[sempre de acordo com a antiga ortografia]

domingo, 16 de novembro de 2014



Coro Gulbenkian,
jubileu


[facebook, 08.11.2014]

Ontem, segundo dos concertos de comemoração do cinquentenário do Coro Gulbenkian. Estive com amigos que, tal como eu, se lembram perfeitamente dos primeiros tempos em que o agrupamento vocal era dirigido pela Olga Violante e da sua apresentação, em São Vicente de Fora, em 1964, na Paixão segundo São Mateus de Telemann,

Desde o início e até à actualidade tive sempre bons amigos entre os coralistas e, durante o mais alargado período, a querida Teresa Ferreira de Almeida que, vejam lá, era minha quase vizinha, colega no Liceu D. João de Castro a partir de 1963 e na Faculdade de Letras, depois de 65. Já há bastantes anos, até lá tenho familiares.

Ontem foi tarde de memórias «gulbenkianianas» longínquas, do tempo em que, nem sequer havia o edifício da sede que, aliás, só foi inaugurado em 1969, tempo em que o bailado se apresentava no Politeama... A verdade é que os Festivais Gulbenkian aconteciam desde o fim dos anos cinquenta e eu lembro-me perfeitamente de acompanhar o meu pai nalguns célebres concertos.
Pois é, há tantos como cinquenta anos, com Ana Maria, então namorada e depois minha mulher, A Maria Adelaide Garcia Pereira e Manuel Maria Andrade Maia, um «casal» de amigos e queridos colegas, depois famosos arqueólogos, saíamos da Faculdade e lá íamos em demanda das actividades disponíveis da Gulbenkian.

Que casa esta, meu Deus! Não me canso de afirmar que não seria quem sou e como sou se a Gulbenkian não ocupasse lugar tão decisivo na minha vida. Como melómano, tenho acompanhado, cresci e envelheci à medida que o Coro Gulbenkian, tal como a Orquestra Gulbenkian, de iniciais formações de câmara se transformaram nos agrupamentos que todos conhecem.

O que lhes devo não tem preço. A partilha da Música, na dimensão que assumiu em minha casa, teve ontem uma expressão simbólica que a peça de Eurico Carrapatoso contemplou de modo ímpar. Na realidade, a grande peça em evidência no programa do concerto foi "Pequeno Poemário de Pessanha", obra encomendada pela Fundação para estas comemorações do jubileu.

Um espanto! Cito palavras do compositor: " (...) Foi-me atenciosamente disponibilizado 'orgânico coral-sinfónico que bem entendesse. Optei, a cappella', na pureza das quatro linhas vocais, matriz inicial e límpida da música que mais amo (...)". O resultado, absolutamente notável, é o de uma peça que, em termos musicais, corresponde, precisamente, aos termos do universo semântico que EC utiliza nas linhas supra.

Esperei que saíssem para os saudar. O Aníbal Coutinho, chefe de naipe dos tenores, é que aguentou com toda a carga emotiva acumulada. Nos seus olhos, ainda de sublime encantamento, a tal pureza, a subida limpidez que ali partilhámos. Um grande músico este meu sobrinho, que também já é um dos «móveis da casa»...

O "Requiem", KV 626 de Mozart e 'The King shall rejoice' e 'Allelujah' do "Messias" de Händel, também faziam parte do programa. Quanto à obra de Amadé, farei minhas as palavras do Prof. José Luís de Moura, que lá esteve na véspera. Mas faço a justiça de não comparar com incríveis momentos musicais da minha experiência de ouvinte, ao vivo, de interpretações paradigmáticas desta obra, por exemplo, dirigidas por Abbado ou Karajann. Ao vivo, repito.

Mas não vos deixarei sem a grande obra que não poderia ser mais adequada à efeméride. De Telemann (1681-1767), a "Paixão segundo São Mateus". São intérpretes:

Theo Altmeyer, tenor
Horst Günter, baritono
Sena Jurinac, soprano
Franz Crass,baixo

Coro: Luzerner Festwochenchor,
Orquestra: Schweizerisches Festspielorchester, sob direcção de Kurt Redel, 1965

http://youtu.be/y89R2feZYuU - Part Ihttp://youtu.be/DnG4G1pg1Ak - Part II

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