[sempre de acordo com a antiga ortografia]

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Dia 9 de Outubro
- Tempo I
 
[publicado no facebook em 11.10.2015]
 
 
A minha passada Sexta-feira foi muito rica em termos das viagens musicais que me proporcionou. Se bem se lembram, tal como havia anunciado, num primeiro tempo, durante o fim de tarde e princípio da noite, na Gulbenkian, comecei com a estreia mundial de uma peça, 'Resatart', que a Fundação encomendou a Nuno da Rocha, continuei com 'Rapsódia sobre um tema de Paganini', op. 43 de Sergei Rachmaninov, para terminar com 'Sagração da Primavera' de Igor Stravinsky.
 
Gostei muito de 'Restart'. Anunciada pelo próprio compositor como "(...) um pequeno Coral de Bach numa tela de Francis Bacon (...), algo 'anarca', a verdade é que acedi à peça entendendo-lhe a estrutura do princípio ao fim.
 
Vinte minutos de uma proposta cheia de força, de vigor juvenil, com uma orquestração madura, cheia de 'oficina', explorando muito adequadamente as particularidades dos naipes em função dos objectivos, obra muito a propósito de um 'reiniciar' de Temporada.
 
Enfim, julgo que outro chefe de orquestra saberá extrair de 'Restart' o que Joana Carneiro nao foi capaz. Percebe-se que havia ali um 'pano para mangas' que a maestrina não soube aproveitar. Foi pena. Há ali, de facto, muito bom material.
 
Seguiu-se Conrad Tao, natural do estado de Illinois mas de origem chinesa, jovem pianista e compositor de vinte anos, considerado o mais promissor dos pianistas americanos da nova geração. Sem a menor dúvida, o rapaz tem uma técnica irrepreensível, um impressionante domínio do teclado, um talento inebriante capaz de explorar todos os matizes tímbricos de cada nota extraída do Steinway.
 
Mas, perceberão se lhes disser que ali faltou alma? As notas certíssimas, um respeito claríssimo do pentagrama mas... Aquela 'Rapsódia', meu Deus, está cheia de sofisticadíssimos truques, alguns dos quais só a muita experiência, de artista, e experiência da vida, permitirão a Conrad Tao 'lá' chegar, talvez, daqui a mais uns anos.
 
Finalmente, a obra de Stavinsky. O máximo que poderei testemunhar é que estava tudo mais ou menos certo. Discordei da opção dos 'tempi', na Primeira Parte, em especial devido a aceleração do ritmo no 'Cortejo do Sábio' e, pelo contrário, alguma lentidão em 'Dança da Terra'. Quanto à Segunda Parte, não quero pronunciar-me porque, tendo de sair antes de terminar o concerto, devido à deslocação para Queluz, não faria a injustiça de avaliar sem ter a noção do conjunto.
 
Estarei na posse de elementos bastantes para que, ao fim de uns anos, possa afirmar que Joana Carneiro, maestrina convidada da Orquestra Gulbenkian, ainda não soube transmitir-me em que consiste a sua diferença. E, quando um director de um grupo com aquelas características, nao sabe pedir aos músicos aquilo que eles lá estão para dar e sabem como dar, então é preciso 'partir para outra'...
 
 

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