do Ramalhão, 25 de Junho, 4ª feira, 21h00, obras de Franz Liszt, Alberto Nepomuceno, Robert Schumann - Aleyson Scopel, Piano / 26 de Junho (5ª feira) 21h00, obras de Henrique Oswald, Robert Schumann, Franz Liszt - Daniel Burlet, Piano

6.Recital Piano a 6 mãos, Hotel Quinta da Penha Longa, Jardim do Núncio, 29 Junho, domingo, 16h00, obras de  Reynaldo Hahn, Ferrucio Busoni, César Franck, Charles Marie Widor, Vianna da Motta, Carl Czerny, Sergei Rachmaninov, Franz Schubert, Niccolò Paganini, John Philip de Sousa - Joana David, piano, Nuno Lopes, piano e harmónio, João Paulo Santos, piano.

7. e 8. Concertos Maratona Rachmaninov, Centro Cultural Olga Cadaval, 2 de Julho, 4ª feira, 21h00 - Concerto nº1 Artur Pizarro, piano;  Concerto nº4 Daniel Burlet, piano; Variações sobre um tema de Paganini - Aleyson Scopel, piano; Orquestra do Norte, José Ferreira Lobo, direcção musical / 3 de Julho, 5ª feira, 21h00 - Concerto nº 2, António Cebola, piano; Concerto nº3 - Alexey Sychev, piano, Orquestra do NorteJosé Ferreira Lobo, direcção musical.

9.Recital Piano e Violino, Programa Luso-brasileiro, Quinta da Piedade, 6 Julho, domingo, 16h00, obras de Fernando Lopes Graça, Luís de Freitas Branco e Heitor Villa-Lobos - Bruno Monteiro, violino, João Paulo Santos, piano.

10.Concerto OSP, Centro Cultural Olga Cadaval, 9 de Julho, 4ª feira, 21h00, obras de  Piotr Tchaikovsky - Concerto para violino em Ré M op.35 e de Nikolai Rimsky-Korsakov - Scheherazade, op.35, Orquestra Sinfónica Portuguesa, Ilya Grubert, violino, Emil Tabakov, direcção musical.

11.Recital Canto e Piano, noite em St. Petersburg, Palácio de Queluz, 11 de Julho, 6ª feira, 21h00, obras de Piotr Tchaikovsky e Sergei Rachmaninov, Elisabete Matos, soprano, Sergei Leiferkus, barítono, Artur Pizarro, piano.

Paralelo

Muita atenção para o facto de esta edição se iniciar em 19 de junho – 19h00 / MUSA, com uma  Mesa Redonda em que intervirão Jorge Rodrigues (moderador), Professora Myrian Dauelsberg, Professor Adriano Jordão e Embaixador Francisco Seixas da Costa. Também muito interessante outra circunstância: em 25 e 26 de Junho o Festival articula com o II Colóquio Raul Lino – Casa dos Penedos. Logo no dia seguinte, 27 de junho – 18h00 / MUSA – Conferência “Sintra e o Romantismo: uma peregrinação épica” pela Dra. Teresa Caetano.

A partir dos elementos de que disponho, está igualmente prevista a projecção do filme, “Vianna da Motta, cenas portuguesas”, de José Barahona, com a duração de 47 minutos, na esplanada do MUSA, no dia 27 de junho, pelas 22h00. Se as condições meteorológicas não o permitirem tudo se transfere para o Auditório Acácio Barreiros do Centro Cultural Olga Cadaval.

Parabéns! Como puderam verificar, o programa é excelente, anima-o grande coerência, apresenta peças de compositores das várias épocas do período romântico, concentra um estupendo grupo de artistas, acontece nos melhores locais. Que formidável ramalhete de vantagens! Auguro o maior sucesso, desde que a divulgação seja a mais conveniente e adequada, ao contrário do que vinha acontecendo nos últimos anos em que a excelência das propostas era traída pela deficiente promoção.

 

[João Cachado escreve de acordo com a antiga ortografia]