2 de Novembro,
a propósito do Dies Irae
[Por ser hoje o Dia de Fiéis Defuntos, resolvi tornar a propor um texto escrito em Salzburg e, no mesmo dia 29 de Janeiro de 2013]
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Na cripta da Catedral de de Salzburg
“(…) Mors stupebit et natura,
cum resurget creatura,
judicanti responsura.
Recordare, Jesu pie,
quod sum causa tuæ viæ:
ne me perdas illa die. (…)”
Catedral de Salzburg. Quantas e quantas vezes, ao longo de tantos anos, tenho descido a esta cripta, durante uns momentos, para me recolher na capela circular, muito pequena, em cuja parede, junto ao tecto, e a toda a volta, estão gravadas aquelas que são algumas das mais impressivas palavras do ‘Dies irae’ que bem deviam estar presentes no espírito de todos os crentes cristãos!...
De facto, está no subsolo do grande templo que a aparente (ou manifesta?...) megalomania do Príncipe Arcebispo Wolf Dietrich pretendia fosse maior do que São Pedro de Roma. Na realidade, embora ocupando um espaço físico e concreto, nos momentos em que ali estou, a capela da cripta deixa de ser um lugar na cidade e da cidade, tornando-se espaço sem amarras, sem coordenadas concretas.
Mors stupebit et natura,
cum resurget creatura,
judicanti responsura.
Recordare, Jesu pie,
quod sum causa tuæ viæ:
ne me perdas illa die.
Para ler estas palavras, a toda a volta da capela, sou obrigado a rodar, a assumir o eixo do movimento helicoidal que daqui me liberta de quaisquer referências. Deixo, por agora, a sempre difícil tarefa do registo escrito dos momentos em que a Fé manda mais que tudo, e volto ao ‘Dies Irae’.
Na maior parte dos casos – e, nesses especiais momentos, articulando com alguns dos temas musicais mais célebres e belos - aquela mensagem só evidencia todo o esplendor escatológico, quando ouvida e entendida como suporte textual do Requiem, Missa dos Mortos, por exemplo, de Mozart ou de Verdi, para não referir outros igualmente belíssimos, como os de Fauré, Britten ou Penderecki.
Ontem mesmo aqui se celebrou o nascimento de Mozart. Eu lembrei a morte de Verdi. Nascimento e morte, tanto dos génios, como foram aqueles compositores, como de nós, cristãos, homens comuns que somos, constituem apenas os primeiro e segundo termos ou momentos de uma tríade que continua noutra plataforma de vida. Aliás, é neste preciso sentido que só podemos concordar com Amadé, católico e maçon, quando, extremamente inspirado, em carta dirigida ao pai, Leopold Mozart, qualificou “(…) a Morte como a nossa melhor amiga (…)”.
Muita gente se espanta com o clima de exuberante esperança da Missa de Requiem de Mozart. Para já, importa não esquecer tratar-se de uma Missa. É uma Missa, escrita por um genial compositor católico que, no fim de vida breve, acolhe a Morte, precisamente, como a melhor amiga que lhe abria a porta da Eternidade. Tal como ele, católico e maçon, tenho o privilégio de crer profundamente nesta verdade, privilégio que se conjuga com a frequência da Arte, Arte que tão próxima está do divino.
Naturalmente, universal como é, o objecto de Arte, não carece do atributo da Fé para que qualquer mortal aceda à sua essência. No entanto, no caso da Música Sacra, composta por sinceros, veementes e grandes crentes, como foram Mozart, Bach, ou Poulenc, julgo que uma sintonia outra acontecerá quando os destinatários das obras, os ouvintes, também estiverem animados pela mesma Fé que presidiu à concepção da peça.
É evidente que só poderia terminar de uma maneira, ou seja, propor-vos a audição do momento do ‘Dies irae’ do Requiem de Mozart composto a partir das duas primeiras estrofes do texto latino, a seguir apresentadas, enquanto que as transcritas na capela da cripta da catedral de Salzburg se referem às quarta e nona.
1
Dies iræ! dies illa
Solvet sæclum in favilla
Teste David cum Sibylla!
2
Quantus tremor est futurus,
quando judex est venturus,
cuncta stricte discussurus!
Trata-se de uma gravação ao vivo, na catedral de Sto. Estêvão, em Viena, no dia 15 de Setembro de 1991, por ocasião do 200º aniversário da morte de Mozart, Orquestra Filarmónica de Viena dirigida pelo saudoso Sir Georg Solti, Coro da Ópera Estatal de Viena e solistas Arleen Auger, Cecilia Bartoli, Vinson Cole e René Pape.
[Seguem duas gravações, a primeira só do ‘Dies irae’ e a segunda da obra completa mas numa leitura de Karl Böhm.]
