[sempre de acordo com a antiga ortografia]

sábado, 9 de janeiro de 2016




Helder Moura Pereira


[publicado no facebook em 07.01.2016]

É hoje o aniversário do poeta. Querido amigo, colega de anos e anos, cúmplice da comum loucura da «animação e fomento da leitura» que, como técnicos do Ministério da Educação, nos levou a «manicómios» de tantos formandos, por todo o país... Ao fim e ao cabo, tudo pela partilha da palavra, que pode ser Arte, tal como sucede nestes dois registos.
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Por um Rosto Chego ao Teu Rosto

Por um rosto chego ao teu rosto,
noutro corpo sei o teu corpo.
Num autocarro, num café me pergunto
porque não falam o que vai
no seu silêncio aqueles cujo olhar
me fala da solidão.
Esqueço-me de mim. Tão quieto
pensando na sua pouca coragem, a minha
sempre adiada. Por um rosto
chegaria o teu rosto, mesmo de um convite
ousado fugiria, esta mão conhece-te
e desenha no ar o hábito
por que andou antes de saíres
do espaço à sua volta. Estás longe,
só assim podes pedir algumas horas
aos meus dias. Sem fixar a voz
a tua voz é uma corda, a minha
um fio a partir-se.


[in “De Novo as Sombras e as Calmas”]
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Gosto da Tua Boca

Gosto da tua boca quando sabe
a chocolate, a vinho tinto de Portalegre,
a mar (é sempre a mesma coisa, tem
de aparecer sempre o mar), pensando
bem gosto da tua boca sempre.

Às vezes a tua boca ri e nada sabe,
ri porque prevê a hora certa da minha alegria.
Também eu mergulho no mar, porém
logo secos ficam meus cabelos quando
me lembro que hoje é outra vez dia de S. Nunca.


[in 'A Tua Casa Não Me é Estranha' ]
 



 

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