[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Um filho morto


[Deixa que me socorra do poeta para dizer como estou aí, contigo. Deixa que, através do poema, eu lembre que "(...) todos nós embalamos ao colo um filho morto (...)"]
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Na sombra Cleópatra jaz morta.
Chove.

Embandeiraram o barco de maneira errada.
Chove sempre.
...

Para que olhas tu a cidade longínqua?
Tua alma é a cidade longínqua.
Chove friamente.

E quanto à mãe que embala ao colo um filho morto —
Todos nós embalamos ao colo um filho morto.
Chove, chove.

O sorriso triste que sobra a teus lábios cansados,
Vejo-o no gesto com que os teus dedos não deixam os teus anéis.
Porque é que chove?

[Fernando Pessoa (ortónimo)]
 
 

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