Boa audição!
http://youtu.be/qZTd9jXQLMU
http://youtu.be/-1DsJ5YQr5s
a propósito do Dies Irae
[Por ser hoje o Dia de Fiéis Defuntos, resolvi tornar a propor um texto escrito em Salzburg e, no mesmo dia 29 de Janeiro de 2013]
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Na cripta da Catedral de de Salzburg
“(…) Mors stupebit et natura,
cum resurget creatura,
judicanti responsura.
Recordare, Jesu pie,
quod sum causa tuæ viæ:
ne me perdas illa die. (…)”
Catedral de Salzburg. Quantas e quantas vezes, ao longo de tantos anos, tenho descido a esta cripta, durante uns momentos, para me recolher na capela circular, muito pequena, em cuja parede, junto ao tecto, e a toda a volta, estão gravadas aquelas que são algumas das mais impressivas palavras do ‘Dies irae’ que bem deviam estar presentes no espírito de todos os crentes cristãos!...
De facto, está no subsolo do grande templo que a aparente (ou manifesta?...) megalomania do Príncipe Arcebispo Wolf Dietrich pretendia fosse maior do que São Pedro de Roma. Na realidade, embora ocupando um espaço físico e concreto, nos momentos em que ali estou, a capela da cripta deixa de ser um lugar na cidade e da cidade, tornando-se espaço sem amarras, sem coordenadas concretas.
Mors stupebit et natura,
cum resurget creatura,
judicanti responsura.
Recordare, Jesu pie,
quod sum causa tuæ viæ:
ne me perdas illa die.
Para ler estas palavras, a toda a volta da capela, sou obrigado a rodar, a assumir o eixo do movimento helicoidal que daqui me liberta de quaisquer referências. Deixo, por agora, a sempre difícil tarefa do registo escrito dos momentos em que a Fé manda mais que tudo, e volto ao ‘Dies Irae’.
Na maior parte dos casos – e, nesses especiais momentos, articulando com alguns dos temas musicais mais célebres e belos - aquela mensagem só evidencia todo o esplendor escatológico, quando ouvida e entendida como suporte textual do Requiem, Missa dos Mortos, por exemplo, de Mozart ou de Verdi, para não referir outros igualmente belíssimos, como os de Fauré, Britten ou Penderecki.
Ontem mesmo aqui se celebrou o nascimento de Mozart. Eu lembrei a morte de Verdi. Nascimento e morte, tanto dos génios, como foram aqueles compositores, como de nós, cristãos, homens comuns que somos, constituem apenas os primeiro e segundo termos ou momentos de uma tríade que continua noutra plataforma de vida. Aliás, é neste preciso sentido que só podemos concordar com Amadé, católico e maçon, quando, extremamente inspirado, em carta dirigida ao pai, Leopold Mozart, qualificou “(…) a Morte como a nossa melhor amiga (…)”.
Muita gente se espanta com o clima de exuberante esperança da Missa de Requiem de Mozart. Para já, importa não esquecer tratar-se de uma Missa. É uma Missa, escrita por um genial compositor católico que, no fim de vida breve, acolhe a Morte, precisamente, como a melhor amiga que lhe abria a porta da Eternidade. Tal como ele, católico e maçon, tenho o privilégio de crer profundamente nesta verdade, privilégio que se conjuga com a frequência da Arte, Arte que tão próxima está do divino.
Naturalmente, universal como é, o objecto de Arte, não carece do atributo da Fé para que qualquer mortal aceda à sua essência. No entanto, no caso da Música Sacra, composta por sinceros, veementes e grandes crentes, como foram Mozart, Bach, ou Poulenc, julgo que uma sintonia outra acontecerá quando os destinatários das obras, os ouvintes, também estiverem animados pela mesma Fé que presidiu à concepção da peça.
É evidente que só poderia terminar de uma maneira, ou seja, propor-vos a audição do momento do ‘Dies irae’ do Requiem de Mozart composto a partir das duas primeiras estrofes do texto latino, a seguir apresentadas, enquanto que as transcritas na capela da cripta da catedral de Salzburg se referem às quarta e nona.
1
Dies iræ! dies illa
Solvet sæclum in favilla
Teste David cum Sibylla!
2
Quantus tremor est futurus,
quando judex est venturus,
cuncta stricte discussurus!
Trata-se de uma gravação ao vivo, na catedral de Sto. Estêvão, em Viena, no dia 15 de Setembro de 1991, por ocasião do 200º aniversário da morte de Mozart, Orquestra Filarmónica de Viena dirigida pelo saudoso Sir Georg Solti, Coro da Ópera Estatal de Viena e solistas Arleen Auger, Cecilia Bartoli, Vinson Cole e René Pape.
[Seguem duas gravações, a primeira só do ‘Dies irae’ e a segunda da obra completa mas numa leitura de Karl Böhm.]
Boa audição!
http://youtu.be/qZTd9jXQLMU
http://youtu.be/-1DsJ5YQr5s
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