[sempre de acordo com a antiga ortografia]

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015



8 de Dezembro
Dia de Nossa Senhora da Conceição,
Dia da Imaculada Conceição
Dia da Mãe


[publicado no facebook em 8.12.2015]

Tenho uma memória muito bonita do dia 8 de Dezembro, em que o feriado coincidia com o Dia da Mãe. Festa grande, um dos mais estupendos almoços em todas as casas dos crentes católicos, era dia em que as mães, avós, tias, madrinhas, eram especialmente saudadas, acarinhadas, mimadas, por filhos, netos, sobrinhos e afilhados, uma grande festa da Mulher e um prenúncio de Natal que fazia todo o sentido.

Hoje, quando a maioria dos homens e das mulheres da minha idade, já não têm a mãe presente, o dia só não tem as marcas mais negativas que, em princípio, uma ausência tão significativa ditaria, porque acreditamos estarmos todos a caminho de um encontro certo, que o tempo terreno se encarregará de garantir, e, nessa derradeira etapa, abrindo para uma dimensão outra de privilégio absoluto.

Ainda a propósito, importa considerar que o dia 8 de Dezembro é marcado por duas celebrações cristãs de significados distintos, porventura quase antagónicos, que se confundem devido à semelhança das designações. A evocação popular, tradicional, celebra a Nossa Senhora da Conceição (ou Concepção), isto é, celebra o arquétipo da Maternidade. Até há poucos anos, era nesta data, e não no primeiro domingo de Maio, que se celebrava o Dia da Mãe.

O conceito teológico oficial é o do dogma da Imaculada Conceição de Maria, definido pelo papa Pio IX em 1854 e, nada tendo a ver com o conceito popular, afirma que Maria, mãe de Jesus, foi imune de toda a mancha do pecado original, desde o primeiro momento da sua concepção. Esta ideia começou a surgir no século XII, tendo causado intensa polémica e sido rejeitada por importantes teólogos, incluindo São Bernardo e São Tomás de Aquino, e condenada pelo Papa Bento XIV em 1677, até ter sido aceite como dogma em 1854.

A instituição da ordem militar de Nossa Senhora da Conceição por D. João VI (*) de Portugal, que, alegadamente, sintetizaria um culto que, no nosso país, existiu muito antes de ser dogma, pelo menos na sua designação, remete para o conceito popular, não para o conceito teológico afirmado pelo dogma. De igual forma, as freguesias portuguesas anteriormente listadas adoptaram a designação "Nossa Senhora da Conceição" ou "Conceição", mas não "Imaculada Conceição"...

A propósito deste dia grande da Igreja e recordando ainda que o Papa Francisco tem o seu pontificado consagrado a Santa Maria, gostaria de partilhar convosco o "Magnificat", BWV 243, de JS Bach, numa estupenda leitura de Ton Koopmann, que passo a propor, juntamente com o texto que, convém recordar, é um excerto do Evangelho segundo S. Lucas.

Magnificat anima mea Dominum
Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Quia respexit humilitatem ancillæ suæ: ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.
Quia fecit mihi magna qui potens est, et sanctum nomen eius.
Et misericordia eius a progenie in progenies timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo, dispersit superbos mente cordis sui. Deposuit potentes de sede et exaltavit humiles
Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes,
Suscepit Israel puerum suum recordatus misericordiæ suæ,
Sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini eius in sæcula.
Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto
Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum.
Amen.


Interpretação a cargo dos solistas Usa Larsson, soprano I, Elisabeth von Magnus, soprano II, Bogna Bartosz, contralto, Gerd Türk, tenor, Klaus Mertens, barítono, bem como The Amsterdam Baroque Orchestra & Choir, já sabem, sob a direção de Ton Koopman.

Boa audição!
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(*) A instituição data dos primeiros anos do século dezanove.É mesmo João VI e não João IV, como algumas vezes se vê confundir em relação à coroação de Nossa Senhora como rainha de Portugal, evento este, sim, da responsabilidade do 'Restaurador', cerca de duzentos anos antes.

 
 
 
 

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